Pesquisa alerta para diminuição de peixes nas bacias do Tarumã e rio Preto da Eva


Os igarapés localizados nas bacias do Rio Preto da Eva, no município de mesmo nome, e do Tarumã, situado na zona Oeste da cidade de Manaus, são que apresentam os menores índices de integridade biótica entre 30 igarapés analisados por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

 

Integridade biótica é a capacidade de suportar e manter balanceada, integrada e adaptada uma comunidade de organismos (peixes, por exemplo), de maneira comparável à de ambientes íntegros daquela região. Os principais motivos para os baixos índices são o desmatamento, a construção de estradas, a perda de solos e o assoreamento do leito dos igarapés.

 

Os igarapés estudados estão localizados na área do Distrito Agropecuário da Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa (DAS) e fazem parte das bacias dos rios Cuieiras, Tarumã, Preto da Eva e Urubu. Entre os igarapés amostrados, nove (30%), apresentaram diferentes graus de alterações por ações antrópicas (causadas pelo homem). Foram encontrados quatro igarapés alterados nas bacias dos rios Preto da Eva, três na do Urubu e dois na do Tarumã.

 

A pesquisa foi desenvolvida com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Projeto YGARAPÉS, Fundação O Boticário de Proteção à Natureza e Programa BECA.

 

Os dados fazem parte da dissertação de mestrado de André Vieira Galuch denominada: “Adaptação de um Índice de Integridade Biótica para igarapés da Amazônia Central, com base em atributos ecológicos da comunidade de peixes. O trabalho foi orientado pelo cientista Jansen Zuanon, da Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática (CPBA) e apresentada ao Programa de Pós-Graduação do INPA.

 

A pesquisa durou dois anos e analisou os efeitos de alterações ambientais sobre os igarapés e sua fauna, que resultam da construção de estradas, desmatamentos, pastos, áreas de cultivos e o uso da terra. Os dados foram coletados durante o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do DAS, realizado em 2004.

 

Coordenado pela CPRM, o ZEE teve como objetivo levantar informações para orientar o uso da terra naquela área, compatibilizando os interesses sociais, econômicos e ambientais.

 

De acordo com Galuch, o estudo gerou informações que permitirão aos órgãos ambientais avaliar os impactos de uma obra na bacia do Rio Preto da Eva ou em qualquer outro igarapé da região, por vários anos, por meio da metodologia desenvolvida durante as pesquisas de campo. 

 

A idéia do trabalho, segundo ele, foi atribuir notas (bom, regular e ruim) aos igarapés analisados, conforme o tipo e intensidade das alterações ambientais verificadas. Por isso, foram estabelecidas três categorias de medidas: riqueza e composição de espécies; estrutura trófica (tipos de alimentos consumidos pelos peixes) e uso de habitat pelas espécies; e abundância de peixes e a presença de espécies exóticas. “A intenção era verificar quais as alterações sofridas, por exemplo, a diminuição do número de peixes”, explica.

 

Galuch explicou que, para atribuir as notas aos igarapés, era necessário comparar a situação observada em determinado igarapé em relação a padrões observados em ambientes íntegros, com alta qualidade ambiental. A riqueza de espécies de caracídeos (piabas) foi uma das medidas que permitiram classificar um igarapé como bom, regular ou ruim.

 

“Quando há impacto ambiental intenso, a família de caracídeos é uma das primeiras a sentir o efeito. Os igarapés alterados foram os que apresentaram o menor número de espécies”, revela o pesquisador.

 

Durante a pesquisa, foi desenvolvido um índice de integridade ambiental, que mede, por exemplo, qual o tipo e intensidade de uso da terra nas proximidades dos igarapés impactados ou se a vegetação está intacta ou apresenta algum tipo de alteração. A aplicação desse índice ambiental gera uma nota para cada igarapé, conforme a situação verificada na floresta ao seu redor.

 

“O índice ambiental foi utilizado paralelamente ao de integridade biótica. A intenção era saber se havia uma relação entre o estado de integridade da floresta ao redor, e a situação da fauna de peixes vivendo naqueles igarapés. Os resultados foram positivos. Apesar de medirem impactos diferentes, as espécies são afetadas pelas mudanças na vegetação, observa Galuch.

 

Peixes coletados Durante a pesquisa , foram coletados 2.674 exemplares de peixes pertencentes a 87 espécies. Os Characiformes (peixes com escama) foi o grupo que apresentou a maior riqueza (39 espécies), representando 67% do total de exemplares coletados. Em seguida, vieram os Siluriformes (peixes lisos, bodós e tamoatás) com 17 espécies, Perciformes (acarás, jacundás e tucunarés, com 14), Gymnotiformes (sarapós, com 12) e Synbranchiformes (muçum) e Cyprinodontiformes (três espécies cada).

 

 Espécies invasoras –  Em relação à medida “número de espécies introduzidas ou exóticas”, os levantamentos identificaram a ocorrência de apenas um caso, o da tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus, Cichlidae) encontrada na bacia do rio Preto da Eva. Essa espécie, bem como o guppy Poecilia reticulata (Poeciliidae), foi posteriormente encontrada em igarapés localizados em fragmentos florestais dentro da cidade de Manaus, durante o estudo de Mestrado de Hélio dos Anjos, também no Inpa. No caso do guppy, essa espécie chegou a representar cerca de 80% da abundância dos peixes nos igarapés urbanos mais severamente impactados.

 

“As mudanças ambientais que ocorrem nos igarapés, freqüentemente, levam ao desaparecimento de espécies de peixes nativos nesses locais. Sem os peixes nativos, os ambientes são mais facilmente invadidos por outras espécies, como a tilápia e o guppy. Mas espécies nativas, típicas de rios maiores, como acarás, tamoatás e outros, também podem invadir os igarapés, descaracterizando completamente a sua fauna”, conclui Galuch.

                                                                                                                                                                                                                                  Luís Mansuêto – Agência Fapeam

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