Pesquisa explora potencial do cupuaçu para produção de Biodiesel
03/05/2012 – A busca por novas matérias-primas para geração de biocombustíveis, a partir de produtos e subprodutos amazônicos, levou a doutora em Química Ivoneide de Carvalho Lopes Barros a desenvolver estudos sobre o aproveitamento do resíduo da gordura de cupuaçu para a produção de biodiesel.
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Realizada há um ano, a pesquisa é viabilizada por meio do Programa de Apoio à Pesquisa em Biocombustíveis no Amazonas (Biocom), financiado pelo Governo do Amazonas, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com recursos da ordem de R$ 281 mil.
A pesquisa nasceu da demanda da empresa Cupuama, localizada no município de Careiro Castanho (88 quilômetros ao sul da Manaus), que utiliza o fruto do cupuçu (Theobroma Grandiflorum) em seus negócios. A Cupuama desenvolve atualmente o Cupumax, achocolatado feito a partir da semente do cupuaçu, cuja pesquisa de inovação foi financiada no âmbito do Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Micro e Pequenas Empresas na Modalidade Subvenção Econômica – Pappe Subvenção, com recursos da FAPEAM e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Segundo a pesquisadora, a motivação para o desenvolvimento do projeto surgiu da preocupação com o aproveitamento total do cupuaçu e a preservação do meio ambiente, a partir de uma solução para a destinação final do resíduo da extração da gordura da semente de cupuaçu gerado na empresa.
“Nosso maior desafio foi desenvolver um projeto para avaliar o potencial de aplicação do resíduo gorduroso da industrialização do cupuaçu como matéria-prima para obtenção do biodiesel”, destacou a pesquisadora.
Além de inovador, por conta da geração de biodiesel, o projeto tem um forte apelo ambiental, uma vez que os resíduos são estocados em tanques de concreto aberto, podendo entrar em contato com o solo. “A partir das nossas análises, detectamos que o produto gorduroso contém alto teor de ácidos graxos, o que é fundamental para a nossa pesquisa, mas que pode vir a gerar problemas sanitários e ambientais se não for dada uma destinação correta”, alertou.
Nesse sentido, a proposta do trabalho é estudar o aproveitamento do resíduo resultante do beneficiamento da semente de cupuaçu para a produção de biodiesel, evitando o desperdício deste insumo e permitindo uma exploração mais eficiente da cadeia produtiva do cupuaçu.
A pesquisadora explicou que o desenvolvimento da pesquisa se dá em vários aspectos, que vão desde a definição do perfil socioeconômico das comunidades rurais envolvidas com o cultivo de cupuaçu, caracterização da matéria-prima em estudo quanto à composição dos ácidos graxos e as suas propriedades físico-químicas, e o desenvolvimento de catalisadores sólidos ácidos, para uso na reação de esterificação, visando a um processo de obtenção de biodiesel mais limpo.
“Nosso maior desafio é realizar testes de produção de biodiesel e determinar os parâmetros do biodiesel considerando as normas da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para avaliar a eficiência energética do biodiesel e seu nível de emissão de gases poluentes”, frisou.
Dessa forma, a pesquisadora acredita que estará ajudando a construir um plano estrutural para a transferência da tecnologia dos processos otimizados para o atendimento na produção de biodiesel na empresa Cupuama, além da aplicação da tecnologia alternativa de produção de biodiesel para uso em comunidades rurais a partir de resíduos gordurosos produzidos localmente.
Avanços
Entre as etapas da pesquisa que já foram realizadas, estão as visitas aos produtores de cupuaçu no município do Careiro, a elaboração e aplicação do questionário de pesquisa para definir perfil socioeconômico dos produtores, as coletas das amostras da manteiga e resíduo gorduroso de cupuaçu e os ensaios, em fase homogênea, da conversão do resíduo gorduroso de cupuaçu (matéria-prima) em biodiesel em escala de bancada, ou seja, em laboratório.
A realização da pesquisa conta com um grupo formado por especialistas do Laboratório de Catálise – LabCat, da Universidade de Brasília (UnB) e do Grupo de Catálise e Oleoquímica do Laboratório (Lapac) da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Para a doutora em Engenharia Química e membro do Instituto de Tecnologia de Pernambuco (Itep), Ana Rita Fraga Drummond, a pesquisa é muito interessante por já estar interligada ao setor empresarial. “Não adianta o setor acadêmico desenvolver a pesquisa e deixá-la na prateleira. Aqui nós vimos a oportunidade da própria empresa aproveitar seus resíduos para gerar combustível, a fim de alimentar suas caldeiras. Certamente isso é um passo importante para o desenvolvimento dessa região”, destacou Drumond. Sobre a produção do cupuaçu no Careiro Castanho
De acordo com o perfil socioeconômico dos produtores de cupuaçu, situados no município de Careiro-Castanho, a pesquisa detectou que o cultivo do cupuaçu é praticado por famílias com baixo nível de instrução e baixa capitalização. Muitos produtores relatam o problema agronômico causado pelo mal da ‘vassoura de bruxa’, que ataca a plantação e reduz a produção.
Quanto ao plano da comercialização agrícola, os agricultores percebem os problemas, mas não sabem explicar de forma plausível as causas ou a solução de problemas como por exemplo, a carência de transporte e o preço baixo praticado pelos ofertantes de polpa de cupuaçu na época da safra.
Sobre a empresa Cupuama
A Cupuama foi fundada em 1995 e possui um programa de aproveitamento total do fruto do cupuaçu, que por meio do despolpamento do fruto produz refrescos e doces. A extração da gordura das amêndoas tem fins cosméticos e o aproveitamento da torta é utilizado na fabricação de achocolatado em pó e ração animal.
Sobre o Biocom
O Programa de Apoio à Pesquisa em Biocombustíveis no Amazonas (Biocom) consiste em apoiar, com auxílio-pesquisa e bolsas de estudos, pesquisadores interessados em desenvolver estudos científicos e inovação tecnológica voltados para o setor de biocombustíveis, resultado de um convênio celebrado entre a FAPEAM e o CNPq.
Ulysses Varela – Agência FAPEAM