Pesquisadores brasileiros lançam a Rede Nacional de Ciência para a Educação


Integrar esforços dos vários laboratórios e pesquisadores do Brasil, de qualquer especialidade, cujo trabalho poderia ser aplicado à Educação. Com esse desafio nas mãos, um grupo de 29 pesquisadores de diferentes universidades brasileiras se reuniu para formar a Rede Nacional de Ciência para a Educação (Rede CpE). Eles apostam no trabalho de profissionais inovadores voltados à aplicação do resultado de suas pesquisas científicas no processo educacional. De acordo com o documento que lançou a Rede, trata-se da mesma concepção que orienta a pesquisa translacional visando aplicações na saúde, neste caso visando aplicações na educação.

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Roberto Lent, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas, do Centro de Ciências da Saúde (CCS), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) faz parte desse grupo e contou que a ideia surgiu por estímulo da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), que o convidou para representá-la em um simpósio sobre “Science of Learning”, em Shanghai, China, no início do ano. “Percebi que os países mais avançados em educação, estão também avançados nas aplicações da ciência sobre as práticas educacionais. Constatei que não basta resolvermos as questões mais básicas da educação brasileira – salários dos professores, tempo integral para os alunos etc. temos que estar na vanguarda da criação de tecnologias e procedimentos educacionais que otimizem a educação em todas as suas formas. Nesse contexto, a pesquisa científica sobre todos os aspectos da educação torna-se essencial para superarmos o “gap” educacional que nos separa dos países desenvolvidos”, explicou Lent.

O pesquisador reforça que a rede pretende estimular o conceito de pesquisa translacional voltada para educação. “Pretendemos fazer da mesma forma como estamos habituados a fazer com a saúde. E neste caso, trabalhamos com duas formas: a pesquisa translacional direta (da bancada de laboratório para a sala de aula) e reversa (da sala de aula para a bancada de laboratório). Então, os projetos não serão apenas realizados com as crianças, mas poderão ser feitos inclusive com modelos animais de aprendizagem e memória, por exemplo. Nossa concepção é bastante ampla, e para chegar à aplicação em sala de aula, precisaremos da mediação dos professores, educadores e gestores educacionais”, afirmou.

A equipe da Rede CpE definiu pelo menos dois grandes problemas que devem ser trabalhados por eles. O primeiro diz respeito à falta de compartilhamento e integração do conhecimento científico sobre o ensino e a aprendizagem. De acordo com o documento divulgado por eles, essa desconexão atrapalha um entendimento profundo e global sobre os processos educacionais, o que pode levar a interpretações prematuras e/ou inapropriadas de achados em pesquisa. ‘UmaCiência para a Educação que promova enfoques integrativos e interdisciplinares, para sinergisticamente abordar as várias complexidades acerca do ensino e da aprendizagem.’

O segundo desafio é quanto à aplicação de práticas educacionais baseadas em evidências. “Se por ora há uma aceitação implícita de que o conhecimento sobre como as pessoas ensinam e aprendem deva ser a base para determinar como devemos ensinar e educar, a realidade é que pesquisadores, elaboradores de políticas educacionais, gestores e educadores raramente têm oportunidade de examinar e discutir os problemas acerca da aplicação de práticas educacionais baseadas em evidências” traz o documento.

Sugestões e possibilidades – O próximo passo é colocar em prática o que ficou definido no papel. Segundo Lent inicialmente a rede terá um funcionamento informal, com contatos por emaile presenciais. “Em 2015 passaremos a criar uma estrutura mínima com sede no Instituto de Ciências Biomédicas, e realizaremos um censo dos grupos de pesquisa brasileiros cuja linha de trabalho tem potencial para aplicação em educação. Realizaremos também em julho de 2015 um simpósio-satélite do Congresso Mundial sobre o Cérebro (IBRO 2015), com convidados internacionais. Mais à frente gostaríamos de criar laboratórios multidisciplinares e multiusuários para a realização de pesquisas, além dos laboratórios dos grupos participantes da rede”, disse.

De acordo com Lent, os pesquisadores não sabem ainda como serão aplicados os resultados das pesquisas e estudos científicos na prática das salas de aula. “Isso não sabemos ainda. Mas não pretendemos fornecer nenhuma “receita” aos professores ou gestores. Apenas pretendemos sugerir possibilidades baseadas na ciência, para que eles decidam a viabilidade, oportunidade e meios de experimentá-las em sala de aula”, resumiu o diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.

 

 

Fonte: Jornal da Ciência, por Edna Ferreira

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