República: conhecimento científico como pilar para o desenvolvimento


15/11/2012- Cada vez mais, observamos o papel relevante desempenhado pela ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento do Brasil. A comemoração, neste 15 de novembro, dos 123 anos da Proclamação da República do País marca um ponto fundamental na trajetória dos investimentos em CT&I e sua construção como um pilar para a soberania brasileira.

O Brasil é um país continental e rico em recursos naturais, com reservas energéticas e uma biodiversidade a ser sustentavelmente explorada para produção de conhecimento científico.

Contudo, a defasagem financeira e tecnológica em áreas estratégicas, como as áreas de fronteira, e a desigualdade nos aportes em CT&I, acabam colocando o País em condição de desigualdade na produção do conhecimento científico.

Atualmente, grande parte desse conhecimento e as tecnologias de ponta estão sob o comando de países que integram o centro mundial do poder e isso lhes garantem vantagens nos aspectos políticos, econômicos, sociais e militares.
 
De acordo com o Relatório Mundial da Ciência produzido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Brasil ocupa a 13ª posição no ranking de produção científica mundial.
 
O ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, garante que esse cenário irá mudar. Durante reunião com secretários de Ciência,/ Tecnologia e Inovação e dos presidentes de Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa da Região Norte para tratar sobre o Plano Norte de CT&I, realizado em Manaus, ele informou que os investimentos na produção científica serão prioridade em sua gestão.

“Quero ter uma gestão marcada por ações e temos de agir agora, não podemos mais esperar. Temos de formular um Plano estratégico para o Norte já no bojo de um plano para o Brasil e investir nossos recursos em pesquisa e inovação”, garantiu o ministro.

O Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento da Amazônia Brasileira vem sendo gestado há cerca de seis meses a partir de uma reunião entre secretários e presidentes de FAPs na Região Norte. Ele vem sendo construído conjuntamente e se encontra numa fase em que o MCTI aportou recursos para a sua construção e desperta o interesse de outras instituições como o Banco Interamericano de desenvolvimento (BID).

A diretora-presidenta da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), Maria Olívia Simão, salientou a importância do Plano de CT&I para a Região Norte e o legado que as ações entre as secretarias de CT&I e as FAPs deixarão para o Brasil. “O Conselho Nacional das FAPs criou toda uma mobilização para que nós possamos estabelecer prioridades estratégicas no desenvolvimento da região. Nesse contexto, os investimentos são fundamentais. Não iremos nos desenvolver de forma sustentável usando métodos clássicos e a mudança exige massa crítica bem formada para pensar em novas soluções tecnológicas que possam aliar o desenvolvimento social, o desenvolvimento econômico e a conservação da Floresta Amazônica”, ponderou Olívia.

O secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti-AM), Odenildo Sena, disse que a perspectiva é que o plano abranja ações voltadas para CT&I para os próximos 30 anos, desvinculadas de políticas de governo para se tornarem ações de Estado. “Queremos elaborar um plano que possa representar um legado a partir da confluência de ações para o desenvolvimento dessa região que todo mundo considera da maior relevância, mas que o Brasil continua dando pouca importância”, afirmou o secretário.
 

Cenário em expansão
 Os investimentos em pesquisas relacionadas à inovação e alta tecnologia para subsidiar a matriz de exportações estão refletindo positiva e gradativamente na produção científica e no número de mestres e doutores formados pelo Brasil, além da criação de novos núcleos de pesquisa em instituições de ensino.

Segundo levantamento divulgado pelo Institute for Scientific Information (ISI), em 2008, 30,4 mil artigos científicos e outros tipos de publicações foram divulgados por brasileiros trabalhando no Brasil em revistas de circulação internacional. Em 2010, esse número chegou a aproximadamente 40,5 mil, em 2011 os números chegaram a quase 50 mil.

A ISI ainda está compilando os dados referentes às publicações de 2012, mas a estimativa é que aproximadamente 52 mil artigos científicos e outros tipos de publicações sejam de origem brasileira (pesquisadores nacionais e/ou pesquisadores que desenvolveram pesquisas no Brasil e conseguiram publicar seus trabalhos).

País para poucos
O cientista político e professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Gilson Gil, ponderou que historicamente o Brasil foi pensado por suas elites como um país para poucos: poucos consumidores, poucos letrados, poucos pesquisadores, poucos empresários.

Ele também visualizou que esse cenário vem mudando desde a Proclamação da República. “Os dilemas atuais estão mais relacionados à sociedade massificada, cujo mercado se expandiu, mas ainda possuem gargalos que necessitam ser resolvidos, como a violência, o crescimento das cidades, a disputa entre o agronegócio e ambientalistas e, principalmente, o desenvolvimento científico. São questões que ainda precisam ser equacionadas no horizonte de uma democracia de massas, com um mercado consumidor amplo, exigente e sem restrições”, ponderou o cientista político.
 
Ciência e soberania: investimentos necessários
 O pesquisador da Escola Superior de Guerra (ESG) do Rio de Janeiro, Douglas Marcelo Merquior, buscou entender no que o conhecimento científico pode refletir no processo de soberania e onde os investimentos aplicados dariam mais resultados práticos.

Em 2011, durante a comemoração dos 122 anos de Proclamação da República, ele concluiu a pesquisa intitulada “CT&I como pilares para a soberania nacional” na qual destacou os avanços científicos como principal ferramenta para o desenvolvimento do Brasil.

“Apesar do desenvolvimento científico e tecnológico do País ter iniciado com atraso em relação aos países centrais, hoje já podem ser observados avanços que levaram ao reconhecimento internacional, tendo atingido, em 2010, a décima terceira posição em quantidade de publicações científicas. No entanto, este avanço na ciência nacional ainda não refletiu diretamente no desenvolvimento tecnológico, como pode ser verificado pela quantidade de patentes ainda pouco significativa diante da atual importância da economia brasileira no cenário internacional”, ponderou.

Merquior ponderou ainda que para chegar ao desenvolvimento tecnológico esperado, é necessário que o Governo Federal e as instituições ligadas a CT&I façam investimentos a médio e longo prazo.

“O ideal é que sejam feitos investimentos de médio e longo prazos na capacitação de recursos humanos, com base em um sistema universal e eficaz de educação, associados a uma política de estímulo à inovação nas organizações e empresas, são ações fundamentais para o desenvolvimento sustentável da CT&I, que, sem dúvida, representam pilares estratégicos para a soberania nacional”, defendeu o pesquisador.

Camila Carvalho – Agência FAPEAM

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