Pesquisa usa biologia molecular para estudar o vetor do dengue


06/04/2011 – A dengue é uma doença sazonal e os maiores índices de transmissão no Estado do Amazonas ocorrem nos primeiros cinco meses do ano, quando há acentuação nos índices pluviométricos, na umidade e na temperatura, fatores que favorecem a criação e a proliferação do vetor, Aedes aegypti.

O projeto intitulado ‘Genética de populações do vetor da dengue, Aedes Aegypti (Diptera: Culicidae), do Estado do Amazonas (Brasil), com o emprego de Marcadores Microssatélites’, coordenado pela doutora Vera Margarete Scarpassa, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) é o resultado de uma dissertação de mestrado aprovada pelo Programa de Genética, Conservação e Biologia Evolutiva do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Segundo a pesquisadora, estudos demonstraram que as condições ambientais e as intervenções humanas (urbanização e atividades de controle) afetam a estrutura genética de populações desse vetor. “Além disso, análises da variação genética espacial e temporal proporcionam um melhor entendimento de como as mudanças genéticas ocorrem durante os períodos epidêmicos e interepidêmicos de transmissão da dengue”, explicou.

Flutuações no tamanho populacional dos mosquitos entre as estações chuvosa e seca podem resultar em variações nas frequências dos alelos (genes específicos) das populações e, como consequência, ocasionar uma possível alteração na estrutura genética das populações do vetor mudando suas características.

“Neste estudo foram realizadas análises de variação espacial e temporal de amostras de Aedes aegypti procedentes de quatro bairros de Manaus (Coroado, Jorge Teixeira, Cidade Nova e Praça 14 de Janeiro/Cachoeirinha), estimadas a partir de marcadores microssatélites”, declarou Scarpassa.

Sobre o DNA
Microssatélites são pequenos segmentos de DNA formados por grupos de 1 a 6 nucleotídeos que se repetem seguidamente, distribuindo-se de forma aleatória ao longo do genoma e que não apresentam função codificadora. Os microssatélites são utilizados como marcadores moleculares devido ao alto nível de polimorfismo encontrado, o que proporciona sua utilização em diversos propósitos de estudo populacional, permitindo analisar desde indivíduos até espécies proximamente relacionadas. 

Resultados

Os resultados obtidos até o momento demonstraram que a diferenciação genética tende a decrescer na estação chuvosa e aumentar significativamente na estação seca. ”Provavelmente, essa diminuição é decorrente do decréscimo no número de criadouros para as fêmeas do vetor. Observou-se também que o tamanho efetivo populacional foi muito menor na estação seca”, comentou a coordenadora.

Comparada a um estudo com o vetor da malária no qual se utilizou o mesmo marcador, a variação genética encontrada foi de baixa a moderada nas populações de Aedes aegypti de Manaus que pode ser um resultado da alternância entre os processos de extinções e recolonizações.   

Na prática, o estudo sugere alguns esforços de controle. “A aplicação do inseticida por parte dos órgãos de saúde responsáveis deve ser centralizada e direcionada no final da estação seca, quando as famílias de Aedes aegypti estão em densidade baixa e geneticamente mais diferenciadas, com objetivo de eliminar as populações residuais e/ou permanentes, além dos indivíduos migrantes que provavelmente se tornarão estabelecidos na próxima estação chuvosa”, frisou Scarpassa.

Na estação seca, o vetor está também reproduzindo, mesmo havendo um menor número de criadouros disponíveis, o que poderia tornar o controle do vetor mais efetivo. “Estes resultados são relevantes para o aprimoramento de medidas mais efetivas de controle deste vetor e contribuirá para reduzir a incidência da dengue”, finalizou a pesquisadora.

Programa e auxílio da FAPEAM

O estudo recebeu recursos no valor de R$ 30 mil, por meio do Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (Pipt), que consiste em apoiar, com auxílio-pesquisa e bolsas, mestres e doutores vinculados a instituições públicas e privadas sem fins lucrativos interessados em realizar pesquisas científicas e tecnológicas no Amazonas.

Redação: Anamaria Leventi

Edição: Ulysses Varela – Agência FAPEAM

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