Pesquisa quer incentivar produção de cogumelos
O peixe com farinha de mandioca é um dos pratos típicos que compõem a culinária amazonense, principalmente devido ao peixe ser um alimento abundante nos rios da região e à farinha ser produzida como fonte de renda por comunidades ribeirinhas e caboclas da Amazônia. Como seria se acrescentássemos o cogumelo a esse cardápio? Inicialmente poderia até parecer estranho, entretanto, é o que promete uma pesquisa coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Quem explica é a pesquisadora Meire Cristina Nogueira de Andrade. bolsista do Programa de Desenvolvimento Regional (DCR – Fluxo Contínuo), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), realizado no Amazonas em parceria com a Fapeam. Ela desenvolve o projeto “Inovação tecnológica no preparo de substratos alternativos para o cultivo de cogumelos comestíveis na região de Manaus-AM”. Os testes são feitos no laboratório da Coordenação de Pesquisas em Produtos Florestais (CPPF/Inpa) juntamente com a pesquisadora Ceci Sales Campos.
O objetivo do projeto é desenvolver tecnologia para a produção de cogumelos comestíveis na Amazônia. Para isso, as pesquisadoras contam com o aproveitamento de resíduos regionais (cascas de frutos, restos de hortaliças e resíduos madeireiros), que são desprezados, ou seja, que tem como destino o lixo.
Segundo Meire Cristina, o projeto representa a união de um objetivo em comum, uma vez que ela estava em São Paulo, onde trabalhava com espécies comerciais e, durante um congresso internacional sobre cultivo de cogumelos, encontrou-se com Ceci Sales. “Foi a junção de um mesmo propósito: Ceci trabalhava com a produção de substratos para cogumelos comestíveis na Amazônia, assunto com o qual eu queria trabalhar”, assinalou.
“Verificaremos a viabilidade de desenvolvimento das linhagens trazidas de São Paulo. Algumas estão sendo testadas por meio de condições controladas (temperatura). Trouxemos 15 linhagens”, afirma Meire Cristina, ressaltando que, atualmente, estão na fase de elaboração de substratos, mas ainda serão analisados itens como adaptação ao local, à temperatura, ao substrato etc, para avaliar a viabilidade produtiva dos cogumelos. “Queremos encontrar o substrato que melhor ajude no crescimento”, salientou.
Por se tratar de Amazônia, Meire Cristina explica que a temperatura local dificulta o cultivo, porém uma das saídas é a utilização de estufas para controlar a temperatura, uma vez que esse fator é determinante para o crescimento do cogumelo.
Potencial nutricional – Os cogumelos são ricos em proteínas, carboidratos, minerais (potássio) e fibras. Por isso, segundo as pesquisadoras, é importante incentivar a cultura local, tanto o plantio por comunidades tradicionais quanto o consumo, uma vez que não faz parte da culinária regional.
Preço dificulta cultivo – Apesar de ser um novo nicho de mercado, as cientistas ressaltaram que o preço dificulta a comercialização. Elas disseram que 1 kg de “shiitake” (um tipo de cogumelo) chega a custar R$ 60,00, pois não são produzidos na região. Contudo, em São Paulo, o mesmo cogumelo custa R$ 25,00 o quilo. “Pretendemos incentivar o cultivo local por meio de cursos com especialistas de outros estados. É uma cultura que exige técnicas – metodologias, temperatura, climatização, além do tempo de prateleira ser curto”, enfatizaram.
Laboratório abre leque de oportunidades – Hoje o Inpa possui o primeiro laboratório para cultivo de cogumelos comestíveis da região Norte. É uma iniciativa pioneira da cientista Ceci Sales. A meta é realizar trabalhos na área para fazer do Amazonas um pólo produtor desses organismos. Ela disse que já houve a inauguração das instalações, mas faltam detalhes relacionados a parte técnico-científica para o laboratório funcionar.
Com o laboratório, segundo Ceci Sales, abre-se um leque de oportunidades relacionadas à produção e à comercialização desses organismos. Além disso, possibilita a comparação e a mudança de abordagens no cultivo de cogumelos a fim de transferir o conhecimento para produtores da região e pequenas comunidades. “Estamos ainda caminhando no processo. Temos informações de alguns resíduos que deram resultados e pretendemos continuar o projeto por muito tempo”, enfatizou.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam