Pesquisa busca contribuir para criação e escolha de ferramentas ergonômicas no Amazonas
15/02/2013 – Anualmente, os gastos com benefícios previdenciários, saúde, horas de trabalho perdidas, reabilitação profissional e custos administrativos chegam a R$ 33 bilhões em São Paulo, por exemplo. Os principais fatores de risco de afastamentos envolvem aspectos biomecânicos, como repetitividade de movimentos, compressões mecânicas e posturas incorretas. Conforme a doutoranda em Design pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e professora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Franciane da Silva Falcão, os problemas têm gerado prejuízo ao desempenho dos trabalhadores e a ausência dos mesmos nos postos de trabalho.
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Contemplada pelo Edital RH Doutorado – Fluxo Contínuo, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Falcão explicou que é preciso elaborar parâmetros morfológicos para o desenvolvimento e escolha de ferramentas manuais, ergonomicamente adequadas, às atividades de manufatura. A alternativa encontrada para o problema foi desenvolver o projeto ‘Usabilidade de Ferramentas Manuais: aspectos interfaciais do acionamento’. A pesquisa envolve análises associativas de acionamentos e empunhaduras, na qual se pretende avaliar o desempenho, percepção e conforto no uso.
"Os resultados da pesquisa poderão ajudar, por exemplo, o setor de eletroeletrônicos, que conta com aproximadamente 135 indústrias no Polo Industrial de Manaus (PIM) – representando 33% do PIM -, e é de grande importância no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado. Além disso, deverá contribuir para a criação e escolhas de ferramentais manuais mais corretas às atividades de produção. Consequentemente, auxiliará no conforto do trabalhador e diminuição de incidências de Lesões por Esforço Repetitivo (LER)", pontuou a doutoranda.
Hoje, segundo Falcão, as ferramentas são escolhidas de forma empírica em catálogos, sem dados para embasar a decisão. Outro problema é a falta de variedade dos produtos oferecidos, o que torna difícil a decisão dos engenheiros de produção. Esse fato foi verificado durante pesquisa realizada entre 2006 e 2007 em uma indústria do PIM, que não pode ter o nome divulgado.
De acordo com Falcão, engenheiros experientes têm mais chances de acertar na escolha da ferramenta. No entanto, a pesquisa também deverá ajudar no momento das decisões, além de contribuir com o desenvolvimento de equipamentos adequados à realidade do trabalho.
Em relação ao projeto de doutorado, o trabalho de campo será realizado ao longo de dois anos. Falcão pretende trabalhar com uma indústria de produção de ferramentas com unidades em Manaus e em Campinas. Entretanto, a pesquisadora aguarda a resposta da empresa.
Pesquisa poderá diminuir casos de LER
Técnica final há 14 anos na Empresa Nokia, Francisca Sena desenvolveu a LER ao repetir o esforço de manuseio de uma parafusadeira. O equipamento é utilizado para abrir os celulares que apresentam defeito após os testes de qualidade. Há quatro anos, Sena sofre com a doença. Somente neste ano, afastou-se do posto de trabalho por seis meses. "O equipamento é pesado, fica no alto da esteira de produção, sobre a cabeça, e temos que puxá-lo até o celular para realizar a atividade. O procedimento é cansativo e creio que, ergonomicamente, não é adequado", lamentou.
Segundo Sena, ações para solucionar problemas ergonômicos nas empresas do PIM são importantes para evitar casos como o dela. Ela acredita que se estudos sobre o sua atividade tivessem sido feitos antes, muitos problemas de afastamentos e processos trabalhistas teriam sido evitados, além do estresse que envolve as perícias, fisioterapia e os remédios que precisam ser tomados. “Vejo a pesquisa como avanço para o setor. Há pessoas que desenvolvem a doença depois de dois anos de serviço. Consequentemente, há muitos afastamentos”, pontuou.
Sobre o RH- Doutorado Fluxo Contínuo
Esse programa concede bolsas de doutorado a profissionais interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em Programa de Pós-Graduação recomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em outros Estados da Federação nas áreas de Humanas, com exceção de arqueologia; Exatas e da Terra; Agrárias; Sociais e Aplicadas; Engenharias, com exceção das engenharias agrícola, Materiais, Metalúrgica, Naval, Química, Sanitária; Biológicas, com exceção de farmacologia; Saúde; Linguística, Letras e Artes; Multidisciplinar.
Luís Mansueto – Agência FAPEAM