Pesquisa ajudará a evitar surtos da doença de Chagas
A doença de Chagas é considerada silenciosa e tem sintomas semelhantes aos da malária. Por conta disso, a pessoa doente só descobre que foi infectada por acaso, o que impossibilita determinar como ocorreu o contágio. A consequência é a falta de dados sobre os índices e formas de contaminação em Manaus, como explicou a pesquisadora Maria das Graças Vale Barbosa, da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM).
Barbosa estuda a dinâmica de transmissão da doença causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, que tem o barbeiro como hospedeiro. Após pesquisas em Coari e Tefé, os trabalhos serão concentrados no ramal do Pau-Rosa (km 21 da BR-174) e no Tarumã. Ela disse que o objetivo é evitar surtos da doença no local. “Os dados coletados servirão para detectar como o ciclo de transmissão ocorre na região amazônica e como as autoridades competentes podem utilizar tais informações na construção de campanhas de conscientização e prevenção”, salientou.
De acordo com ela, o levantamento faz parte do projeto submetido ao edital do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde no Amazonas (PPSUS–AM) realizado em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Há três anos desenvolvendo estudos referentes à transmissão da doença, a pesquisadora informou que o interesse pelo levantamento no ramal do Pau-Rosa e no Tarumã se justifica porque, normalmente, as pessoas infectadas não manifestam os sintomas. Barbosa citou como exemplo as coletas feitas nos municípios de Coari e Tefé, onde foram detectadas 15 pessoas nessa situação.
Segundo a pesquisadora, no início da primeira quinzena de janeiro, foi registrado um surto da doença no município de Santa Isabel do Rio Negro (distante 630 km de Manaus). O caso levou as instituições sanitárias do Estado a redobrar a atenção para as possíveis causas de transmissão. “Na época, 12 pessoas foram infectadas após ingerir açaí contaminado pelo barbeiro”, lamentou.
Formas de contaminação
A contaminação no açaí ocorre quando o barbeiro deposita as fezes sobre a fruta ou quando, acidentalmente, o inseto é moído no momento de tirar a polpa da semente. “Os casos costumam acontecer quando a produção é artesanal, como em Santa Isabel”, frisou Barbosa, acrescentando que a situação pode ocorrer com outros tipos de palmeiras, como as de abacaba e buriti, além dos alimentos consumidos crus.
Na Amazônia, o maior problema da contaminação pelo barbeiro é que o vetor (agente transmissor da doença) não tem domicílio, ou seja, a colônia (ovo, ninfa e o adulto) não é encontrada em um único ambiente.
De acordo com Barbosa, a Secretaria Estadual de Saúde (Susam) registrou outro tipo de contaminação durante o trabalho de coleta de piaçaba (espécie de palmeira cujas fibras são utilizadas na confecção de vassouras e escovas) no município de Barcelos (distante 405 km).
Entenda a doença
Conhecida como mal de Chagas, chaguismo e tripanossomíase americana, é uma infecção causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. A forma mais comum de contágio é por meio do contato com as fezes do inseto, que se alimentam de sangue humano e de animais. A doença também pode ser transmitida das seguintes formas: mãe para bebê (congênita), transfusão de sangue e transplante de órgãos.
Sobre o PPSUS
Promovido em parceria com o Ministério da Saúde (MS) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Programa consiste em apoiar, com recursos financeiros, projetos de pesquisa que visem à promoção do desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação na área de Saúde no Estado do Amazonas.
Camila Carvalho e Marcelo Vasconcelos – Agência Fapeam