Resistência indígena no início do século 20 é tema de pesquisa
25/08/2011 – Analisar os aspectos da realidade do Alto Rio Negro do início do século 20, a partir das representações relatadas pelo bispo do Amazonas Dom Frederico Costa, principalmente na relação entre índio e branco, foi o objetivo da pesquisa ‘Sociedade, relações de poder e religiosidade no Alto Rio Negro a partir das representações de Dom Frederico Costa’, realizada pelo mestre em História João da Silva Lopes.
O estudo realizado por meio do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e financiado pelo Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) procurou analisar como a visão do agente dominador era retratada naquela época em relação aos indígenas.
Lopes explicou que procurou analisar a carta pastoral de Dom Frederico Costa e constatou que a visão do bispo em relação aos indígenas enquadrava-se na perspectiva tradicional própria de seu tempo, ou seja, os índios eram representados como vilões e vítimas. “A pesquisa trata da resistência indígena em situação de dominação e a posição da Igreja diante dos abusos cometidos naquela região”, completou.
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O pesquisador ainda explicou que tais sociedades indígenas, constituídas pelos povos Tukano, Dessano, Baniwa, Yanomami, Macu, dentre outros, mesmo em situação de conflito com o homem branco, atuaram como sujeitos de seu próprio processo histórico. “Eles utilizavam estratégias diferenciadas, a partir da rejeição de todo tipo de tutela inclusive as realizadas por sociólogos e antropólogos que sempre foram seus fortes aliados”, comentou.
Representações da condição indígena
A carta de Dom Frederico representou essas sociedades como as grandes vítimas do conflituoso encontro interétnico, principalmente para as crianças, que na visão do bispo, necessitavam de um tutor ou tutora. A Igreja, por sua vez, passaria a ser essa tutora, a partir da chegada de missionários salesianos os quais substituíram a dominação dos seringalistas e comerciantes por uma outra: a cultural, que era exercida pela religião e a educação.
Estratégia indígena pela sobrevivência
Lopes ressalta que as etnias do Alto Rio Negro, por meio de suas lideranças, buscavam superar os desafios e os conflitos vividos naquele momento histórico, os quais desenvolveram variadas estratégias de luta e resistência e uma delas foi aliar-se à igreja.
Para o pesquisador, essa estratégia implicou nas transformações da organização social, política e econômica, que fez parte do processo de luta pela sobrevivência e contribuiu para que esses povos fossem sofisticando suas ações em defesa de seus direitos. “Aos poucos, eles foram se apropriando da língua, da escrita e até mesmo da ferramenta de luta social dos brancos, ou seja, fizeram associações”, disse.
O estudo contribui para a memória dos povos indígenas na Amazônia
Lopes ressalta que o estudo poderá ser aproveitado nas escolas, sobretudo nas do Alto Rio Negro. Ele considera que isso pode ajudar na construção da memória de luta e resistência dos povos da Amazônia e também pode ajudar a compreender a consolidação da Igreja no interior no Amazonas.
Sobre o Posgrad
O Programa Institucional de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu (Posgrad) consiste em apoiar, com bolsas de mestrado e doutorado, e auxílio financeiro, as instituições localizadas no Estado do Amazonas que desenvolvam programas de pós-graduação Stricto Sensu credenciados pela Capes.
Sebastião Alves – Agência FAPEAM