Professor Visitante Sênior utiliza a experiência para superar desafios em pesquisas


24/10/2012 – Com 26 anos de experiência em pesquisa científica, doutorado em Bioquímica e Genética Molecular pela McGill University de Montreal, no Canadá, o pesquisador sênior Marcelo Távora Mira, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), está no Amazonas para auxiliar, por mais dois anos, o desenvolvimento de pesquisas científicas na Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado do Amazonas (FHemoam).  

Ele é membro das Sociedades Brasileira de Dermatologia, de Genética da American Society oh Human Genetics e já esteve no Estado nos últimos três anos desenvolvendo projetos de pesquisas na Fundação de Medicina Tropical Heitor Vieira Dourado (FMT-AM) por meio do Programa Pesquisador Visitante Sênior (PVS) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (FAPEAM).

Nesta entrevista exclusiva a Agência FAPEAM, o pesquisador sênior conta como foi a troca de experiências na FMT por meio do PVS e salienta a importância da FAPEAM para o desenvolvimento de pesquisas no Amazonas.

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Agência FAPEAM – Qual sua avaliação sobre o Programa Estratégico de Ciência, Tecnologia & Inovação nas Fundações Estaduais de Saúde (Pecti/AM Saúde), no qual o senhor é Professor Visitante Sênior (PVS) no Amazonas?

Marcelo Távora Mira  – O meu sonho era ter um programa PVS no Paraná e aí receber pesquisadores de  outros Estados, inclusive daqui, para fazer o que faço aqui. O Programa Pecti com bolsa Professor Visitante Sênior (PVS) é um programa secular, tem tudo a ver com ciência por que a boa ciência é baseada na troca de experiências. É exatamente o que acontece quando uma instituição como a FAPEAM traz pesquisadores de outros lugares para desenvolver pesquisas no Amazonas.

AF – Quais foram os principais desafios enfrentados ao longo do programa na Fundação de Medicina Tropical Heitor Veira Dourado (FMT-AM)?

MM – Ninguém gosta de gente intrometida, de gente chegando de fora e dando pitaco na sua área. Com a experiência de três anos de PVS no FMT-AM, nós não prevíamos essa dificuldade e tivemos de lidar com ela. Percebemos que quando você chega como um estranho, em uma instituição  que já tem seus pesquisadores, essas pessoas trabalham dentro do seu universo e é natural que seja gerada uma certa resistência. Essa resistência e as dificuldades decorrentes dela foram quebradas com muita paciência e com a demonstração, na prática, de com a ciência pode ser feita melhor se houver interação.

AF – Como foi agregar a experiência de anos de pesquisa e seus conhecimentos às peculiaridades da região Amazônica?

MM – Para nós, pesquisadores seniores, esse foi um desafio e tanto. Os ritmos, os métodos e as maneiras de trabalhar são extremamente diferentes. Nos seis primeiros meses cheguei a colocar a bolsa a disposição por acreditar que o programa não iria funcionar por haver um choque de culturas, hábitos e rotinas de trabalho, tanto da parte dos pesquisadores amazonenses, que não se sentiam à vontade com estranhos em seu ambiente de pesquisa, quanto da minha parte por estar chegando a uma instituição tão diferente da minha no Paraná. Mas logo percebi que o PVS não é uma intromissão ao trabalho de pesquisa, pelo contrário, é um programa que funciona exatamente porque possibilita a troca de experiências entre pesquisadores de instituições tão distintas. Claro que temos nossos interesses em pesquisas, mas somos “pesquisadores profissionais” e o que nós fascina é o processo de formação científica.

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AF – Quais foram os benefícios para a produção científica local adquiridos por meio do PVS?

 

MM – Tivemos dois benefícios logo de imediato. O primeiro foi conquistado a partir da ideia de fazer uma oficina de redação de artigos e desengavetar projetos que estavam parados. Eram trabalhos que não estávamos desenvolvendo como professores visitantes, mas ajudamos a publicar. A pesquisa é uma ferramenta para solucionar os problemas da sociedade, mas se o trabalho estiver engavetado, não adianta. O segundo benefício foi em nível de capacitação de recursos. A FMT-AM já captava recursos antes do PVS, mas se formos analisar os índices é nítido  que ela passou por de uma instituição que captava recursos em um determinado nível para a que mais captou recursos já no primeiro ano do Programa. Isso só aconteceu porque logo de início resolvemos identificar pessoas com potencial e escrevemos projetos que foram submetidos e aprovados pela própria FAPEAM, na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

AF – Qual a perspectiva para a execução do PVS no FHemoam levando-se em conta que o perfil de atividade da instituição é diferente das linhas de pesquisa dos professores visitantes?

MM – Boa ciência é boa ciência, não importa a área e isso não me preocupa. Existe uma diferença entre a FMT-AM e a FHemoam em termos de consolidação da produção científica. Na FMT já havia um curso de doutorado e mestrado em andamento e pesquisadores renomados, o que talvez tenha gerado uma resistência maior a nossa chegada. Na FHemoam a receptividade está sendo maior porque estamos chegando junto com o curso de mestrado, logo poderemos auxiliar inclusive no processo de desenvolvimento desses projetos. Já vimos vários trabalhos excelentes que logo serão publicados e vários outros pesquisadores já nos procuraram com ideias de novos projetos que serão submetidos.

AF – Como você avalia a importância da FAPEAM nesse contexto?

MM – A FAPEAM é onde toda essa ideia foi tornada possível. Muitos pesquisadores desejavam essa troca de experiência, mas foi por meio da Fap do Amazonas que as iniciativas saíram do campo das ideias e partiu para a prática. Quem conseguiu desmitificar questões crucias, como tempo de pesquisa, bolsas atraentes para que pesquisadores deixassem suas instituições por uma semana a cada mês e viessem se dedicar a outras pesquisas, e fazer com que o programa desse certo foi a FAPEAM.

Camila Carvalho – Agência Fapeam

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