Rede de pesquisas para o combate à dengue


09/05/2011 – Considerada um dos maiores problemas de saúde pública do mundo, a dengue afeta 50 milhões de pessoas todos os anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), especialmente nos países tropicais, onde as condições socioambientais favorecem o desenvolvimento e a proliferação de seu principal vetor, o mosquito Aedes aegypti. Atualmente, o único método disponível para sua prevenção é o combate ao mosquito, já que esta é uma doença viral aguda, sem tratamento específico e ainda sem vacina.

Vários países estão investindo em pesquisas, diante do crescente número de pessoas expostas ao vírus e dos desafios acerca do conhecimento científico sobre a doença, diagnóstico e controle de vetores. No Brasil, o Amazonas soma esforços de instituições e pesquisadores em busca de conhecimento e desenvolvimento de tecnologia.

Um dos projetos de destaque é o ‘Estudo da dengue nas regiões Norte e Sudeste do Brasil: criação de uma rede interdisciplinar de pesquisa básica e aplicada’. O estudo, iniciado no segundo semestre de 2010, e que terá duração de quatro anos, envolve cerca de 40 pesquisadores de Manaus-AM, Boa Vista-RR e Ribeirão Preto-SP.

O objetivo é estudar a dengue em seus aspectos clínicos, epidemiológicos, laboratoriais e de prevenção, formando recursos humanos, fomentando a pesquisa interdisciplinar básica e aplicada, bem como a transferência de tecnologia. Para isso, o grupo trabalha em rede, valorizando a troca de experiências e as especialidades de cada instituição formadora da rede. São elas: Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD/ Fiocruz Amazônia), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Fundação de Medicina Tropical (FMT-AM), Universidade de São Paulo (USP/Ribeirão Preto) e Universidade Federal de Roraima (UFRR).

De acordo com o entomólogo e pesquisador da Fiocruz Amazônia, Sérgio Luz, o objetivo principal é analisar o vírus da dengue quando ainda está dentro do vetor (mosquito) e também quando está dentro do hospedeiro (homem), já que este consegue viver em meio a ambientes totalmente diferentes. “Entender quais as possíveis diferenças ou semelhanças mais importantes entre o vírus que existe no vetor e o que existe no ser humano talvez possa ser a chave ou possa ajudar a indicar caminhos para o tratamento da doença e o desenvolvimento de fármacos e de estratégias de controle”, explicou o pesquisador.

No campo do diasrc=../../../../arquivos/imagens/imgeditor/naveca.JPGgnóstico e evolução do vírus, o projeto pretende estudar a epidemiologia molecular dos vírus da dengue isolados/detectados de pacientes e vetores, visando à determinação de rotas de introdução e de dispersão nos três estados estudados. O virologista e pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca, que participa do projeto e atua em parceria com pesquisadores da FMT-AM em âmbito local, explica que o estudo também visa a avaliar novos métodos de biologia molecular no diagnóstico laboratorial de dengue em pacientes e vetores. “Vamos estudar os aspectos genéticos dos vírus associados às formas graves e não graves da dengue”, afirmou Naveca.

Este estudo é um dos 15 projetos aprovados para a implantação de uma rede interregional e interdisciplinar no Brasil, por meio do Programa de Apoio aos Núcleos de Excelência (Pronex – Rede Dengue). O programa contou com recursos de R$ 22,7 milhões, oriundos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de 20 Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), incluindo a Fapeam, com o aporte de R$ 600 mil.

O segundo projeto participante da Rede Dengue, que conta com pesquisadores do Amazonas, está trabalhando os desenvolvimento de um biosensor que vai ajudar no diagnóstico rápido dadengue e do vírus H1N1 e de um sistema integrado para o controle da dengue. O projeto é coordenado pelo professor José Luiz de Lima Filho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e conta com a parceria da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e das Universidades do Ceará, de São Paulo e de Minas Gerais.

A FAPEAM apoia pesquisas voltadas para o estudo da dengue há seis anos. A primeira iniciativa foi em 2004, por meio do Programa de Pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em saúde (PPSUS), com financiamento do projeto ‘Detecção e tipagem de vírus do dengue em Aedes aegypti na cidade de Manaus’, do biólogo e pesquisador do Inpa, Cristovão Costa.

Saúde na Amazônia

O Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz/AM) desenvolve pesquisas sobre a dengue desde 2002, quando passou a contar com sede própria, motivado pelo lançamento e chamadas internas para incentivar seus pesquisadores a desenvolverem estudos sobre a doença. Vislumbrando um possível campo de atuação, os pesquisadores do instituto, entre eles o entomólogo Sérgio Luz, presente desde o início no centro de pesquisa em Manaus, propuseram um projeto com o objetivo de agregar essa área de pesquisa à Fiocruz Amazônia.

Atualmente, a unidade conta com cinco pesquisadores trabalhando com dengue, sendo três no estudo da ecologia de vetores e dois no estudo do vírus. A equipe conta ainda com a participação de alunos de mestrado e de iniciação científica. Eles atuam em três linhas de pesquisa:vetores, evolução dovírus, e diagnóstico diferencial.

Vacina e remédiosrc=../../../../arquivos/imagens/imgeditor/magela.JPG

Existem várias iniciativas mundiais para o desenvolvimento de uma vacina para a dengue. No Brasil, uma delas está em andamento, por meio do acordo de transferência tecnológica firmado entre a Fiocruz e o laboratório britânico GlaxoSmithKline. O acordo prevê que o governo brasileiro e o laboratório privado também desenvolvam vacinas para malária e febre amarela e que compartilhem a patente dessas vacinas.

Entretanto, para que uma vacina contra a dengue seja realmente eficaz, é necessário que ela seja capaz de proteger contra os quatro sorotipos do vírus, daí sua especificidade e o desafio para os laboratórios. “Algumas pesquisas obtiveram resposta quanto a alguns sorotipos, mas não contra os quatro. É um consenso que a vacina da dengue precisa proteger contra todos os sorotipos”, afirmou Felipe Naveca, pesquisador em Saúde Pública da Fiocruz Amazônia.

Doença endêmica

A dengue só se tornou uma realidade preocupante como problema de saúde pública no Amazonas a partir de 1998, quando houve a primeira epidemia, por conta da circulação do sorotipo DENV1, chegando à notificação de 13.894 casos. Com a identificação da circulação do sorotipo DENV2 no final do ano 2000, desencadeou-se uma outra epidemia de grandes proporções em 2001, com 19.173 casos registrados e a presença de formas graves da doença, com 52 casos confirmados de Febre Hemorrágica da Dengue e a ocorrência de um óbito.

Em 2002 e 2003 o número de casos foi expressivo e houve a introdução do sorotipo DENV3. “A partir da primeira epidemia, a dengue ficou presente o ano todo e isso é o comportamento de uma doença endêmica, que significa doença própria daquele local”, explicou o infectologista e chefe do Departamento Clínico da Fundação de Medicina Tropical, Antônio Magela.

Magela destacou que mosquito da dengue é um inimigo valoroso diante da sua capacidade de adaptação. “Ele possui uma inteligência evolutiva e conseguiu desenvolver uma maneira de viver muito próxima ao ser humano”, disse.

Foto 1: Pesquisador da Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca (Foto: Ag. FAPEAM)
Foto 2: Infectologista da Fundação de Medicina Tropical, Antônio Magela (Foto:Ag. FAPEAM)

Anália Barbosa – Agência FAPEAM

 

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