Pesquisador desenvolve kit de diagnóstico rápido do rotavírus


26/10/2012 Dados da Sociedade Brasileira de Imunizações apontam a diarreia como a segunda maior causa de morte entre crianças de até 5 anos em todo o Brasil. Normalmente, ela é causada por um vírus denominado rotavírus que ataca as mucosas do intestino inviabilizando a absorção de líquido e causando uma grave desidratação.

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Preocupados com este cenário, os pesquisadores do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/Fiocruz), Paulo Nogueira e Patrícia Orlandi, iniciaram um projeto de pesquisa voltado a desenvolver um kit para diagnóstico rápido e preciso da presença do rotavírus no organismo.

O estudo está sendo desenvolvido desde 2006 com recursos na ordem de R$ 100 mil repassados por meio do Programa de Pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em saúde (PPSUS), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), em parceira com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O pesquisador Paulo Nogueira esclareceu que o objetivo das pesquisas é chegar a uma fita — semelhante à utilizada em testes de gravidez — para que se possa ter um diagnóstico rápido do vírus.

Testes

/Paulo Nogueira contou que a ideia surgiu a partir de um trabalho realizado pela pesquisadora Patrícia Orlandi, em Porto Velho, no ano de 2006, no qual o foco da pesquisa era a etimologia das diarreias infantins. “Ela verificou que a principal causa é o rotavírus e isso motivou nossa pesquisa. Atualmente, os kits de diagnósticos são importados e além de serem caros, não são tão rápidos quanto nossa proposta”, enfatizou.

No Amazonas, as pesquisas iniciaram com o auxílio de camundongos e coelhos que são imunizados e depois infectados para se testar a eficácia da nova técnica de diagnóstico. “Desenvolvemos antígenos do vírus e os utilizamos para imunizar os coelhos e camundongos. Depois, infectamos os animais para montar um sistema de teste. Por meio do sistema, testamos a eficácia do kit na detecção do rotavírus nas fezes do animal”, esclareceu.

Hibridoma

Nogueira explicou que o desenvolvimento do antígeno exige uma grande quantidade de infectados com o rotavírus. Para solucionar essa dificuldade, os pesquisadores desenvolveram uma linhagem celular, denominada de hibridoma, na qual os antígenos são produzidos em larga quantidade.

Por meio da hibridoma, é possível desenvolver e produzir anticorpos monoclonais — clonados e imortalizados — que produzem o mesmo anticorpo em resposta ao rotavírus. Para produzir a hibridoma e os anticorpos monoclonais, Nogueira explicou que são removidos linfócitos B — células que constituem o sistema imune — do baço dos camundongos.

Os linfócitos B são "fundidos com células de tumores, normalmente os cancerígenos, que têm a capacidade de se reproduzir igualitariamente por tempo indefinido". "Ao invés de termos de sacrificar vários camundongos para testar a eficiência do kit, nós sacrificamos um animal para retirar os linfócitos do baço e o fundimos com essa célula cancerígena. Dessa forma, conseguimos produzir anticorpos iguais em grande quantidade. Esse método já é um dos grandes resultado da pesquisa", esclareceu Nogueira.

Paulo Nogueira garantiu que o projeto do Kit está 95% concluído, restando apenas o teste de sensibilidade dos antígenos e anticorpos produzidos. “Tivemos alguns problemas com equipamentos que queimaram e isso atrasou os nossos resultados, mas até o final deste ano concluiremos os testes de sensibilidade para começar a testar a eficiência dos kits de diagnóstico rápido em humanos”, adiantou.

Entenda o rotavírus

O rotavírus é o agente etiológico causador da rotavirose, doença que tem como principais sintomas a diarreia abundante com duração de três a oito dias, vômito e febre alta. Uma das complicações é a desidratação grava, que se não for tratada de forma rápida pode ser fatal.

A transmissão ocorre pelo contato com secreções de pessoas infectadas ou pela ingestão de alimentos contaminados. A prevenção é feita por meio de cuidados simples com a higiene pessoal como: lavar as mãos antes de preparar os alimentos, antes das refeições e após usar o banheiro.

Segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 300 mil internações no Sistema Único de Saúde (SUS) e, aproximadamente, 850 óbitos em todo País são referentes a crianças infectadas pelo rotavírus.

A vacina contra o rotavírus faz parte do Calendário Nacional de Vacinação e é oferecida para crianças menores de seis meses em todos os postos de saúde do Brasil.

Sobre o PPSUS

O programa tem por objetivo contribuir para o desenvolvimento de pesquisas que auxiliem na resolução dos problemas prioritários de saúde e para o fortalecimento da gestão do SUS no Estado do Amazonas.

O PPSUS foi implementado em 2004, pela FAPEAM, em parceria com o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (Decit/SCTIE), do Ministério da Saúde (MS) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Camila Carvalho – Agência FAPEAM

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