Pesquisa sobre genética de abelhas auxilia criação em cativeiro
Os recentes incentivos do governo federal no manejo e criação de abelhas têm levado cientistas a estudarem mais sobre a vida desse inseto. No Amazonas, um grupo de pesquisas coordenado pela doutora em Ciências Biológicas, Gislene Almeida Carvalho-Zilse, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), estuda a genética e o manejo das abelhas sem ferrão com o objetivo de desenvolver técnicas para criação em cativeiro e manutenção de suas populações naturais. O projeto conta com o apoio do Programa Primeiros Projetos (PPP) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
A pesquisa também visa a entender, por meio da genética, o modo de reprodução de abelhas num espaço limitado. A ideia é que os resultados possam subsidiar o governo na criação de programas de manejo de populações naturais no intuito de conservar as espécies.
A falta de informação técnica por parte de pequenos criadores pode causar prejuízos à espécie. De acordo com Zilse, estes insetos têm um mecanismo genético muito importante que pode ter implicações prejudiciais se manejado de forma incorreta, pois as abelhas não suportam a endogamia, ou seja, o cruzamento entre parentes.
“Geralmente as pessoas pegam três ou quatro colmeias, colocam numa caixinha (colmeia artificial feita de madeira) e começam a multiplicar indefinidamente. Isso nos preocupa”, explicou.
As abelhas nativas têm um papel ecológico importantíssimo para manutenção da floresta amazônica. No mundo existem aproximadamente 23 mil espécies já descritas. Dessas, 90% não formam colmeias. Restando apenas um grupo de mil a mil e quinhentas espécies, das quais 300 são encontradas no Brasil, sendo 88 na região amazônica. “O envolvimento delas na manutenção da biodiversidade da Amazônia se deve à polinização das plantas. Há trabalhos que indicam que 90% da polinização é feita pelas abelhas”, disse a cientista.
Ainda de acordo com a pesquisadora, a endogamia diminui a diversidade genética das abelhas, ocasionando pouca diferenciação de genes. A pesquisa estuda possibilidades de melhorar esse procedimento, aperfeiçoando o manejo.
Os estudos também comprovaram ser possível o uso do DNA para identificar as espécies, utilizando uma região mitocondrial chamada de 16s. “Existe uma iniciativa internacional, iniciada nos Estados Unidos, para tentar mapear a biodiversidade usando DNA. De certa forma, estamos na ponta da tecnologia”, ressaltou.
Outro ponto positivo da pesquisa é a formação de recursos humanos na área e a articulação com alguns órgãos de fomento, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a FAPEAM e o Banco do Brasil. “Nós temos uma demanda grande e precisamos formar mais pessoas interessadas em continuar este estudo”, finalizou.
Carlos Fábio Guimarães – Agência Fapeam
Fotos: Grupo de Pesquisas com Abelhas do Inpa (GPA)