Pesquisa aponta para descompasso no crescimento da cupiúba
Espécie arbórea de grande valor comercial, a cupiúba (Groupia glabra Aubi) perde na competição com outras espécies, inviabilizando sua utilização comercial em larga escala
Boa parte das áreas desmatadas na região norte é ocupada por pastagens de baixa produtividade, que depois são abandonadas e recobertas por capoeiras. O processo de regeneração de uma floresta, a partir de uma clareira, formada pela exploração madeireira, é lento, principalmente quando esta é abandonada e depende unicamente da sucessão natural para sua reestruturação.
O biólogo Anderson Ferreira de Oliveira analisou os fatores que podem influenciar no processo de regeneração natural da cupiúba para a prática do manejo na Amazônia. A pesquisa foi apresentada para obtenção do título de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais do convênio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade Federal do Amazonas (Ufam).
O estudo ressalta que, da forma como o manejo vem sendo usado atualmente, a prática pode ser considerada arcaica e com pouco embasamento científico. O pesquisador aponta que é necessário um conhecimento prévio das características eco e fisiológicas da vegetação. Só assim é possível entender os mecanismos de distribuição, de crescimento e de estabelecimento de cada planta, facilitando o processo de recuperação de determinada área explorada.
A cupiúba (Groupia glabra) foi escolhida por ser muito utilizada na construção civil, naval e indústria moveleira. A espécie é bastante usada para arborização e reflorestamento, pois ela cresce rápido e tem bastante tolerância à luz direta. Além desses usos, popularmente a casca da árvore é utilizada para aliviar as dores de dente.
Na pesquisa, Oliveira constatou que a mudança nas condições ambientais nas clareiras no decorrer dos anos, bem como a presença de diferentes espécies na área de influência da cupiúba, não atrapalham a coexistência entre elas. O fator competição por luzes não foi o principal responsável pelo sucesso no estabelecimento da árvore no processo de sucessão.
Mas é fato, de acordo com o estudo, que a cupiúba, apesar de germinar com facilidade, perde muito no processo de crescimento se comparada a outras espécies. Significa dizer que ela cresce de forma muito lenta e a maioria dos indivíduos não consegue chegar à fase adulta, ao contrário de outras espécies, que eventualmente nem germinam tanto, mas que se reproduzem facilmente.
“A cupiúba pode chegar a 1 metro de diâmetro e até 35 metros de altura e vive de 60 a 80 anos. O problema é que em dez, 15 anos, apenas um indivíduo, em média, atinge a fase adulta no espaço de até 2 hectares, enquanto outras espécies, por cresceram rapidamente, se reproduzem em maior quantidade na floresta. No crescimento, ela perde ao competir com outras espécies”, explica Oliveira.
A contribuição da pesquisa, segundo ele, está no fato de que, compreendendo os fatores que causam o descompasso no crescimento, é possível apontar alternativas de manejo para que um número maior de indivíduos consiga chegar à fase adulta e a espécie possa ser utilizada em larga escala.
Postes, móveis em geral, cercas, casco de barcos, escoramento para lajes e lambris são algumas das maneiras que a cupiúba pode ser utilizada, daí porque é uma espécie de grande valor comercial. Estudar formas de garantir a reprodução em larga escala, de acordo com Oliveira, pode ser uma alternativa econômica importante para a região.
“É fundamental entender o comportamento da cupiúba na floresta. Já vimos que a luz não é o principal fator, mas é preciso intensificar os estudos sobre a espécie, uma vez que ela parece ter características bem específicas, como as que lhe permitem sobreviver por mais tempo em locais com pouca incidência de sol”, acrescentou o pesquisador.
Sustentabilidade
Há mais de três décadas, o Código Florestal Brasileiro (artigo 15) já dizia que as florestas da Amazônia só poderiam ser utilizadas através de planos de manejo. Apesar de a lei ter sido outorgada em 1965, só nos últimos anos a prática do manejo florestal vem se consolidando como uma das alternativas mais viáveis para o desenvolvimento sustentável da região amazônica.
Manejo florestal é um conjunto de técnicas empregadas para colher cuidadosamente parte das árvores grandes de tal maneira que as menores, a serem colhidas futuramente, sejam protegidas. A prática reduz o desmatamento de áreas de floresta primária.
A técnica alia, em uma única equação, a utilização racional da floresta, a produtividade, o baixo impacto ambiental e, o mais importante, a geração de renda para as populações que moram e tiram seu sustento da floresta.
Sobre a pesquisa:
Programa: Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
Instituição: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) / Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Manaus-AM.
Dissertação: “Fatores que influenciam no desenvolvimento de Cupiúba (Groupia glabra Aubl.) em clareiras artificiais de uma floresta de terra firme na Amazônia Central – Amazonas, Brasil”
Orientador: Flávio Jesus Luizão
Anderson Ferreira de Oliveira cursou o mestrado com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – Fapeam