Resíduos orgânicos são foco de estudos na área de química e biotecnologia
29/03/2012 – Diariamente, resíduos de produtos oriundos da Floresta Amazônica são descartados pela indústria local. São sementes de cupuaçu, caroços de tucumã, bagaço de frutas e até pedaços de madeiras. Muitos acabam sendo descartados em lixeiras, sem nenhuma destinação correta servindo apenas para poluir o meio ambiente e, consequentemente, transtornos à população.
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Para tentar mudar esta realidade pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) estão desenvolvendo projetos de pesquisas para valorizar os resíduos descartados pela indústria. A iniciativa conta com o incentivo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), por meio do Programa da Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (Bionorte), realizado em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Um destes projetos é o intitulado ‘Processos fitoquímicos avançados para a obtenção de bioprodutos a partir de resíduos do extrativismo vegetal da Amazônia’, desenvolvido sob a coordenação do professor Valdir Florêncio da Veiga, da Ufam.
Resíduos sem valor agregado
Segundo o pesquisador, atualmente, as empresas armazenam os resíduos em seus pátios até que seja feita a doação do material com finalidades para compostagem, adubo ou para ração animal. Entretanto, a pesquisa desenvolvida por ele e sua equipe promove o aproveitamento químico desse material, por meio da extração de resíduos – moléculas que tenham ações biológicas.
O pesquisador cita como exemplo o caroço do tucumã que, normalmente, após a utilização da popa, a semente, que representa a maior parte do fruto é descartada apesar de possuir várias destinações possíveis, como por exemplo o aproveitamento da amêndoa para produção de óleos para indústria de cosméticos, biocombustível, sabão, ou a parte externa da semente para biojoias, dentre outras utilidades. “Agora pretendemos dar outro direcionamento a estes resíduos, focando na produção bioquímica desse material”, destacou.
Aproveitamento Bioquímico
Para Veiga, destes mesmos resíduos são extraídos os carotenoides (substâncias essenciais para a fabricação de cosméticos). O carotenoide é um tipo de pigmento natural, disponível nos alimentos como o betacaroteno e o licopeno, os quais são convertidos em vitamina A. “Estas substâncias são importantes para a prevenção da xeroftalmia (doença que atinge os olhos) e de distúrbios de crescimento da primeira infância, consequentes da deficiência da vitamina A”, destacou o pesquisador.
O pesquisador adiantou ainda que o consumo desta vitamina tem relação inversa com o desenvolvimento de câncer, funcionando como antioxidante natural, protegendo as membranas celulares contra danos oxidativos.
Outros compostos moleculares como os fenólicos e flavonoides também encontrados na semente do tucumã podem ter aproveitamento para suplemento alimentar. O composto fenólico pertence a um grupo de antioxidantes que combatem o envelhecimento celular. Já os flavonoides são substâncias antioxidantes e anti-inflamatórias que se encontram em determinadas alimentos como frutos secos, chás – especialmente o chá verde, vinho tinto, uvas, suco de laranja, cebolas, tomates e o chocolate amargo.
“Estudos recentes demonstram que o consumo diário de flavonoides pode prevenir doenças como o câncer e problemas cardiovasculares”, finalizou Veiga.
Parcerias institucionais
O desenvolvimento da pesquisa contou com a participação de várias instituições de ensino e pesquisa da Região Norte como a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que coordena o estudo, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Amazônia), no Acre, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Pará, a Universidade Federal do Pará (UFPA) e a Universidade Federal de Tocantins (UFT).
Apoio da FAPEAM
Segundo o pesquisador o apoio da FAPEAM foi essencial para o desenvolvimento do trabalho. “Grande parte das pesquisas desenvolvidas no seu departamento têm apoio da FAPEAM. Espero que iniciativas como essas venham consolidar cada vez mais o desenvolvimento e o avanço das pesquisas em nosso Estado”, complementou.
Sobre o Programa
O Biocom visa apoiar atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação mediante a seleção de propostas para apoio financeiro a projetos, em conformidade com as condições estabelecidas em regulamento específico. O programa é uma ação transversal que envolve o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), o o Fundo Setorial da Amazônia (CT-Amazônia) e o Fundo Setorial de Biotecnologia (CT-Biotec), por intermédio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Sebastião Alves – Agência FAPEAM