Produtores do Amazonas conhecem e aprovam sistema ILPF
“É possível produzir alimentos no Amazonas sem derrubar mais uma árvore sequer, apenas utilizando áreas como as de pastagens degradadas. O sistema ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) gera renda ao produtor com sustentabilidade ambiental”. A frase, dita pelo pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Jasiel Nunes, define bem como foi o Dia de Campo Recuperação de Pastagens pelo Sistema ILPF, que aconteceu na quinta-feira (12/02), em Autazes, município do interior do Amazonas que tem tradição na produção pecuária.
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O sistema ILPF é uma opção recomendada pela Embrapa para recuperar pastagens com menor custo, agregando retorno econômico ao produtor, diversificação na produção de alimentos e benefícios ambientais na propriedade. “Com esse sistema, você faz a lavoura, trabalha com a pecuária e a floresta na mesma área, simultaneamente. Na hora que colher o milho, nós temos essa pastagem de qualidade formada e beneficiada pela adubação e palhada do milho. Além disso, o produtor ainda pode trabalhar com uma espécie florestal, que também pode gerar renda e serve para o conforto animal”, explicou Nunes, que coordenou o evento.
Em quatro estações, cerca de 200 pessoas puderam ver como o sistema foi implantado na propriedade do agricultor Allan Kardec, que sedia uma Unidade de Referência Tecnológica (URT) – área que serve como demonstração do ILPF para outros agricultores. Kardec é exemplo do que hoje acontece no Amazonas, onde 60% das áreas de pastagens estão degradadas ou em estado de degradação. “A gente percebia que a alimentação para os animais era cada vez menor. Com esse sistema, eu já notei que a pastagem vem forte, vai ficar de excelente qualidade e com custo quase zero, porque com a safra do milho eu consigo pagar o que investi para corrigir a área. Com certeza vou expandir o sistema para mais áreas da propriedade”, disse.
Durante o evento, os pesquisadores da Embrapa, Gilvan Coimbra, Jasiel Nunes, Inocencio Oliveira e Rogério Perin, o analista da Embrapa, Raimundo Rocha, e o gerente local do Idam, Maurício Borges, distribuídos em quatro estações, explicaram como funciona o ILPF e quais as etapas foram cumpridas para implantação da URT. Depois da destoca da área, o solo recebeu aração, gradagem, aplicação e incorporação de calcário, adubação com nitrogênio, fósforo e potássio, seguida do plantio de milho. A forrageira foi plantada juntamente com a primeira adubação de cobertura, quando o milho estava com quatro folhas. O milho utilizado é das cultivares BR 106, BR Sempre Verde e híbrido AG1051. A espécie forrageira escolhida foi o capim Mombaça.
Na URT, os custos com preparo da área e plantio mecanizado, calcário, adubações de plantio e de cobertura, sementes de milho e da forrageira ficou em R$ 6.283,00 por hectare. Em contrapartida, apenas com a safra do milho, quando comercializado verde (40 mil espigas), rende R$ 6 mil/ha, com a vantagem de restar no campo uma pastagem de qualidade para alimentação animal. Na propriedade, o produtor Allan Kardec trabalha com gado de leite. Para essa atividade, com a pastagem recuperada, estimou-se a população de cinco animais por hectare ao ano. Se for calculada a quantidade de dez litros/dia por animal, com período de lactação de 240 dias ao ano e o valor pago de R$ 1,20 por litro, é possível obter o rendimento de R$ 18 mil/ha/ano com o leite. Para o milho, principal grão indicado para o sistema no Amazonas, ainda existem as opções de venda como grão seco e uso na propriedade como silagem – opções menos lucrativas em relação ao milho verde, mas que podem ser utilizadas, dependendo do interesse do produtor.
Para ter sucesso no sistema nas condições do Amazonas, o agricultor deve ter cuidado com diversos pontos, como fazer a análise e preparar o solo, utilizar maquinário adequado, plantar no período chuvoso (entre outubro e março), escolher cultivares adaptadas à região, e fazer o controle de plantas daninhas e de pragas como a lagarta-do-cartucho. A escolha da espécie forrageira também é importante. Quando se trabalha com o solo em boas condições, o produtor pode introduzir gramíneas mais exigentes como, por exemplo, o capim-estrela, Mombaça, Vencedor e Tanzânia, que têm rendimento de 20 a 30 toneladas/ha/ano – possibilitando, assim, o aumento do número de animais em uma mesma área.
Após assistir atentamente a todas as estações, o produtor de Autazes, Raimundo Nonato, que trabalha com pecuária de leite, aprovou o sistema ILPF, e, com auxílio técnico, pretende implantar em sua propriedade. “Achei muito interessante o Dia de Campo e essa questão de consorciar o milho com a pastagem, e a gente consegue ver os resultados no campo”, destacou.
ILPF no Brasil
O ILPF vem sendo recomendado pela Embrapa nas várias regiões do Brasil como importante estratégia para agregar à produção agropecuária mais sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Em cada bioma e nas diversas regiões, o sistema é adequado para diferentes formatos e finalidades. A maior representatividade de adoção do sistema predomina nas regiões Centro-Oeste e Sul do País. Além da diversificação na renda do produtor rural, a integração de atividades agrícolas, pecuárias e florestais pelo ILPF na mesma área resulta também em benefícios ao meio ambiente, como melhorias no solo, equilíbrio na utilização dos recursos naturais e diminuição das emissões de gases de efeito estufa.
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Fonte: Embrapa Amazônia Ocidental