Pesquisa fará levantamento de infecção por DST na zona oeste de Manaus


25/09/2012 – Poucas pessoas sabem, mas um recente estudo feito por pesquisadores de Vitória (ES) apontou que a ocorrência de mulheres grávidas com clamídia, uma Doença Sexualmente Transmissível (DST), atendidas em maternidades do Amazonas está entre as mais altas do País.

Este dado, segundo a doutora em Saúde Pública e especialista em DST/Aids, Adele Schwartz Benzaken, é preocupante, fato que a levou a iniciar uma investigação em Saúde Pública, especificamente em DSTs, para determinar a relação de custo-efetividade do rastreamento da Chlamydia trachomatis (Clamídia) em amostra representativa de jovens de 14 a 25 anos de idade, na cidade de Manaus.

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O estudo começou a ser implantado na segunda-feira, 24/09, com uma reunião entre a autora do projeto, médicos e enfermeiros de 16 unidades de atendimento à saúde da zona oeste de Manaus. O objetivo é diagnosticar a doença entre a população que procura serviços médicos, mas sem sintomas de DST e que não estejam em acompanhamento pré-natal. A pesquisa se propõe a implementar atividades de detecção de infecção por clamídia, de forma a simular um programa de rastreamento nesta população de usuários dos serviços da atenção básica de saúde.

“O teste da captura híbrida para o diagnóstico de clamídia faz parte do elenco de procedimentos cadastrados no SUS, entretanto não é realizado como programa de rastreamento da população jovem com vida sexual ativa”, destacou Benzaken.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/fuam2.jpgA principal contribuição científica do estudo será o conhecimento gerado sobre a prevalência da infecção por clamídia na população assintomática e os custos atuais e possíveis de serem evitados pelo SUS (e pelas famílias), caso o programa seja implementado em toda a rede pública de saúde, ou não economizados, caso o programa não seja efetivado e a prevalência seja muito baixa. “Até a presente data, nenhum estudo explorou os custos diretos e indiretos associados à clamídia, nem a razão custo-efetividade da adoção de um programa de rastreamento para a doença em jovens menores de 25 anos residentes em áreas urbanas”, enfatizou a pesquisadora.

“Nós vamos demonstrar que é possível trabalhar de forma descentralizada com o diagnóstico da doença por meio da biologia molecular, de forma que 16 unidades de saúde serão envolvidas na implantação do diagnóstico, envolvendo a captação de pacientes, homens e mulheres na faixa-etária dos 14 aos 25 anos de idade, nas escolas da zona oeste de Manaus”, explicou.

Os únicos estudos sobre a doença em Manaus se deram em dois momentos: um em 2004, como parte de um levantamento nacional e outro mais recente, que envolve apenas mulheres grávidas. Mas nenhum envolvendo a população em geral.  “Nós vamos ter uma análise econômica do custo-efetividade disso para convencer os gestores sobre a existência da prevalência da clamídia em Manaus. A expectativa é que em seis meses tenhamos examinado cerca de 1,8 mil pacientes previstos na amostra”, revelou.

Fases

O estudo será dividido em dois componentes: um referente ao estudo epidemiológico que vai estimar a prevalência da clamídia na população e o estudo econômico para estimar os custos públicos e familiares do tratamento da clamídia, além da relação custo-efetividade do rastreamento desta infecção para a população.

O projeto será desenvolvido em várias etapas sendo que a primeira, iniciada no dia 24/09, consiste na implantação dos procedimentos de diagnóstico e coletas de material nas unidades de assistência à saúde envolvidas, em sequência será feito um treinamento com psicólogos e assistentes sociais para recepcionar os pacientes e o envolvimento de pesquisadores nas escolas para convencer os estudantes a procurarem o serviço médico, caso seja necessário, por meio da conscientização da gravidade e consequências que a doença pode causar.

Segundo Benzaken o estudo permitirá estimar as probabilidades e os números de casos de complicações evitadas a partir do rastreamento. “No final deste estudo, nós poderemos apontar para os gestores de saúde do Amazonas a importância deste problema e que é possível aplicar um teste sofisticado para diagnóstico da doença e assim evitar que as mulheres adoeçam e tenham problemas maiores”, destacou, lembrando que isso vai evitar custos para o tratamento das complicações provenientes da infecção por clamídia em Manaus possibilitando uma mudança nas políticas públicas para a implantação do teste como rotina em toda a cidade.  

A realização do projeto conta com o apoio do Governo do Amazonas, por meio do Programa de Apoio à Consolidação das Instituições de Ensino e Pesquisa (Pró-Estado), da FAPEAM, que vai disponibilizar cerca R$ 157 mil para o financiamento de bolsas e auxílio-pesquisa.

src=https://www.fapeam.am.gov.br/arquivos/imagens/imgeditor/fuam3.jpgPara o diretor-presidente da Fuam, Carlos Alberto Chirano, a parceria com a FAPEAM está cada vez mais sólida ao ponto ser possível apontar e implantar projetos de pesquisas que possam antecipar os fatos ligados a problemas de saúde pública para orientar quanto às soluções.

“A Fuam busca sempre desenvolver projetos que possam trazer impacto positivo para a saúde da população. Tenho certeza que, com este projeto, vamos traçar políticas e recomendações junto ao Ministério da Saúde com o propósito de incrementar o atendimento das DSTs no Amazonas”, destacou.

Com experiência no tratamento e prevenção de DSTs nos últimos 30 anos, Adele Benzaken já desenvolveu estudos nacionais e internacionais na área e foi uma das coordenadoras sobre o estudo de prevalência de DSTs em cinco capitais selecionadas no Brasil, além da implantação da testagem rápida para sífilis e HIV nas populações indígenas do Amazonas e de Roraima.

Sobre a clamídia

É a DST de maior prevalência no mundo. Ela é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, que pode infectar homens e mulheres e ser transmitida da mãe para o feto na passagem pelo canal do parto.

A infecção atinge especialmente a uretra e órgãos genitais, mas pode acometer a região anal, a faringe e ser responsável por doenças pulmonares. A clamídia é uma das causas da infertilidade masculina e feminina.

Nos homens, a bactéria pode causar inflamações nos epidídimos (epididimite) e nos testículos (orquite), capazes de promover obstruções que impedem a passagem dos espermatozoides. Nas mulheres, o risco é a bactéria atravessar o colo uterino, atingir as trompas e provocar a Doença Inflamatória Pélvica (DIP).

Esse processo infeccioso pode ser responsável pela obstrução das trompas e impedir o encontro do óvulo com o espermatozoide, ou então dar origem à gravidez tubária (ectópica), se o ovo fecundado não conseguir alcançar o útero.

A mulher infectada pela Chlamydia trachomatis durante a gestação está mais sujeita a partos prematuros e a abortos. Nos casos de transmissão vertical na hora do parto, o recém-nascido corre o risco de desenvolver um tipo de conjuntivite (oftalmia neonatal) e pneumonia.

Sobre o Pró-Estado

O Programa de Apoio à Consolidação das Instituições de Ensino e Pesquisa consiste em apoiar, com recursos financeiros, ações de formação de recursos humanos e melhoria da infraestrutura de pesquisa de instituições vinculadas ao Governo do Estado do Amazonas.

 

Ulysses Varela – Agência FAPEAM

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