Pesquisa analisa genes de peixes frente a desafios ambientais
10/02/2011 – Um estudo realizado pelo grupo de pesquisa Genética Animal do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) está fazendo a análise de genes de peixes amazônicos, como o jaraqui, tamoatá, traíra e acará-disco para verificar como as espécies se comportam frente aos desafios ambientais naturais e os causados pelo homem e a distribuição geográfica e de relação evolutiva entre grupos naturais.
Denominado ‘Genômica comparativa de peixes amazônicos frente a diferentes desafios ambientais’ o projeto conta com o apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), via Programa de apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), também conta com parceria com o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Adaptações da Biota Aquática da Amazônia (Adapta) e também recebe incentivos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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Os trabalhos, que iniciaram em 2010 e vão até julho de 2014, contam com investimentos de cerca de R$ 400 mil via Pronex e CNPq. A proposta do Conselho é apoiar, com recursos financeiros, grupos de alta competência que tenham liderança e papel nucleador no setor de atuação em ciência e tecnologia no Amazonas.
Conforme a coordenadora do programa e doutora em Biologia de Água Doce e Pesca Interior, Eliana Feldberg, a ideia é verificar se o genoma destas espécies pode ou não sofrer alterações em decorrência dos desafios ambientais, consequentemente, modificando a morfologia, fisiologia ou expressão gênica, ou seja, o processo pelo qual a informação hereditária contida em um gene é processada em um produto gênico funcional, como proteínas ou RNA.
“Precisamos saber qual é o comportamento do genoma em ambientes poluídos e não poluídos. Temos, por exemplo, o tamoatá que consegue sobreviver em igarapés como o do São Raimundo, Quarenta e Mindú. Significa que ele é um peixe resistente. Mas, quais os mecanismos genéticos que o tornam resistente?”, questionou Feldberg.
Recursos humanos
Uma vertente forte dentro do programa é a formação de recursos humanos em nível de doutorado, mestrado e iniciação científica, informou Feldberg. A iniciativa tem possibilitado o andamento dos trabalhos em diferentes locais da Amazônia brasileira, uma vez que a ideia é comparar as espécies de peixes que vivem em água branca (Rio Amazonas), clara (Rio Tapajós) e negra (Rio Negro).
Os estudos estão sendo realizados, simultaneamente, nos municípios de Manaus e Coari (AM), Botucatu (SP), Ponta Grossa (PR) e Santarém (PA), com apoio das universidades Federal do Amazonas (Ufam), Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Estadual de São Paulo (Unesp) e Federal do Oeste do Pará (Ufopa).
“Com a iniciativa estamos interiorizando a ciência, com a inclusão de dois grupos de pesquisa já estabelecidos e que trabalham com abordagens citogenômicas no interior da Amazônia brasileira, além de permitir o intercâmbio com pesquisadores de outros Estados e a capacitação de recursos humanos”, pontuou.
Resultados
A pesquisadora disse que o primeiro trabalho publicado com os resultados do projeto foi sobre o jaraqui, espécie bastante consumida no Estado de Amazonas. Ela explicou que os peixes formam cardumes e estão dispersos por toda a Amazônia. Durante o período da reprodução, eles descem os rios em direção ao encontro das águas para desovar, onde existe alimentação para as larvas. De posse destes dados, os pesquisadores compararam os jaraquis que desovam no encontro das águas brancas e pretas com os da branca com a água clara.
“A comparação é importante porque não muda apenas a cor, mas também o pH, a condutividade da água, por exemplo. Não encontramos muitas diferenças nessa espécie, que é considerada migradora. Ela é capaz de habitar ambos ambientes”, destacou.
Sobre a espécie acará-disco foram analisados os elementos transponíveis, que são sequências do DNA capazes de mudar de posição dentro do genoma. Quando isso ocorre significa que poderá mudar também a expressão de determinadas sequências, a qual é utilizada para verificar a adaptação do organismo ao ambiente. “Qualquer organismo quando chega a um determinado ambiente, caso não seja capaz de se adaptar, ele vai embora ou morre, ou utiliza a plasticidade do genoma para adaptar-se”, disse.
Conforme Feldberg, os acarás-discos possuem blocos muito grandes de elementos transponíveis. Isso pode indicar que eles contribuíram para a ocorrência de rearranjos cromossômicos, ou seja, novas acomodações do DNA (ácido ribonucleico) para que houvesse o aumento do DNA, o qual saiu de 48 para 60 cromossomos.
Hoje, de acordo com a pesquisadora, no lugar de fazer vários projetos diferentes, é feito apenas um grande projeto e outros interligados. A estratégia ajudou a capitalizar o recurso obtido e a obter resultados melhores. Ela explicou que o Pronex ajudou a estruturar o laboratório e desenvolver novas técnicas de pesquisa, enquanto os recursos do INCT contribuíram com os gastos de custeio do laboratório e permitiram excursões mais longas e distantes.
“A refinação das técnicas exige equipamentos mais modernos, reagentes mais caros. Estamos partindo para o sequenciamento do DNA e expressão gênica. O objetivo é saber como os genes se expressam em ambiente poluído, não poluído e nas diferentes águas”, finalizou.
Luís Mansuêto – Agência FAPEAM