Pesquisa em terapia celular avança no país
Estudos envolvendo uma rede de 17 instituições de pesquisa proporcionam novas – e boas – perspectivas para pacientes com doenças crônico-degenerativas e traumáticas. O grupo formado em 2001 com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCT), a partir da criação do Instituto do Milênio em Bioengenharia Tecidual (IMBT), desenvolveu, com sucesso, terapias celulares e teciduais como alternativas para o tratamento de pacientes portadores de doenças como acidente vascular cerebral, as cardiopatias e cirrose hepática.
A proposta é permitir que, em futuro breve, a maioria dos transplantes de órgãos possa ser substituída por transplantes de células tronco obtidas do próprio paciente.
O coordenador do Instituto, Ricardo Ribeiro dos Santos, da Fiocruz, explica que o principal objetivo do IMBT é introduzir e desenvolver uma nova área médica – a Medicina Regenerativa. A importância desta meta está ligada ao aumento crescente do número de idosos no país, faixa-etária na qual as doenças crônico-degenerativas mais incidem, sendo as principais causas de mortalidade na terceira idade.
“Para substituir os transplantes de órgãos, limitados pela escassez de doadores, a bioengenharia propõe o desenvolvimento de biomateriais e utilização de células-tronco que poderão substituir ou complementar tecidos degenerados”, esclarece o pesquisador.
Além de suprir o problema das filas de espera por doação de órgãos, a terapia celular utilizando células do próprio paciente não apresenta rejeição imunológica, como pode acontecer com os transplantes. Estima-se ainda que o custo dos procedimentos será muito menor.
Finalizado em 2005, o projeto do IMBT é considerado um sucesso. “Conseguimos promover um vínculo entre a pesquisa básica e a clínica, o que possibilitou, em curto prazo de tempo, a transferência de uma tecnologia obtida em modelos experimentais para o tratamento de seres humanos”, comemora Ribeiro dos Santos.
Ensaios inéditos
Ao longo desses quatro anos, foram realizados vários ensaios clínicos, alguns dos quais inéditos no mundo, como o transplante de células tronco em pacientes com insuficiência cardíaca chagásica e insuficiência cardíaca isquêmica crônica.
Além disso, a disseminação das aplicações clínicas em outros estados do país motivou outros grupos de pesquisa clínica a se agregarem ao projeto através da implantação de protocolos já em fase de estudo clínico (uso de células de medula óssea no tratamento de doenças auto-imunes como a diabetes mellitus tipo I e a esclerose múltipla) e também de novas propostas terapêuticas. Por fim, o grupo realizou o primeiro transplante, no mundo, de células de medula óssea na terapia do acidente vascular cerebral isquêmico.
Outros procedimentos desenvolvidos na área da bioengenharia tecidual e biomimética também já vêm trazendo resultados clínicos em tratamento de pacientes, como os transplantes de pele e de cartilagem.
Ricardo Ribeiro dos Santos aponta ainda como resultado positivo a repercussão que o IBMT teve, promovendo novos grupos de pesquisa em prol do desenvolvimento da medicina regenerativa. “Podemos afirmar, sem falsa modéstia, que implantamos a pesquisa translacional em nosso país”, orgulha-se.
Um exemplo de integração é o recém-criado grupo multidisciplinar em terapias celulares da Bahia, formado por pesquisadores e clínicos com diferentes especialidades e pertencentes a vários hospitais e a Fiocruz/BA, que se reúnem semanalmente para discutir novos protocolos, resultados, dados da literatura e estratégias de atuação na área.
Prêmios
O reconhecimento pelo trabalho desenvolvimento pelo IMBT está representado pelos prêmios recebidos. O trabalho experimental desenvolvido em modelo de cardiopatia chagásica, que serviu de base para o estudo pioneiro no mundo em pacientes com insuficiência cardíaca de etiologia chagásica, recebeu o prêmio Zerbini de cardiologia em 2003.
No mesmo ano, o trabalho realizado com o transplante de células de medula óssea em pacientes com insuficiência cardíaca pós-isquêmica foi premiado pela Academia Nacional de Medicina e, em 2004, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Com a participação de cerca de trinta bolsistas do CNPq e a capacitação de 209 profissionais, entre alunos de graduação, mestrandos e doutorandos, o IMBT foi composto assim: pela Fiocruz, pelas universidades de São Paulo (USP), Federal do Rio de Janeiro, (UFRJ), Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Federal de São Paulo (Unifesp), Federal Fluminense (UFF), a Federal do Espírito Santo (UFES), Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Federal de Juiz de Fora (UFJF), o Centro de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF/MCT), o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Albert Einstein College of Medicine (Aecom), o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer (ILPC), Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia (INTO), o Hospital Pró-Cardíaco e o Instituto Nacional de Cardiologia (INCL).


























