Pesquisa avalia qualidade do tambaqui de viveiro
A aqüicultura é uma alternativa para a produção de alimentos, fornecendo cerca de 30% da produção mundial de peixe, sendo considerada mundialmente como o setor agropecuário que mais cresceu na última década. Na Amazônia, a aqüicultura é a atividade zootécnica que mais cresce e a principal espécie criada é o tambaqui (Colossoma macropomum). Há um sistema de criação em viveiros disponibilizados em Manaus e alguns municípios do Amazonas.
Com o objetivo de aperfeiçoar o sistema de produção de recria de tambaqui nos viveiros existentes, possibilitando a diminuição da possível capacidade poluidora, a engenheira de pesca Ana Maria Dias da Silva desenvolveu a dissertação de mestrado “Impacto de manejo de viveiros na qualidade da água e dos efluentes durante a recria de tambaqui, Colossoma macropomum”, do programa de Pós-graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Nessa pesquisa, que teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), foram estudados a influência do manejo sobre a qualidade da água e o impacto causado pelos efluentes durante um período de 60 dias (fase de recria do tambaqui), os parâmetros de crescimento, de produção e de alimentação durante essa fase.
A criação de tambaqui na região Amazônica utiliza viveiros e barragens que são preparadas anualmente para receber peixes. O modo de preparo leva em consideração a limpeza, a calagem para correção da acidez do solo, o abastecimento e a fertilização dos viveiros, impondo necessariamente a exigência de minuciosos estudos sobre a qualidade da água. A qualidade dos efluentes se modifica ao longo do período de criação e pode ser crítica na última fase da criação e durante a despesca, quando parte do sedimento é suspenso.
Durante a pesquisa, foram utilizados peixes de espécie Colossoma macropomum oriundos do período de larvicultura (cultivo de larvas, peixes recém-nascidos), adquiridos na Estação de Piscicultura Santo Antônio, localizada em Rio Preto da Eva (a 57,5 quilômetros de Manaus). Os animais, transportados até a estação de Piscicultura de Balbina, município de Presidente Figueiredo, foram aclimatados e estocados em nove viveiros de 600m² cada. Os viveiros são abastecidos com água oriunda de uma represa e distribuída por canaleta de alvenaria.
De acordo com dados da pesquisadora, o desenvolvimento da aqüicultura vem gerando benefícios e renda, mas a falta de planejamento adequado de manejo e de uma regulamentação apropriada da atividade acarreta uma série de riscos e impactos como poluição, modificação da paisagem e da drenagem, e possíveis danos ou mudanças na biodiversidade.
“Apesar de o Estado do Amazonas usufruir de invejável situação em termos de recursos hídricos, a preservação da água tornou-se uma das maiores preocupações ambientais e, por isso mesmo, a questão deve ser enfrentada com a máxima seriedade. Tal preocupação aumenta com o crescimento exagerado do consumo, com a destruição gradual dos mananciais, modificação de cursos de igarapés, sedimentação, e com a poluição decorrente da contaminação agrícola, industrial e principalmente doméstica”, observa Ana Maria, em seu trabalho.
O estudo demonstra que apenas o nutriente fósforo (P) apresenta valores mais alto que o permitido pela resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Este problema é gerado quando este nutriente é adicionado por meio de fertilização. “Por isso, a adição de fósforo por meio de fertilização deve ser evitada. Demonstra também que a variedade e proporção do alimento ingerido não são influenciadas pelo manejo do viveiro e, sim, pelo tempo de criação”, afirma a pesquisadora.
Os resultados dessa dissertação estão consignados em um manual sobre boas práticas de manejo para prevenir os possíveis impactos ambientais da atividade, como utilização de biofiltros (um dos sistemas de tratamento de efluentes). Este manual serviu como base para o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) na elaboração de códigos de conduta para produção responsável da aqüicultura no Amazonas.