Pesquisador pergunta: Por que nossa ciência ainda não engrenou?
Leia a mensagem de Lindomar B. de Carvalho, pesquisador do Centro Internacional de Física da Matéria Condensada/UnB:
“A grosso modo toda ciência e pesquisa realizada no Brasil encontra-se dentro dos campi universitários das universidades e centros de pesquisas quase invariavelmente ligados ao estado.
Todavia, esta concentração não implica que os trabalhos realizados nestes institutos sejam suficientes para pôr o Brasil na vanguarda da pesquisa e desenvolvimento científico.
Aliás, nos países competidores esta lógica é inversa: as empresas e a iniciativa privada muito contribuem para o avanço da ciência e tecnologia.
Eu, como membro do sistema nacional, tenho percebido um grande potencial; vários aspectos porém impedem o sistema de fluir com a velocidade e eficácia necessária para que o país possa competir de igual para igual com aqueles que, sim, têm números mais felizes do que os nossos.
Alguns brasileiros acreditam que tais aspectos são oriundos da forma como fomos colonizados. Não gostaria de esquecer tais influências da colonização, porém vale lembrar que algum dia teremos que vencer este trauma colonizatório e fazer este país contribuir efetivamente para algum avanço científico real.
É urgente uma reforma universitária. Da forma como a universidade é gerida, parece um grande elefante branco, imóvel, lento, ineficiente. Infelizmente o corporativismo do sistema impede que a universidade pública seja um sistema dinâmico e eficiente.
Outro ponto importante, por razões mil, é que o nosso pensador ou catedrático nacional é, em geral, um ser muito conservador e por isto a palavra iniciativa privada impele em alguns um certo receio exagerado.
Para alguns, a universidade pública nunca deveria tentar desenvolver uma tela LCD para uma empresa privada, ainda que esta investisse milhões em alguns de nossos campi, comprando computadores, pagando bolsas, enfim, mantendo o sistema (realimentando-o).
Esquecem os nossos pensadores que isto sempre foi assim. A universidade em geral sempre gerou conhecimentos que sempre beneficiou mais alguns do que outros. Que a universidade universal nunca existiu e nunca existirá.
Esta incapacidade ao novo é que nos tem levado a sermos o que somos. Lentos. Ineficientes. Conheço casos que beira o ridículo, em geral envolvendo: compra de material (insumos) para pesquisa que levam séculos para tramitar pela burocracia estatal federal; análise de projetos pessimamente mal conduzidos (aos projetos recusados não lhes é oferecido motivos da recusa); ou, às vezes, conseguimos comprar uma “Ferrari” (digo equipamento de pesquisa de última geração) mas o campus é incapaz de fornecer uma garagenzinha (quatro paredes com uma tomada trifásica e algum ponto d água).
Enfim, coisas da estabilidade funcional do servidor publico federal. Do corporativismo. Aliás, penso que poderíamos conviver com tal estabilidade e corporativismo, porém precisamos de um projeto nacional para levar a ciência a produzir conhecimento e tecnologia.
Precisamos colocar o PAC dentro ciência ou a ciência dentro do PAC.”