Plantas amazônicas podem auxiliar no tratamento de inflamações uterinas e obesidade
Em andamento, o estudo avalia a utilização das plantas Jucá, Carapanaúba e o Uchi-Amarelo no tratamento das doenças
O Jucá, a Carapanaúba e o Uchi-Amarelo, que são plantas medicinais nativas da região Amazônica, estão sendo analisadas por pesquisadores com o objetivo de avaliar a utilização delas nos tratamentos de inflamações uterinas e no manejo adjuvante da obesidade. A pesquisa científica é desenvolvida por pesquisadores do Departamento de Química da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
O estudo conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) por meio por meio do Programa de Apoio à Pesquisa – Universal Amazonas, edital Nº 002/2018, que financia atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação, ou de transferência tecnológica, em todas as áreas de conhecimento, representam contribuição significativa para o desenvolvimento do Estado do Amazonas.
A coordenadora do projeto e doutora em Química Orgânica, Rita Nunomura, explica que a proposta do estudo é fazer a caracterização química das espécies vegetais, que consiste especificamente em identificar quais são os tipos de substâncias e o princípio ativo que se encontram nas plantas que foram selecionadas para os testes laboratoriais, e a partir daí verificar o potencial biológico dessas substâncias através de estudos de atividade antioxidante, antimicrobiana, citotóxica e no combate à obesidade.

Jucá, Carapanaúba e Uchi-Amarelo são analisadas em estudo científico por pequisadores da Ufam, Inpa e UFMS
Segundo Rita, na Amazônia o uso popular de plantas medicinais está inserido na cultura regional, mas alerta que o uso indiscriminado de plantas para o tratamento de doenças sem qualquer comprovação científica pode ser perigoso, uma vez que muitas dessas plantas podem não apresentar a atividade biológica preconizada, ou seja, não apresenta a atividade para a qual é indicada popularmente, podendo até mesmo serem tóxicas.
“Por esse motivo é de fundamental importância que tanto os estudos químicos quanto o das atividades biológicas dessas espécies sejam realizados para validar o uso medicinal dessas espécies de plantas”, alertou
A coordenadora explica que a análise química para isolar e identificar os principais constituintes químicos presentes nas espécies vegetais está sendo feita no Laboratório de Abertura de Amostras e Ensaios Químicos da Central Analítica da Ufam em parceria com o Inpa , e a partir dessa investigação, conjuntamente com os parceiros, realizar os ensaios biológicos.
“As espécies vegetais Carapanaúba, Uchi-Amarelo cujo principal componente é a bergenina, assim como o Jucá estão sendo estudados pelo grupo de pesquisa e os resultados são bastante promissores, indicando diversas propriedades, entre elas, anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana”, explica a coordenadora
A pesquisadora ressalta que mais estudos precisam ser realizados para a comprovação e validação dessas espécies como medicinais e que esse projeto visa dar continuidade aos estudos com essas espécies abordando de uma forma multidisciplinar a química e a farmacologia dessas espécies vegetais.

É feita a coleta das espécies vegetais, com seleção e limpeza das partes colhidas, depois passa para os processos de secagem, moagem e peneiramento, até formar uma espécie de serragem
A parte da pesquisa que trata sobre a farmacologia abordará estudos de atividade antimicrobiana, antiproliferativa e inibitória de enzimas mediadoras da inflamação a fim de avaliar o potencial para o qual são indicadas, que envolve o tratamento de miomas, cistos, endometriose, além de outras inflamações uterinas.
“Considerando que algumas dessas espécies têm indicado potencial inibitório de enzimas relacionadas à obesidade, estudos mais aprofundados através de testes in vivo também serão realizados a fim de verificar o potencial dessas espécies para o combate à obesidade”, disse.
O grupo de pesquisa acredita que o projeto deve contribuir para o desenvolvimento científico da região na agregação de conhecimento, no desenvolvimento tecnológico para o desenvolvimento de futuros produtos a partir de plantas amazônicas medicinais.
PESQUISA EM ETAPAS
A coordenadora da pesquisa explica que os estudos tiveram início em 2016 e parte da identificação dos constituintes químicos e atividade antimicrobiana devem terminar em 2019.
Primeiramente é feita a coleta das espécies vegetais, com seleção e limpeza das partes colhidas, depois passa para os processos de secagem, moagem e peneiramento, até formar uma espécie de serragem. Esse material é reservado em frascos de vidros com solventes (Etanol ou Metanol) que é um álcool que tem o poder de extrair várias classes de substâncias, exatamente por ele ser orgânico ter a capacidade de extrair substâncias apolares e também as de alta polaridade.

Pesquisa tem como objetivo avaliar a utilização das plantas nos tratamentos de inflamações uterinas e no manejo adjuvante da obesidade
“O material fica por vários dias imersos no solvente e depois filtra esse material, descarta a serragem e concentra o extrato removendo os solventes em rotaevaporador”, contou.
Segundo a pesquisadora o extrato concentrado é submetido a sucessivos fracionamentos até chegar até uma substância isolada. Em seguida as frações são testadas para verificar quais delas apresentam potencial antioxidante, antimicrobiano e citotóxico.
Rita Nunomura explica que os testes in vitro para identificar as atividades citotóxicas e antimicrobianas serão realizados em parceria com a UFMS, através das Dras. Simone Schneider Weber e Renata Trentin.
A coordenadora esclarece que os estudos neste projeto envolvendo caracterização química e ensaios de atividade biológica a serem realizados são o pontapé inicial, uma vez que indicam o potencial biológico dessas espécies.
A pesquisadora esclarece que para o desenvolvimento de um produto seguro, ainda são necessários vários estudos com diferentes parceiros, envolvendo outros ensaios biológicos e ensaios clínicos. A divulgação desses resultados busca despertar o interesse de mais pesquisadores e empresas para o desenvolvimento dos mesmos e para validação dessas espécies popularmente. Além disso, contribui para a valorização dos produtos da região de forma que desperte o interesse no uso sustentável da floresta Amazônica.
“Entre os resultados obtidos, temos a caracterização química de frações ricas em substâncias fenólicas das espécies Endopleura uchi (uchi-amarelo) e Libidibia ferrea (jucá), bem como a verificação de seu alto potencial antioxidante por meio de ensaios químicos realizados. A espécie Aspidosperma nitidum (carapanaúba) também tem demonstrado potencial antioxidante e inibitório de enzimas relacionadas com o Sistema Nervoso Central (SNC), possivelmente devido à presença de uma classe de substâncias comumente encontrada no gênero, que são os alcaloides”, disse Rita
“Os estudos da obesidade com a espécie E.uchi têm demonstrado o potencial de redução de sobrepeso nos animais testados, bem como nos níveis de colesterol em comparação com animais que não receberam tratamento. O estudo também tem demonstrado que a espécie também apresenta potencial profilático, inibindo o ganho de peso mediante a indução da obesidade nos animais testados” explicou a pesquisadora.
Por: Helen de Melo
Fotos: Barbara Brito