Pesquisa analisa educação ambiental no curso de Pedagogia da Ufam


Conclusão aponta para a necessidade de mudança no currículo, de modo a trazer a questão ambiental para ser trabalhada no âmbito de todas as disciplinas

A educação ambiental é de grande importância nos dias atuais, quando a consciência de que cada cidadão é responsável pelo ecossistema em que vive torna-se cada vez mais presente. Mas será que essa consciência já está realmente assimilada por nossa sociedade? Estariam os professores e futuros professores prontos para proporcionar uma educação ambiental ampla para os  alunos?

 
Arminda Rachel Botelho Mourão, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), coordenou um projeto de pesquisa intitulado “Educação Ambiental no Curso de Pedagogia – Construindo Novas Representações”, no qual ela e um conjunto de alunos verificaram como a educação ambiental é vista no curso e como ela é representada por alunos, professores e técnicos do curso de graduação.

 
Segundo Mourão, foram realizadas várias pesquisas para que se pudesse chegar à uma possível resposta. “A primeira pesquisa que desenvolvemos foi sobre a criação de um perfil dos alunos do curso de pedagogia da Ufam”, disse. A maioria dos alunos do curso é branca, grande parte é de mulheres e a maioria é solteira. Quanto à atuação profissional, os alunos começam a trabalhar bem cedo, inserindo-se no mercado geralmente no 4º período, e recebem, em média, até três salários mínimos.

 
Concomitantemente, foi realizada uma pesquisa de análise de conteúdo do projeto político-pedagógico do curso de pedagogia. “Verificamos então que o currículo da pedagogia é muito consistente, propiciando uma discussão entre teoria e prática, mas que os temas transversais dos parâmetros curriculares nacionais, como a questão ética, pro exemplo, não são trabalhados de forma explícita no curso”, declara Mourão.

 
Como resultado da análise do currículo, a professora chegou à conclusão de que a educação ambiental só é trabalhada na faculdade por meio de projetos que não estão bem articulados. “Na época havia um grupo de professores na faculdade que trabalhava com educação ambiental, mas só na pós-graduação. Quando surgia na graduação era por meio de pesquisa de iniciação científica ou apenas de forma pontual no currículo”, aponta Mourão.

 
Tendências conflituosas

 
Após criar um perfil dos alunos e analisar as falhas do currículo, a coordenadora do projeto trouxe professores de outras universidades com auxílio da agência financiadora do projeto, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam). Eles debateram sobre as duas tendências conflituosas na pedagogia, no que diz respeito à formação dos profissionais na área.

 
A primeira tendência defende que a formação do pedagogo tem como suporte a docência e deve ter como metodologia uma relação teoria-prática, na qual a pesquisa é fundamental para desenvolver o pedagogo de modo que esse profissional, que irá atuar na rede educacional, tenha uma formação mais consistente. A outra corrente entende que a formação do pedagogo não é só docência, é uma formação mais ampla que compreende o pedagogo como o profissional que trabalha os processos educativos mais amplos.

 
“Essas discussões nos permitiram ter uma compreensão das diretrizes nacionais para o curso de pedagogia e de como podemos fazer para trabalhar a educação ambiental no curso”, explica Mourão.

 
Representações sociais da Educação Ambiental

 
A metodologia utilizada na pesquisa foi a de associação livre de palavras, muito ligada à psicologia social. “Fizemos a seguinte pergunta – o que vem à sua mente quando nós dizemos educação ambiental? Posteriormente, nós caracterizamos a resposta dos alunos e chegamos aos seguintes resultados: educação ambiental é educar visando formar consciências para preservar o meio ambiente”, recorda a pesquisadora.

 
“A pergunta seguinte foi – o que vem à sua mente quando nós dizemos meio ambiente? E 90% dos alunos responderam que o meio ambiente era que era a água, a terra, o sol, as rochas, os animais, etc. Essa visão dos alunos demonstra que eles compreendem o meio-ambiente como algo externo, do qual o homem não faz parte”, analisa Mourão.

 
Para analisar os dados, a pesquisadora utilizou como parâmetros as três concepções sobre o meio ambiente categorizadas por Marília Freitas de Campos Tozoni-Reis, professora da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). São elas: a natural, em que o homem está separado da natureza; a de uso, em que se deve preservar a natureza apenas para utilizá-la a nosso favor; e a concepção dialética, na qual a relação do homem com a natureza é algo contextualizado, levando em conta a globalização, a economia, os processos produtivos e a sustentabilidade.

 
“A concepção que predomina entre nossos alunos e professores é a concepção natural, que acaba levando as pessoas a certo descomprometimento quanto à educação ambiental”, avalia a pesquisadora, explicando que a pesquisa trabalhou com estudantes e 80 professores do curso, entre estatutários e contratados na forma de substitutos.

 
Após essa fase foi produzido um vídeo com auxílio de alunos de comunicação social, no qual se demonstra que o campus é vítima de práticas predatórias conseqüentes da concepção natural e como as pessoas sofrem com isso. “A pesquisa demonstra que a degradação do meio ambiente sempre se manifesta de forma conjunta com a degradação do ambiente social, mesmo que de forma muito despercebida”, explica Mourão.

 
Para a pesquisadora, esses conhecimentos ainda não afetam o comportamento dos indivíduos. “Dessa forma, nos perguntamos qual seria nosso papel como Faculdade de Educação? Então, discutimos a mudança de currículo e queremos trazer a questão ambiental à tona nessas alterações, passando então a constar essa discussão como concepção em todo currículo”, afirma a professora.

 
Mourão acredita que um pedagogo poderá inserir a discussão ambiental no processo educacional apenas se estiver preparado. “É um processo dialético, não vai se mudar as representações se não mudarmos as estruturas, mas o contrário também é verdadeiro. São as pessoas que individualmente modificam as coisas coletivamente. Porque ninguém constrói sua subjetividade sozinha, ela é um processo de construção social”, finaliza Mourão.

 

Hemanuel Jhosé – Agência Fapeam

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