Pesquisador do Amazonas é convidado para Harvard
A capacidade dos pesquisadores amazonenses está correndo o mundo, prova disso foi o convite feito ao pesquisador da Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde (CPCS) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Dr. Sílvio Manfredo Vieira, para realizar o pós-doutorado na Harvard Medical School (Boston, MA – USA) com um estudo sobre doenças auto-imunes abrangendo a esclerose múltipla e a diabetes.
Segundo Vieira, a maior vantagem de se trabalhar em um grupo de pesquisa desse porte é ter a possibilidade de trazer o conhecimento adquirido lá fora ao Estado do Amazonas. “Manter vínculos de colaboração internacional é permitir o desenvolvimento da Ciência, Tecnologia & Inovação (CT&I) no Amazonas, o que irá contribuir não somente para minha área de atuação, mas para outros pesquisadores que estão atuando em áreas diferentes onde a colaboração multidisciplinar poderá gerar projetos conceituais que irão além de nossas fronteiras”, ressaltou.
O pesquisador considera que essa oportunidade não é uma vitória exclusiva dele, mas é de toda a sociedade amazonense. Ele acredita que realizar estudos numa Universidade do porte de Harvard, com os melhores imunologistas da atualidade no mundo, é poder ser colaborador da criação de massa crítica em nossa região para, futuramente, desenvolver e orientar estudantes amazonenses em laboratórios adequados e de alto nível de pesquisa, para que estes sejam os desencadeadores de novas e ousadas propostas de pesquisa para o Estado.
“Dentre os potenciais intrínsecos de nossa região, nós temos aquilo que está ao nosso redor; uma vasta floresta onde relatos indicam a existência de substâncias naturais potencialmente terapêuticas, mas há muito a pesquisar para definir que moléculas seriam estas e como elas agem em nosso organismo. Esses estudos poderão trazer um imenso benefício, com consequente desenvolvimento de tecnologia de ponta e com base a partir daquilo que a floresta fornece. Esse tipo de pesquisa é amplo e tem uma característica multidisciplinar muito especial com foco biotecnológico, abordando principalmente a farmacologia, a imunologia, a fisiologia, a química e a bioquímica”, declarou Vieira.
Publicação de Artigo
O artigo que trata da participação do receptor NOD2 no deflagramento da artrite, intitulado: “NOD2/RIPK2/caspase-1 pathway regulates a TH17-dependent response that contributes to the developement of arthritis” está no prelo (em fase de publicação) de uma importantíssima revista americana de imunologia.
“Realizamos experimentos utilizando modelo animal da doença e também utilizando amostras oriundas tanto de indivíduos sadios quanto de pacientes com artrite reumatóide, na intenção de identificar se o receptor intracelular NOD2 é importante no processo da artrite. Observamos, no ser humano, que o receptor apresenta elevada expressão no paciente quando comparado a indivíduos sadios”, explicou.
Segundo o pesquisador, o camundongo transgênico que não possui o receptor NOD2 não desenvolve a artrite experimental, enquanto os animais selvagens desenvolvem a doença. É nisso que consiste o trabalho, a pesquisa de um alvo terapêutico para tratar essa doença inflamatória, a partir do estudo de um receptor que parece ser extremamente importante para o deflagramento da artrite, o receptor NOD2.
Vieira comenta que a principal questão é descobrir quem é o componente que está ligado a este receptor e deflagrando a resposta inflamatória. “Pode ser uma molécula externa ou uma proteína endógena que o organismo esteja produzindo, que ao se ligar ao receptor NOD2 deflagra a resposta inflamatória, e isto pode se tornar um alvo”, esclarece.
Quanto ao resultado da pesquisa, Vieira salienta que o importante é descobrir primeiramente o ligante do receptor NOD2 para a realização de novos testes em camundongos e, assim, poder apresentar à comunidade científica. O estudo tem como objetivo a descoberta de novo alvo terapêutico para a melhoria da qualidade de vida dos enfermos, finalizou Vieira.
Quanto à ida para Harvard, Vieira está animado com o início dos trabalhos junto ao grupo de imunologistas mais conceituado da atualidade, e com os benefícios que o firmamento desta forte colaboração trará para o Amazonas e para as pesquisas do jovem farmacologista do Brasil, que é fruto da casa.
Apoio da FAPEAM
De 2006 a 2010, Vieira realizou a pesquisa “Papel dos receptores Toll-like (TLRS) e NOD-like (NLR) na encefalomielite auto-imune experimental (EAE) e na artrite induzida por antígeno (AIA)”, por meio do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas (RHPosgrad), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), cuja finalidade é apoiar, com bolsas de estudo e auxílio-instalação, pesquisadores interessados em cursar mestrado ou doutorado em instituições fora do Estado do Amazonas.
Sebastião Alves – Agência Fapeam