Raízes da resistência científica
No texto, os pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, descrevem a origem da recusa em aceitar noções científicas. “Essa resistência tem implicações sociais importantes, uma vez que um público cientificamente ignorante está despreparado para avaliar políticas a respeito de temas como aquecimento global, vacinação, organismos geneticamente modificados, pesquisa com células-tronco e clonagem.”
Segundo os pesquisadores, a resistência tem origem especialmente em concepções e inclinações presentes na infância e que continuariam por toda a vida adulta. Adultos resistiriam a fatos científicos por não os encararem como intuitivos ou naturais, comportamento que derivaria de suas experiências quando crianças.
“A principal fonte de resistência está relacionada ao conhecimento das crianças antes de serem expostas à ciência. O problema em ensinar ciência a crianças não é tanto o que o estudante não tem, mas o que ele tem, ou seja, uma estrutura conceitual alternativa para compreender os fenômenos cobertos pelas teorias que tentamos ensinar”, disseram.
Um exemplo dado pelos autores está na noção já presente em crianças pequenas de que objetos caem ao ser soltos, o que complicaria a compreensão a respeito da forma terrestre. Se o planeta é redondo, por que pessoas do outro lado não caem para fora dele? Seria uma dúvida comum.
Para os pesquisadores, apenas aos 8 ou 9 anos as crianças passariam a entender questões como gravidade, ainda que muitos continuem a representar em atividades escolares a Terra, por exemplo, como uma meia esfera de topo achatado ou como uma esfera oca em que as pessoas viveriam no interior.
“A resistência à ciência é particularmente exagerada em sociedades em que ideologias não científicas contam com vantagens de estarem tanto imbuídas no senso comum como transmitidas por fontes consideradas fidedignas”, afirmaram.
Ou seja, a resistência a noções científicas seria ainda maior em situações em que haveria uma alternativa não científica, baseada em senso comum e aceita por pessoas ou setores considerados confiáveis.
“Esse é o cenário atual nos Estados Unidos, em relação a princípios fundamentais em áreas como neurociência ou biologia evolucionária. Tais conceitos se chocam com crenças intuitivas, que são defendidas e transmitidas por autoridades políticas e religiosas”, destacaram.
O artigo Childhood Origins of Adult Resistance to Science, de Paul Bloom e Deena Weisberg, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.