Pesquisas ajudam a melhorar produção de alimentos na várzea do AM
12/01/2011 – A pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, por meio da sua Unidade Embrapa Amazônia Ocidental, em Manaus, vem desenvolvendo um estudo sobre o ecossistema de várzeas do Amazonas (terras que periodicamente são alagadas pela cheia dos rios). Os resultados mostram que é possível aproveitar melhor o potencial agrícola desses solos férteis, além de desenvolver plantas com melhor qualidade nutricional, mais produtivas e adaptadas a esse ecossistema.
“As várzeas amazônicas representam uma alternativa para produção sustentável de grãos pelas populações locais do Amazonas”, afirma o pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, José Ricardo Pupo Gonçalves, que em 2010 conduziu experimentos em que foram avaliadas 40 variedades de feijão-caupi, 36 de milho e 22 de arroz, na várzea do rio Amazonas, visando melhorar a produção para atender agricultores familiares.
Cada variedade corresponde a um genótipo diferente, ou seja, cada uma contém um conjunto de informações hereditárias que se diferencia da outra. Tomando como exemplo o feijão-caupi, a variedade mais produtiva dessa espécie testada pela Embrapa na várzea rendeu 1.400 quilos por hectare (kg/ha), mais que o dobro da produtividade média estadual, que oscila em torno de 600 kg/ha. A alta produtividade conseguida no experimento é atribuída às qualidades dos genótipos de feijão-caupi combinadas com a fertilidade natural do solo de várzea.
Capacidade produtiva
Os resultados dessa pesquisa mostraram alta capacidade produtiva da várzea e também o desempenho de melhores genótipos para aquele ambiente. A produtividade obtida nesses experimentos com feijão em várzea representa o triplo do que é conseguido em terra firme (terras não alagáveis), com a metade dos custos de produção.
No experimento em várzea não houve incremento de adubação com insumos químicos, nem foi necessário fazer correção do solo com calcário, pois o plantio foi realizado em um tipo de solo com baixa acidez, altos teores de cálcio e magnésio e nível baixo de alumínio. Nos solos de terra firme os custos são maiores porque são necessários investimentos com o uso de calcário para correção do solo e adubação a fim de obter uma produção que torne o cultivo viável.
De acordo com o pesquisador, o uso de genótipos de grãos mais adaptados à várzea pode aumentar a quantidade e a qualidade dos alimentos produzidos, contribuindo para melhorar a renda dos agricultores, principalmente daqueles que não possuem recursos para investir em insumos para a produção.
Os trabalhos de pesquisa realizados no Amazonas para avaliação de grãos têm ações vinculadas a três projetos desenvolvidos na Embrapa Amazônia Ocidental, em parceria com centros de pesquisa da Embrapa e de outras instituições. Um desses projetos é em parceria com a Embrapa Meio Norte (Teresina-PI) para avaliação de genótipos de feijão-caupi. Outro é em parceria com a Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) para avaliação de genótipos de milho. E há ainda ações no projeto Desenvolvimento de Pesquisa em Processos e Produtos Agropecuários Aplicados ao Agronegócio Familiar (Despa), que tem a parceria da Universidade Federal do Amazonas(Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Cultivares recomendadas
Atualmente, as cultivares de feijão-caupi recomendadas pela Embrapa para a várzea do Amazonas são a BRS Guariba, BRS Nova Era, BRS Paraguassu e BRS Xiquexique. A produtividade média estadual de feijão-caupi está em 600 kg/ha em áreas de várzea.
Com a utilização das cultivares recomendadas, a produtividade aumenta em pelo menos 70% nos solos de várzea. Entre as cultivares de feijão recomendadas pela Embrapa para o Amazonas, uma se destaca pelo valor nutricional. É a BRS Xiquexique, cultivar desenvolvida pela Embrapa Meio Norte e lançada em 2008, que se diferencia por possuir alto teor de ferro e zinco, minerais importantes para a saúde de qualquer pessoa.
A cultivar de feijão BRS Xiquexique apresenta, em média, 77 mg de ferro e 53 mg de zinco por quilo, duas vezes mais que os demais feijões. Esse tipo de feijão é um dos alimentos biofortificados, desenvolvidos pela Embrapa.
A biofortificação é uma estratégia, baseada no melhoramento genético convencional, para fortalecer nutricionalmente alimentos e combater o que os especialistas chamam de ‘fome oculta’, que é a carência de micronutrientes essenciais para a saúde, como vitamina A, ferro e zinco. Nesse caso, o problema não é apenas a falta de alimentos, mas também a má nutrição ou a deficiência de nutrientes específicos. E isso se constitui em um problema enfrentado por populações pobres em várias partes do mundo, pois a deficiência de ferro e zinco no corpo causa anemia e retarda o crescimento, prejudicando especialmente crianças e gestantes.
A Embrapa Agroindústria de Alimentos, unidade sediada no Rio de Janeiro, coordena o projeto BioFort, que se dedica à biofortificação de alimentos básicos como arroz, feijão, milho, mandioca, batata-doce, abóbora e trigo. Esse trabalho conta com a participação de várias unidades da Embrapa e está integrado a um esforço de uma rede internacional de instituições de pesquisa, nos programas HarvestPlus e AgroSalud, com objetivo de combater a fome e a desnutrição na América Latina, Caribe, Ásia e África.
Os programas desenvolvem ações para fortalecer nutricionalmente alimentos mais consumidos pelos pobres. Vale ressaltar que o melhoramento genético convencional se baseia na seleção e cruzamento de variedades de plantas de uma mesma espécie, aproveitando características naturais encontradas nestas variedades.
Agência FAPEAM
Síglia Regina – Embrapa Amazônia Ocidental