Pesquisadora destaca crescimento do número de mulheres no poder e nas academias


08/03/2013 Nos últimos anos, o número de mulheres na ciência cresceu. O Diretório de Grupos de Pesquisa (DGP) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) comprova a afirmação. Os dados revelam que o número de cientistas do gênero feminino é praticamente o mesmo do gênero masculino. O censo de 2010 indica que na base, estão cadastrados cerca de 128,6 mil pesquisadores, dos quais a metade são mulheres. Essa realidade já foi diferente: em 1995, por exemplo, de cada 100 pesquisadores apenas 39 eram do sexo feminino.

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No âmbito do Amazonas, os números também são positivos. Atualmente, o banco de pesquisadores da FAPEAM, que concentra o número total diretamente vinculado aos programas e projetos desenvolvidos pela FAP do Amazonas, aponta que dos 30.244 pesquisadores cadastrados, 17.057 são do gênero feminino.

Em entrevista à Agência FAPEAM, a doutora em Ciências Sociais e coordenadora da Editora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Iraíldes Caldas, destacou os principais fatores que contribuem para o crescimento do número de mulheres em pesquisas dentro das academias, especialmente no Estado.

Caldas, que também é professora da Ufam, é autora dos livros ‘Intersecção de Gênero na Amazônia’, ‘O Ethos das Mulheres da Floresta’ e ‘Tráfico de Mulheres na Amazônia’, lançados no último sábado (02/03), no Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), Centro de Manaus.

Na avaliação da autora, três fatores são fundamentais para o crescimento da visibilidade da mulher no contexto amazônico: as discussões sobre relações de gênero, a visibilidade da mulher na academia e em profissões de ascensão, e o investimento do Estado na qualificação e formação em recursos humanos. Confira a entrevista:

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Agência FAPEAM – Na sua avaliação, que fatores contribuem para o destaque da mulher em cargos de autoridade?

Iraíldes Caldas – Eu considero que tem a ver com o País de modo geral e com o mundo. As relações dos países com a ONU (Organização das Nações Unidas) têm favorecido um certo equilíbrio nas relações de gênero. O fato de o Brasil estar em franco desenvolvimento econômico e social, o torna um País eminente dentro das relações internacionais, e faz dele uma Nação reconhecida e importante no meio dessas relações.

O Brasil é pressionado internacionalmente a pontuar bem, no âmbito do desenvolvimento humano. Assim como o País pontua no âmbito da economia, ele é pressionado a pontuar bem com relação a não ter preconceito, a não excluir as mulheres do poder.

Também é importante refletirmos que o Brasil continua a ostentar um não-desenvolvimento nas áreas sociais, na área do desenvolvimento humano. Na medida em que continua a matar mulheres, a fazer cárceres de mulheres nos bordeis, o País continua a ser uma sociedade muito autoritária em relação às minorias sociais, dentro das quais estão inseridas as mulheres.

Historicamente, em nosso País muitas mulheres foram excluídas das relações de ascensão e hierarquia. E essas relações demandaram que as mulheres buscassem, pela educação, sua ascensão e seu lugar ao sol. Como diz Paulo Freire: ‘Só a educação liberta".

AF – Como a senhora avalia o aumento do número de mulheres nas academias e no poder aqui na região amazônica?

IC – Nesse processo conjuntural de busca de elevar o País a um patamar reconhecido no campo das relações sociais e de gênero também entra o Amazonas. No ano de 1995, aconteceu a Conferência Mundial na China, quando foi exigido que os países colocassem as mulheres nas políticas públicas e nos espaços de poder. Esses países foram se preparando para isso por oito anos. E isso acaba sendo uma coisa de pressão mesmo.

Mas,  foi ano de 2003 que realmente se começou a vislumbrar o reconhecimento da cidadania das mulheres. Como exemplo, temos a criação da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, em que tivemos de uma vez por todas e, de forma clara, o reconhecimento do Estado Brasileiro na condição da cidadania da mulher. Nesse contexto, o governo Lula inaugurou uma forma democrática de ouvir a população, utilizando-se de consultas públicas, de fóruns, debates e, sobretudo, de conferências realizadas em todo o País.

Portanto, essa democracia de ouvir, ainda em que algum momento não se implemente o que a população está dizendo, já representa a perspectiva republicana de um Estado que reconhece as minorias, que reconhece a participação popular. Isso é fundamental. A partir deste novo conceito de governo tivemos a oportunidade de uma série de procedimentos democráticos que remetem para essa visibilização da mulher. E aqui no Amazonas nós temos que pontuar que as pesquisas realizadas na academia têm contribuído muito para esse destaque. Há um evento chamado ‘Encontro de Estudo sobre Mulheres da Floresta’ apoiado pela FAPEAM. Esse evento cientifico regional, realizado na Ufam, tem debatido a participação das mulheres.

AF – Essa visibilidade da mulher na academia deve-se apenas ao interesse de qualificação profissional ou aos incentivos do governo na formação de recursos humanos?

IC – Nós temos no Estado do Amazonas, inclusive nas faculdades particulares, o crescimento dessa visibilidade. Eu acredito que, em Manaus, temos um movimento feminista forte. São mulheres aguerridas, que vão para a rua, que construíram uma política por dentro da democracia do debate, por dentro das mobilizações sociais populares, das manifestações de ruas. Então, o movimento feminista acabou contribuindo fortemente para que muitas mulheres buscassem a academia para estudar. E essa formação em relação ao gênero, eu comprovo, porque há mais de duas décadas, formo pessoas na Ufam. Foram mais de 50 publicações de conclusão de curso, 20 dissertações de mestrado.

Como exemplo notório dessas iniciativas, nós temos a FAPEAM, que vem contribuindo significativamente para essa visibilização de gênero na linha de pesquisa em cursos de pós-graduação. A FAP ajuda, de forma relevante, com a eferta de bolsas para doutorandos, mestrandos. A Fundação ajuda a construir o objeto da pesquisa e dá oportunidade para o pós-graduando desenvolver bem seu trabalho. E não é uma pequena dissertação. Realmente, há trabalhos relevantes para o contexto amazônico e a inserção da mulher no cenário científico.

Janaina Karla – Agência FAPEAM

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