Sauim-de-Manaus, espécie mais ameaçada entre os primatas de pequeno porte
O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) é o calitriquídeo mais ameaçado de extinção em toda a Amazônia. A espécie, que foi adotada como um dos símbolos de Manaus pela Prefeitura Municipal e ganhou o nome comum de sauim-de-Manaus, só existe na área urbana da capital do Amazonas e em fragmentos florestais de Rio Preto da Eva.
O crescimento desordenado da cidade, que gerou grandes desmatamentos e fragmentação de florestas urbanas, reduziu consideravelmente o habitat do sauim. Atualmente, a espécie pode ser vistas em poucos locais, tais como a mata da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e em alguns fragmentos florestais da Cidade Nova.
Com o habitat cada vez menor, esses primatas de pequeno porte e com unhas em forma de garras (característica da família dos calitriquídeos) migram para áreas residenciais, onde sofrem com fatores como atropelamentos, morte por choque em fios de alta tensão e ataques de cachorros. Em alguns casos, eles são mantidos em cativeiro como animais domésticos.
Todas essas questões levaram a uma drástica redução populacional da espécie. Além disso, a recente fragmentação do habitat do sauim pode ter causado um desequilíbrio de genes. Para estudar o comportamento genéticos do macaco, o biólogo Wancley Santos estudou quatro grupos de animais dessa espécie, em dois pares de sítios florestais de Manaus.
A pesquisa gerou a dissertação de mestrado “Genética das populações do sauim-de-coleira (Saguinus bicolor – Callitrichidae) em fragmentos florestais e floresta contínua: implicações para conservação”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais, do convênio Ufam e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
A partir de amostras de pêlo e pele, Santos coletou o DNA de mais de 90 animais. Em seu levantamento, o pesquisador constatou que os níveis de diversidade genética dos sauins amostrados eram moderados para esta espécie, que, nos últimos anos, tem diminuído sua população consideravelmente.
Segundo Santos, além da escassez de indivíduos, a variabilidade genética dessas espécies também caiu à medida que o primata foi afetado pelo desmatamento e fragmentação do seu habitat. Em seu levantamento, o pesquisador descobriu ainda que o processo de diminuição da variabilidade dos sauins pode ocorrer em até 50% das populações de indivíduos existentes em áreas de fragmentos florestais, sediadas em meio a áreas residenciais.
O estudo aponta que a perda da diversidade genética do animal pode levar a um aumento do risco de extinção diminuindo o potencial para adaptações futuras. O levantamento genético da espécie é fundamental para elaboração de planos de conservação do sauim-de-coleira em Manaus. Os resultados da dissertação de Wancley sinalizam a possibilidade de mover os animais que vivem em locais de risco para áreas seguras onde eles possam cruzar sem o risco de modificação genética.
Sobre a pesquisa
Programa: Mestrado em Genética Conservação e Biologia Evolutiva.
Instituição: Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Manaus-AM.
Dissertação: “Genética das populações de sauim-de-coleira (Saguinus bicolor – Callitrichidae) em fragmentos florestais e floresta contínua: implicações para conservação”
Orientador: Izeni Pires Farias.
Wancley Santos cursou o mestrado com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – Fapeam.