Saber tradicional sobre o pirarucu condiz com o científico
13/08/2012 – Os pescadores ouvidos na Feira da Manaus Moderna, bairro Centro, e nas Costas do Pesqueiro e do Catalão, no município de Manacapuru (distante 84 quilômetros da capital), mostraram ter um conhecimento consistente sobre a ecologia e o comportamento do pirarucu (Arapaima gigas) da região amazônica.
Foi o que demonstrou um trabalho científico feito pelos pesquisadores das Universidades Federais do Amazonas (Ufam) e de Alagoas (UFAL), Liane Galvão de Lima e Vandick da Silva Batista, respectivamente. O resultado da pesquisa foi publicado na revista Acta Amazonica, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Conforme os autores do trabalho, as informações precisam ser mais bem exploradas para que pesquisas sobre co-manejo, conservação e uso sustentável dos recursos pesqueiros possam ser implementadas. Todavia, os saberes locais dos pescadores em relação aos aspectos biológicos e ecológicos do pirarucu podem ser utilizados para implantação de futuros projetos de gestão participativa no manejo pesqueiro.
Durante o trabalho, os pesquisadores avaliaram os conhecimentos dos pescadores profissionais e ribeirinhos da Amazônia Central sobre o pirarucu, a fim de verificar se os pescadores comerciais possuíam informações igualmente precisas e abrangentes em relação aos saberes locais dos pescadores de subsistência sobre a dinâmica de população do pirarucu.
Os dados foram comparados com o saber científico acumulado. Analisaram-se conhecimentos sobre o comportamento reprodutivo, ecologia trófica (alimentação), comportamento migratório, mortalidade e recrutamento pesqueiro e crescimento.
Desenvolvida com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que financiou com bolsa o mestrado, foram realizadas 57 entrevistas com pescadores profissionais de Manaus e pescadores de subsistência de Manacapuru.
As perguntas envolviam questões sobre aspectos pessoais, experiências e relações sociais na pesca e os aspectos biológicos e ecológicos (reprodução, alimentação, predação, crescimento, migração, mortalidade e recrutamento) do pirarucu. “Foi observado que os pescadores profissionais possuem informações igualmente precisas e abrangentes em relação aos saberes dos pescadores ribeirinhos de subsistência nos aspectos de reprodução, predação, migração, crescimento e mortalidade”, destacaram.
Em relação aos conhecimentos sobre reprodução do pirarucu, os pesquisadores explicaram que não foi observada diferença significativa entre as informações dadas pelos pescadores citadinos e ribeirinhos quanto aos aspectos de tamanho e idade de primeira maturação.
Os conhecimentos dos pescadores da Amazônia Central sobre a ecologia trófica (alimentação e predadores), comportamento migratório, mortalidade e uso pesqueiro do pirarucu também condizem e/ou são equivalentes com as informações científicas e os autores consultados pelos pesquisadores. “Os resultados demonstram a importância do planejamento participativo, que envolve a comunidade em duas etapas, desde a fase das coletas de dados, passando pela formulação do programa de gestão até a sua implantação e monitoramento”, destacaram.
Sobre o pirarucu (Arapaima gigas)
É endêmico da bacia amazônica e habita, principalmente, lagos de várzeas e florestas inundadas. A espécie pode atingir 200 kg de massa corpórea e 3m de comprimento. É a espécie de peixe mais consumida e comercializada, iguaria tradicional da culinária amazônica urbana e ambicionado recurso pesqueiro. O pirarucu é considerado o “bacalhau brasileiro”, devido ao excelente sabor de sua carne, particularmente quando beneficiada seca e salgada.
Luís Mansuêto – Agência Fapeam