Pesquisador analisa substâncias antioxidantes para a indústria alimentícia
Acostumado a realizar pesquisas de campo no serrado, o cientista e bolsista do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR – Fluxo Contínuo), Pierre Alexandre dos Santos, viu-se diante de uma nova realidade ao chegar à Amazônia e ser aprovado no edital 005/2007 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Vindo de Goiás, hoje ele realiza experimentos no laboratório da Coordenação de Pesquisas em Produtos Naturais do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (CPPN/Inpa), onde coordena o projeto “Purificação e Identificação de Princípios Ativos de Plantas da Amazônia”.
Obter substâncias antioxidantes para a indústria de alimentos e bebidas é um dos objetivos do projeto, contou Santos. Para isso, é necessário isolá-las por meio de metodologias, algumas desenvolvidas no próprio laboratório e, em seguida, identificá-las. Ele explicou que o processo é complexo, pois se trabalha com massas extremamente pequenas, algumas menores do que uma enzima ou proteína.
Segundo o pesquisador, doutor em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto, uma das dificuldades do processo de separação das substâncias é a semelhança entre elas. “Isso dificulta o trabalho de separação e identificação, uma vez que os comportamentos físico e químico são parecidos”, disse.
Apesar das dificuldades encontradas no decorrer da pesquisa, iniciada há um ano e quatro meses, o grupo já obteve sucesso. Conforme Santos, a pesquisa está em uma fase adiantada, com dez substâncias isoladas, faltando apenas identificá-las, sendo este o próximo passo. Ele explicou que o trabalho fitoquímico não é tão simples porque desde a preparação do extrato até se conseguir isolar uma substância são gastos meses ou até anos.
“No laboratório, trabalhamos com metabólitos secundários. São micromoleculas muito pequenas, quando comparadas a uma enzima. Não sabemos muito bem a função da grande maioria delas nas plantas. Teorias afirmam que eles agem contra patógenos, bactérias, radiação ultravioleta”, explicou.
Mas a pesquisa, de acordo com Santos, não se restringe apenas ao laboratório, há também a coleta do material vegetal (plantas) na mata, as quais são encaminhadas para o departamento de Botânica para identificação. “Trabalhamos com várias famílias. Nossa prioridade, hoje é a Rubiaceae, a qual possui várias espécies, que, por enquanto, não podemos divulgar os nomes das que estamos analisando”, ressaltou e disse que só pode revelá-los depois de publicar os trabalhos.
O pesquisador disse que a parte de coleta na mata lhe causou um pouco de medo, uma vez que trabalhava com plantas do cerrado, que são de pequeno porte. Além disso, o local é muito diferente da realidade que estava acostumado. “Quando entrei na mata senti que não sabia mais de nada e que teria que aprender tudo novamente. É um processo de aprendizagem constante”.
O desafio de fazer pesquisa na Amazônia, um ambiente totalmente diferente do qual estava acostumado, não intimidou o pesquisador. Ele disse que pretende permanecer no Estado. Oportunidades não faltarão, pois a pesquisadora da CPPN, Cecília Verônica Nunez, teve o projeto “Identificação, Isolamento e Purificação de Substâncias Bioativas no Controle de Insetos, Bactérias e Outras Pragas Agropastorais e suas Viabilidades Econômicas” no âmbito do CT-Agro, no qual contribuirá.
O objetivo é buscar substâncias para produção de inseticidas, antibacteriano, tuberculose de bovino e outras pragas que atacam animais e vegetais. A idéia é pesquisar substâncias que podem ser utilizadas no agronegócio.
Antioxidantes – Neutralizam os radicais livres do organismo humano. Normalmente, segundo Santos, há um mito relacionado ao assunto de que o antioxidante é a “salvação” para a humanidade. Contudo, ele explicou que não é bem assim, uma vez que sem os radicais livres não sobreviveríamos. “O problema é quando os mecanismos de controle dos radicais livres não funcionam. Quando eles são registrados em altas concentrações, os antioxidantes são os responsáveis por equilibrá-los no organismo. O sistema imunológico produz radicais livres, por exemplo”, explicou.
CT-Agro – É o setor de agronegócios responsável por uma parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O foco do CT-AGRO é a capacitação científica e tecnológica nas áreas de agronomia, veterinária, biotecnologia, economia e sociologia agrícola, entre outras; atualização tecnológica da indústria agropecuária; estímulo à ampliação de investimentos na área de biotecnologia agrícola tropical e difusão de novas tecnologias.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam