Pesquisador obtém enzimas de fungos da Amazônia
O mercado mundial de enzimas movimenta milhões de dólares anualmente, mas a participação do Brasil é ínfima. A Amazônia, apesar de sua biodiversidade fúngica, não apresenta nenhuma participação nesse mercado, em função da falta de estudos que forneçam subsídios para o conhecimento desse potencial. Mas isto está prestes a mudar.
Com o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa no Amazonas (Fapeam), por meio do Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (PIPT), um grupo de pesquisa ligado ao Programa de Pós-Graduação em Biologia e Recursos Naturais da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) está desenvolvendo um projeto com fungos decompositores de madeira para extração de enzimas de interesse comercial.
De acordo com o coordenador da pesquisa, Ademir Castro Silva, os fungos utilizados são da classe Basidiomicetos, mas apenas os degradadores de madeira. “Por incrível que pareça, eles não são apenas destruidores; também podem ter grande utilidade e interesse para o homem”, ressalta o coordenador.
Ademir cita como exemplo o fungo Pycnoporus sanguineus, que está oferecendo excelentes resultados na decomposição de resíduos químicos da indústria de papel, um grande problema ambiental pela impossibilidade de descarte desse material na natureza.
Uma enzima produzida por este fungo é capaz de quebrar as moléculas desse resíduo, facilitando a sua decomposição. “Esse trabalho teve excelentes resultados e já foi publicado em uma revista científica na Alemanha. Falta agora realizarmos experiências fora do ambiente de laboratório”, diz Ademir.
O pesquisador também está bastante animado com o início dos trabalhos de pesquisa para a obtenção do ‘ácido cítrico’ extraído dos fungos. Segundo ele, a utilização deste ácido é largamente difundida no mundo inteiro na produção de alimentos, medicamentos, entre outras. Mas até hoje ele só foi obtido através da bactéria Penicilium migra.
“Se conseguirmos obter este ácido por meio dos fungos da Amazônia, certamente isso será de grande interesse comercial para o Brasil, que poderá entrar na concorrência deste mercado milionário de enzimas”.
Aldemir diz que também está em fase final de conclusão de outros projetos ainda mais exitosos de obtenção de enzimas, que podem vir a ser patenteados, mas faz questão de manter o sigilo para evitar que sejam pirateados.
O pesquisador lamenta que, até hoje, muito pouco tenha sido investido no Brasil e na Amazônia na área de biotecnologia, apesar do grande potencial da região.
Ele diz que, quando os pesquisadores locais conseguem algum avanço nas poucas pesquisas realizadas, rapidamente atraem atenção internacional de grande industrias, que acabam comprando as patentes já registradas para evitar a concorrência.
“O meu sonho é um dia conseguir montar uma pequena indústria de biotecnologia com os meu alunos. Não é difícil ficar milionário com isso, pois o mercado é muito grande e promissor”, garante Aldemir.
O que são enzimas?
As enzimas são proteínas especializadas que possuem o poder de acelerar as reações químicas, sem interferir no resultado final.
Elas estão entre as biomoléculas mais notáveis devido a sua extraordinária especificidade e poder catalítico, que são muito superiores aos dos catalisadores produzidos pelo homem.
Praticamente todas as reações que caracterizam o metabolismo celular dos seres vivos são catalisadas por enzimas.
Depois de extraídas de organismos vivos, elas podem ser utilizadas economicamente para acelerar reações químicas nas mais variadas áreas, desde a produção de medicamentos até a fabricação de detergentes.
Flávia Mendonça Decon/Fapeam