Pesquisa desenvolve coagulante para indústria de laticínios a partir de espécies de fungos amazônicos
Coagulantes produzidos a partir de espécies de fungos estão sendo uma nova opção para a substituição dos coagulantes de origem animal
A carência de enzimas com atividade coagulante fez com que a pesquisadora Kilma Cristiane Silva Neves desenvolvesse um estudo, com apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), para analisar as propriedades bioquímicas dos cogumelos com o objetivo de encontrar uma fonte alternativa sustentável de compostos bioativos para a indústria de laticínios.
O coagulante é um produto natural ou químico utilizado para espessar líquidos, tornando-os consistentes. A pesquisadora explicou que no caso mais específico da indústria de laticínios, na fabricação de queijos, o coagulante tem a propriedade de fazer coalhar. A coagulação do leite constitui uma das etapas mais importantes na produção do queijo.
Segundo a pesquisadora, os substratos orgânicos amazônicos são resíduos renováveis que são utilizados como fontes de nutrientes para o crescimento dos cogumelos produtores do coagulante. Para que esses nutrientes sejam absorvidos pelos fungos, esses organismos excretam enzimas que degradam macromoléculas em moléculas menores.
“Esta pesquisa consiste no crescimento de macro ou micro-organismos em resíduos agroflorestais ou agroindustriais para produção e extração de enzimas com atividade coagulante do leite”, explicou Neves.
De acordo com Kilma Neves, os coagulantes produzidos a partir de espécies de fungos estão sendo opção para a substituição dos coagulantes de origem animal, por apresentarem benefícios, como independência de sazonalidade e baixo custo devido à possibilidade do uso de resíduos agroindustriais como substratos. “A aceitação é melhor pelas pessoas cujos hábitos alimentares e crenças religiosas apresentam restrições quanto ao uso de coagulantes de origem animal”, disse a pesquisadora.
O estudo, finalizado em 2014, foi desenvolvido na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RH-Doutorado) da Fapeam.
“Destaco o apoio da Fapeam no suporte a pesquisadores que atuam no Estado do Amazonas e a estudos que visam à formação de recursos humanos e à ampliação dos conhecimentos acerca da biodiversidade e sustentabilidade regional”, disse.
Ela disse ainda que existem outros estudos que buscam fontes de coagulante, inclusive, utilizando o cogumelo do mesmo gênero (Pleurotus), o que reforça o grande interesse científico na descoberta de novos coagulantes. O que diferencia na sua pesquisa é o bioprocesso para produções de coagulante, que utilizou apenas matérias-primas regionais renováveis.
Esterffany Martins / Agência Fapeam