Pesquisa utiliza o açaí como fonte de energia elétrica
Uma proposta de geração de energia promete mudar a realidade de comunidades isoladas na Amazônia. Trata-se do projeto Modelo de Negócio de Energia Elétrica em Comunidades Isoladas na Amazônia (Neram), coordenado pelo professor Rubem César Rodrigues, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com recursos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).
A tecnologia proposta é de geração de eletricidade inovadora (gaseificação) a partir do caroço do açaí – fruto endêmico da região, com vistas ao desenvolvimento local e passível de replicação, de modo a contribuir com o acesso elétrico a, por enquanto, quatro comunidades amazônicas: Cristo rei, Pentecostal do Brasil, Nossa Senhora da Conceição e São Francisco do Parauá.
Todas elas estão localizadas no município de Manacapuru (a 79 quilômetros de Manaus), na costa do Canabuoca II, à margem direita do Rio Solimões, selecionadas a partir de uma pesquisa inicial de perfil sócio-econômico. Cento e trinta e seis domicílios, escolas e centros comunitários serão diretamente beneficiados com a energia elétrica produzida pelo projeto.
“O atendimento de energia elétrica às comunidades isoladas na Amazônia por extensão de rede é um desafio, devido, principalmente, às barreiras físicas impostas pelos ecossistemas”, afirma Rubem Cesar.
Por apresentar um terreno mais alto, o que torna o ecossistema de várzea menos suscetível às inundações anuais, a comunidade São Francisco do Parauá foi escolhida para a instalação da agroindústria e também da usina, que vai gerar a energia para as demais.
Rubem César esclarece que o projeto tem por agentes executores as concessionárias e as permissionárias de distribuição de energia elétrica e também as cooperativas de eletrificação rural, autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
De acordo com o pesquisador, no que diz respeito à agroindústria, o projeto prevê o beneficiamento do açaí para extração da polpa, o aproveitamento do caroço como insumo energético (que será utilizado em um sistema de gaseificação) e os subprodutos do beneficiamento para compostagem (borra do processamento), papel (fibra de secagem do caroço), bio-jóias (caroço o açaí), etc.
Além do açaí, a agroindústria tem a capacidade para processar outros frutos tropicais, como a goiaba e o maracujá, também amplamente cultivados as comunidades locais.
Após estudos referentes às modalidades organizacionais, foi definida, com participação dos comunitários, a constituição da Cooperativa Energética e Agro-extrativista Rainha do Açaí (CEARA), estabelecendo sua marca e as demais ações necessárias para o esclarecimento de todas as atividades realizadas no local.
“Através do açaí a cooperativa produz energia elétrica, beneficia e comercializa a polpa. E por ser uma fonte de energia alternativa, diminui custos e contribui para a qualidade do meio ambiente”, explica Rubem César.
O projeto faz parte do Programa P&D da Centrais de Elétricas do Norte do Brasil S/A (Eletronorte), ainda com contrapartida do Centro de Desenvolvimento Energético Amazônico (Cdeam) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).