Projeto ensina moradores a criarem abelhas nativas
Os moradores do ramal do Brasileirinho, localizado no bairro Jorge Teixeira, na zona Leste de Manaus, agora podem ter uma nova forma de obter renda e garantir o sustento da família. Isso porque por meio do subprojeto “meliponicultura”, que durou um ano e meio, eles aprenderam as técnicas utilizadas para criação e manejo para produção de mel de abelhas Melipona compressipes manaosensis, conhecidas como abelhas japurá. O próximo passo, agora, é produzir mel para revender.
Durante as aulas, as famílias aprenderam sobre a biologia das abelhas e sua importância econômica e ambiental, características necessárias para se manejar e multiplicar uma colônia de abelhas em caixas padronizadas (colméias de madeira). Também foram abordados assuntos como sistemas agroflorestais, manutenção de colméias em cativeiro (criadouro ou meliponário), formação de pasto apícola (plantio de espécies cujas flores são visitadas e utilizadas pelas abelhas), polinização, transferência de colméias de troncos para colméias racionais, multiplicação induzida de colméias, inimigos naturais, manejo para produção de mel e pólen.
O subprojeto foi implantado como parte do projeto “Estudos Agronômicos e Sociais de Três Comunidades Rurais do Amazonas Visando suas Sustentabilidades a Longo Prazo”, que é coordenado pelo doutor em Microbiologia, Luiz Antônio de Oliveira, cientista da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
O projeto conta com o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e tem como objetivo fazer um estudo de viabilidade e sustentabilidade ambiental, social e econômica dos municípios de Presidente Figueiredo, Barreirinha e Manaus, no ramal do Brasileirinho. A idéia é identificar potencialidades nas comunidades para introduzir novos produtos e tecnologias. No caso dos moradores do ramal do Brasileirinho foi a criação de abelhas indígenas sem ferrão.
O trabalho serviu de base para monografia do servidor do Grupo de Pesquisas com Abelhas (GPA/INPA) e integrante do projeto, Hélio Conceição Vilas Boas sob orientação da doutora em Ciências Biológicas Gislene Almeida Carvalho-Zilse. Ele é finalista do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Nilton Lins.
Vilas Boas ressaltou que para execução dos trabalhos junto aos produtores foram adquiridas 12 colméias matrizes, cada uma a R$ 150. As colônias foram utilizadas para o trabalho prático de implantação do meliponário e conseqüente aumento rápido do número de colméias pela multiplicação induzida das colméias. “O objetivo era implantar e incentivar a criação de abelhas entre pequenos produtores já estabelecidos sem precisar retirar ninhos da natureza. Dessa forma, não estamos agredindo o meio ambiente, explicou”.
O trabalho com os moradores deu tão certo que, segundo Vilas Boas, antes existia apenas um meliponário na comunidade do Brasileirinho e, hoje, existem oito demonstrando o impacto positivo da meliponicultura. Além disso, como resultado das multiplicações das 12 colméias matrizes do início do projeto, agora existem 67. “Essa é somente a primeira etapa, que consistiu na transferência da técnica. E, apesar do curso ter sido concluído no último dia 26 de outubro, nós continuaremos dando suporte aos moradores e eles passarão a produzir o mel para revender tendo como fonte as colméias que foram formadas. O que será possível porque cada família ficou com oito caixas racionais. Isso que é o importante”, comemorou.
Vilas Boas disse que, inicialmente, o objetivo não era produzir mel, mas fazer com que as colméias atingissem o nível de qualidade desejado para multiplicá-las. O que requer algumas características, por exemplo, número de abelhas da colônia (2 a 3 mil); quantidade de alimento estocado (potes contendo mel ou pólen); além da quantidade de discos de cria nova (células onde a rainha coloca ovos que originarão novas abelhas) e cria nascente (abelhas prontas para nascerem), informou.
Preço do mel – Vilas Boas destacou que os produtores poderão vender o litro do mel por até R$ 50. Uma colônia produz cerca de um 1,5 litros de mel por ano.. Ele explicou que o alto preço se deve a produção ainda incipiente além dos custos de produção que envolve também os cuidados necessários para a manutenção da colméia com o objetivo de se evitar as pragas que atacam o meliponário. Entre elas, há as formigas e os forídeos, (pequenas moscas atraída pelo cheiro do pólen armazenado na colméia).
“Quando uma caixa racional é multiplicada para formar uma nova colméia pode haver algum tipo de ruptura nos potes de mel ou pólen ou ainda nos discos de cria, o que possibilita que as moscas invadam a colméia e depositem seus ovos. Como estas moscas tem o desenvolvimento super rápido, após eclodirem suas larvas são vorazes e podem comer todo o pólen, mel, alimento larval e até mesmo sugar as novas crias das abelhas”, alertou.