Pesquisa identifica causa de doenças em comunidade de Presidente Figueiredo (AM)
31/03/2011 – A proximidade da população com animais silvestres e domesticados aliada a péssimas condições sanitárias são fatores agravantes para o surgimento de doenças como as causadas pelo rotavírus, um vírus da família Reoviridae, causador de diarreia grave, frequentemente acompanhada por febre e vômito.
Por ser considerado um dos mais importantes agentes causadores de gastroenterites e de óbitos em crianças menores de cinco anos, o rotavírus precisa ser identificado e acompanhado pelos cientistas. Isso é o que está fazendo a pós-doutorada em Microbiologia e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/Amazônia), Patrícia Puccinelli Orlandi Nogueira, que desenvolve a pesquisa ‘Epidemiologia e caracterização molecular dos vírus entéricos do eco sistema presentes na comunidade de Rio Pardo’, localizada no município de Presidente Figueiredo, a 117 quilômetros ao norte de Manaus.
O estudo tem a finalidade de identificar e genotipar (identificar o conjunto dos genes) os rotavírus naquela comunidade, visando uma compreensão da epidemiologia molecular na dinâmica de transmissão na população, nos animais e nas águas dos igarapés da região.
Segundo a pesquisadora, ainda não existia um trabalho feito em relação ao rotavírus nas populações agrícolas na Amazônia Ocidental. “Por não haver estudos anteriores, é de se esperar a ocorrência de altos níveis de contaminação das águas dos rios e igarapés nestes ecossistemas estudados”, explicou.
A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Leônidas e Maria Deane/Fiocruz, aponta que a população do assentamento de Rio Pardo está inserida num ciclo contínuo de contaminação por bactérias. “Este ciclo é mantido, em grande parte, pela presença de patógenos na água consumida pelos moradores, tendo a participação do homem e dos animais do domicílio e peridomicílio.
Resultados
O estudo está sendo desenvolvido na população de um assentamento na região rural. De acordo com a pesquisadora, a partir dos resultados encontrados será possível sugerir um projeto de intervenção para que se faça o saneamento básico na região.
Nogueira destaca ainda que a implementação de um sistema adequado de distribuição e abastecimento de água para os domicílios em Rio Pardo, além de melhorar o quadro de infecções, poderia inclusive reduzir o risco de contaminação da pessoas pelo Plasmodium spp, o agente causador da malária.
“Isso porque haveria redução da utilização da água de córregos e igarapé para banhos, lavagem de roupas e de utensílios domésticos, momento em que as pessoas são picadas e contraem a malária. Na maioria das vezes o sistema de abastecimento de água e esgoto está em más condições ou ocasionando contaminações”, destacou.
Nogueira ressalta que a falta de um sistema de esgoto adequado e de saneamento em Rio Pardo explica também o elevado percentual de parasitas intestinais encontrados na população.
Sobre o Rotavírus
O rotavírus é um vírus da família Reoviridae, causador de diarreia grave frequentemente acompanhada de febre e vômito. Hoje considerado um dos mais importantes agentes causadores de gastroenterites e de óbitos em crianças menores de cinco anos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, aos cinco anos de idade, quase todas as crianças do mundo já tenham sido infectadas pelo rotavírus pelo menos uma vez, mas, como em cada infecção a imunidade do organismo humano é estimulada, as infecções subsequentes são menos graves e os adultos raramente são afetados.
Sobre o Pipt
A pesquisa está sendo financiada pelo Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (Pipt), vinculado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), que consiste em apoiar, com auxílio-pesquisa e bolsas, mestres e doutores vinculados a instituições públicas e privadas sem fins lucrativos interessados em realizar pesquisas científicas e tecnológicas no Amazonas.
Para a realização desta pesquisa a FAPEAM disponibilizou cerca de R$ 65 mil para a compra de material, assim como para toda coleta realizada na região. “Sem este recurso não teríamos como realizar a pesquisa”, finalizou a pesquisadora.
Redação: Dalva Berquet
Edição Ulysses Varela– Agência FAPEAM