Rio+20: Antropólogo denuncia exploração do conhecimento tradicional dos piaçabeiros


21/06/2012 – O conhecimento tradicional em manejo de piaçaba, fibra utilizada na vassoura, vem sendo explorado por comerciantes que utilizam a mão-de-obra escrava de indígenas de várias etnias, principalmente tucanos e bares, no Médio Rio Negro, em Barcelos, município da Amazônia que faz fronteiras com a Venezuela.

Esse foi o tema central da conferência "Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil", proferida pelo antropólogo Alfredo Wagner Berno de Almeida, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) – que faz parte da série SBPC na Rio+20, realizada no Armazém 4, do Pier Mauá, zona portuária do Rio de Janeiro.
 

Embora os indígenas sejam os protagonistas da Rio+20 pelo papel que exercem na preservação e conservação da Biodiversidade, o termo Sociobiodiversidade, que envolve a situação socieoconômica desses povos, é pouco explorado na Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), disse Almeida. "Essa é uma questão importantíssima [para ser tratada na Rio+20]", afirma. "Os piaçabeiros do Médio Rio Negro trabalham em condições análogas a trabalho escravo, sem o reconhecimento real do custo de produção de seus trabalhos. O preço pago pelo trabalho dessas pessoas é ínfimo", disse Almeida, destacando que as fibras são exportadas principalmente para Europa.

Conforme o antropólogo, conselheiro da SBPC, esses indígenas, que moram em uma região com alta incidência de barbeiro, vivem em condições muito sofridas. O dinheiro simbólico que os piaçabeiros recebem da extração da fibra é destinado ao sustento das famílias. "É uma troca muito desigual pela força de trabalho exercida por esses povos", declarou.

Sob pressão de armamento dos comerciantes do setor de piaçaba, os indígenas recebem apenas R$ 0,25 centavos para cada rolo extraído da fibra, estimado entre 13 e 14 quilos, no mínimo. "É um ato de exploração da força de trabalho", reafirma o antropólogo, coordenador do projeto Novas Cartografias Social da Amazônia. É um valor simbólico considerando que são utilizados 300 gramas da fibra, em média, na produção de cada vassoura de piaçaba.

Essa é uma atividade que exige muito esforço físico dos indígenas que têm de cumprir uma carga horária de trabalho de quase 15 horas (das 5h da manhã às 18h) por dia. Essa situação de clara exploração do conhecimento tradicional foi registrada em vídeo de 30 minutos apresentado pelo antropólogo durante sua conferência em um dos auditórios do Armazém 4. Para atingir as metas diárias, cada indígena produz 50 rolos da fibra.

 

Fonte: Viviane Monteiro – Jornal da Ciência
 

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