Pesquisa revela percepção pública sobre Área de Preservação Ambiental em Canutama
Diagnosticar o nível de conhecimento em geral da população que reside no município de Canutama acerca da Área de Proteção Ambiental (APA), demonstrar o envolvimento e comprometimento na preservação de espécies principalmente de quelônios. Esses são os objetivos da pesquisa realizada por um grupo de estudiosos liderado pelo professor da Universidade Federal do Amazonas, mais especificamente do Departamento de Engenharia Química, Johnson Pontes de Moura. Além dele, atuaram no projeto José Augusto Silva de Araújo, Raimundo Carlos Barbosa de Souza, alunos do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Centro de Estudos Superiores de Lábrea-AM da Universidade do Estado do Amazonas-UEA, Luzia Gomes da Silva Pontes Moura, professora-visitante do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Centro de Estudos Superiores de Lábrea-Amazonas da UEA.
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Localizada em uma área de várzea, na margem direita do rio Purus, na zona rural do munícipio de Canutama, a APA Jamanduá possui aproximadamente 4 km² de extensão e é destinada à reprodução e preservação de quelônios e pássaros.Por conta dela, a pesquisa arregimentou levantamento bibliográfico, documental e ações de campo, um questionário aplicado de forma aleatória por conveniência e entrevista com a comunidade e gestores municipais.
Segundo o líder da pesquisa, professor Johnson Pontes de Moura, Canutama tem como principal economia a produção de farinha, mas o pescado tem se constituído nos últimos anos uma fonte econômica muito mais rentável e, por conta disso, muitos agricultores abandonaram suas profissões anteriores e passaram a praticar a pesca como fonte alternativa de subsistência.
Essa pesca desordenada, segundo o pesquisador, aliada aos atravessadores, que compram o peixe in-natura e o transportam para mercados consumidores como Porto Velho, Humaitá e Manaus, fez com que algumas espécies de peixes e de quelônios, principalmente da tartaruga (P. expansa) que é muito vislumbrada por seu tamanho e tem um custo elevado de mercado, diminuíssem drasticamente. Outras espécies, como o tracajá (Podocnemis unifilis) e o pitiú (P. sextuberculata) quase desapareceram devido à caça predatória e à coleta de ovos que é muito visado para compor a culinária local e a comercialização ilegal.
“Tartarugas e outros quelônios têm sido consumidos há muitas gerações na Amazônia. A carne é considerada uma iguaria na culinária local. Ao mostrar esse vislumbre pelo consumo da carne de quelônios, é possível fazer uma analogia histórica desse processo, que se encontra enraizado na cultura do amazonense e isso contribuiu para o quase desaparecimento dessas espécies e de outros recursos naturais da região. Contrapondo-se a uma relação de difícil forma de utilização por meio do homem, onde neste, está de forma mais arraigada os sentidos natos de ganância e valorização comercial dos quelônios antes mesmo de sobrevivência”, comentou.
População considera importância da APA
Como resultado da pesquisa, 58 alunos do Ensino Médio da Escola Estadual Tancredo de Almeida Neves 93% responderam que a APA é extremamente importante para Canutama, porque ajudaria a preservar e repovoar espécies de quelônios e outras espécies.
Foi notado, também, que 100% dos alunos responderam que o nível de preservação mudou de forma significativa aumentando em muito as espécies nativas da região, além de um olhar diferenciado por parte da população local. Da mesma forma, percebeu-se que quase 40% dos entrevistados responderam que o poder público deve respeitar as leis e denunciar os infratores.
“Apesar de a população de Canutama, inicialmente, ter sido contra a criação da APA, defendendo o modo de viver mediante ao consumo de quelônios, a maioria das pessoas que compõe a comunidade tem consciência que de alguma maneira deve ajudar o Município nesse processo de preservação e, principalmente, respeitar as leis vigentes”, salientou.
Fonte: Ufam