Pesquisa inédita analisa DSTs no interior do AM


Imagine um estudo que, por meio de levantamentos e pesquisas, tenha o objetivo de fazer um verdadeiro raio-x a respeito da situação das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) nas cidades, utilizando como ferramenta o georeferenciamento ou a identificação dos serviços de saúde e dos lugares de uso coletivo para práticas sócio-espaciais como praças, salão de beleza, bares, hotéis, motéis e boates.

Isto é o que três pesquisadores conseguiram realizar nas cidades de Atalaia do Norte, Benjamin Constant e Tabatinga, localizadas na microrregião do Alto Solimões, extremo oeste do Estado do Amazonas.

O estudo dos Sistemas de Informação Geográfica (SIG) aplicado à análise da saúde sexual no Alto Solimões inserido na pesquisa intitulada “Análise Situacional da Saúde Sexual no Alto Solimões”, em desenvolvimento há quase três anos, com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas (Ppope), conseguiu construir mapas temáticos que identificam, entre outros dados, o circuito relacionado ao lazer da população das três cidades estudadas.

 

Os pontos de referência foram relacionados por meio de um levantamento da representação social das DSTs. Na construção dos mapas foi considerado o tipo de atividade desenvolvida nos lugares, a quantidade aproximada de frequentadores e a situação de vulnerabilidade das pessoas.

 

Assim, os pontos de referência estudados foram classificados em categorias, tais como local de encontro dos potenciais parceiros sexuais; de venda/consumo de bebidas alcoólicas; locais utilizados para o ato sexual, e circuito da vida noturna, que pode envolver os três usos anteriores.

 

Segundo a coordenadora da pesquisa e diretora da Fundação Alfredo da Matta (Fuam), Adele Benzaken, os pontos receberam uma valoração conforme a categorização a que fazem parte.

 

“Dessa forma, cada lugar, conforme a atividade desenvolvida, deve agora, numa nova fase da pesquisa, receber maior atenção para a identificação das DSTs recorrentes e ainda um trabalho direcionado no momento das ações de promoção à saúde sexual realizadas pelos órgãos públicos de saúde naquelas localidades”, destaca.

 

 

 

width=211       width=212

 

 

S I G

O pesquisador Isaque Sousa, do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia) e que também é um dos responsáveis pelo estudo, disse que a partir do Sistema de Informação Geográfica (SIG) foram produzidas bases cartográficas  que podem gerar diversos mapas temáticos, sejam da simples localização objetos geográficos mapeados à classificação das áreas de interesse que ilustram aquelas localidades com maior concentração das atividades e práticas influenciadoras na saúde sexual da população.

 

“A elaboração dos mapas não é o produto final, mas sim suas interpretações, que podem contribuir na orientação das políticas de saúde na região de fronteira e na capacitação dos profissionais que atuam na gestão da saúde local”, revelou Isaque Sousa, acrescentando ainda que o uso do SIG serve como base para uma intervenção estratégica, tendo em vista que são considerados os processos de territorialização e das territorialidades nos lugares estudados.

 

Um dos destaques da pesquisa é que pela primeira vez o SIG, um sistema já aplicado em outros países, foi usado no Brasil, sendo o Amazonas o primeiro a possuir os mapas e dados de três cidades.

 

O fato é tão importante que os dados parciais obtidos já foram apresentados à comunidade científica durante o 18º Encontro da Sociedade Internacional de Pesquisadores de Doenças Sexualmente Transmissíveis (ISSTDR, sigla em Inglês), realizado em Londres (UK) no início do  mês de julho, o que chamou a atenção de pesquisadores de vários países.

 

“A receptividade da pesquisa foi muito boa, tanto que alguns pesquisadores de outros países até se ofereceram para ajudar na elaboração do mapa final, que vai revelar inclusive as incidências das DSTs”, antecipou Adele.

 

 

Resultados

Os maiores benefícios da pesquisa se desdobram em três vertentes: o levantamento social, a identificação georeferencial (mapas) e o levantamento epidemiológico e clínico das DSTs existentes nas cidades onde a pesquisa está sendo desenvolvida, uma região de fronteira e considerada de alta vulnerabilidade e que envolve inclusive comunidades indígenas.

 

Entre os resultados já conseguidos está a identificação ou espacialização dos objetos mapeados por meio da qual foi possível organizar mapas temáticos diretamente voltados para o interesse de investigação e identificação de locais elementares nas análises. Outro resultado importante foi a identificação dos lugares conforme o número de freqüentadores e circulação de pessoas.

 

Com isso, foi possível estabelecer uma hierarquização dos lugares, demonstrando a importância de cada um, de acordo com suas categorias, para futuras ações de prevenção e promoção à saúde.

 

O resultado considerado pelos pesquisadores como mais importante foi a identificação dos lugares relevantes para promoção das ações de saúde sexual. Para isso, um mapa foi construído a fim de relacionar o papel de cada ponto, independentemente do segmento a que faz parte, de acordo com sua relevância no circuito social do “beber e do lazer”.

 

O mapa foi elaborado a partir de critérios que permitem identificar os pontos da cidade relacionados ao estilo de vida de seus habitantes, cujas práticas sociais permitem uma abordagem que estimule a adoção de atitudes pró-ativas relacionadas à prevenção das doenças e à promoção da saúde.

 

“Como desdobramento desses avanços já foi possível realizar um contato direto com pacientes e a coleta de material para análise, em laboratórios na cidade de Manaus, com mais de 600 amostras para análise e identificação das DSTs”, revela Adele Benzaken, que destaca ainda a participação do pesquisador Antônio Levino, além de antropólogos e técnicos, como fundamentais para a realização da pesquisa.

 

 

Sobre o PPOPE

O Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas consiste em apoiar, com recursos financeiros, atividades de pesquisa induzida que possam beneficiar a formulação e a implementação de produtos, processos e inovações tecnológicas vinculados às políticas públicas do  Estado do Amazonas. Os projetos são coordenados por pesquisadores vinculados às Instituições de Pesquisa e Ensino Superior (IPES) públicas sediadas no Amazonas.

 

 

 

Ulysses Varela – Agência Fapeam

Deixe um novo comentário

O seu endereço de email não será publicado Campos obrigatórios são marcados *