Secretária Marilene Corrêa diz que Ciência e Tecnologia podem tirar a Amazônia do atraso histórico


Marilene Corrêa, secretária de Ciência e Tecnologia do Amazonas, assumiu o cargo no primeiro mandato do governo Eduardo Braga, quando a Secretaria foi criada. Com diversos projetos inovadores e resultados significativos desempenhados principalmente pelo apoio à pesquisas, tendo a frente a Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam), Marilene permanece no cargo no segundo mandato.

Para falar dos programas desenvolvidos pela Secretaria e das ações para fortalecimento do Amazonas no campo da Ciência e Tecnologia, Marilene Corrêa concedeu ao Portal Amazônia a seguinte entrevista:

1)- Portal Amazônia: A Secretaria de Ciência e Tecnologia sai fortalecida para o segundo mandato do governador Eduardo Braga. A que a senhora atribui o reconhecimento do governador?

Marilene Corrêa: Um conjunto de iniciativas podem explicar esse fortalecimento. Uma delas é a criação do Sistema Estadual de Ciência e Tecnologia pela congregação das instituições de pesquisa, sejam elas federais, estaduais e/ou privadas, prioridades de desenvolvimento da ciência e tecnologia do Amazonas.

2) – Portal Amazônia: A Senhora poderia dar exemplos concretos das iniciativas geradas por esse sistema?

Marilene Corrêa: Ações da Secretaria no sentido de melhorar o padrão tecnológico das práticas produtivas tradicionais, além de adensar o desenvolvimento tecnológico do Pólo Industrial de Manaus. Uma outra iniciativa seria o fortalecimento das instituições de pesquisa, com investimento na melhoria dos laboratórios e financiamento de pesquisas prioritárias para o desenvolvimento regional com alicerçamento do conhecimento científico. Nossa preocupação com a educação científica também nos leva a tomar medidas para que esta não fique restrita apenas ao pensamento universitário, mas que se firme como base das próprias tecnologias educacionais, no ensino fundamental, no ensino médio, inclusive no pré-primário. A ciência e tecnologia de cada política setorial pode e está melhorando a responsabilidade do Estado em relação a políticas públicas. Dando exemplo concreto, hospitais com laboratórios que precisavam ser melhorados, mais atenção à pesquisa médica, uma prioridade do trópico úmido e a pesquisas educacionais, fundamentais para a aceleração do conhecimento e da prática pedagógica. E pensando no homem do interior, a inclusão de agricultores e das sociedades interioranas indígenas em programas que façam melhorar as condições suas condições de vida.

3) – Portal Amazônia: Com essa visão a Secretaria trabalha em conjunto com outras secretarias?

Marilene Corrêa: No âmbito de uma política macro, a C&T é tanto setorial como ela é transversal. Enquanto setorial o sistema de ciência e tecnologia tem modos próprios de realização e fortalecimento das políticas no estado. Por outro lado ela é transversal porque passa às outras políticas setoriais, ou seja, outras secretarias, porque estas também têm componentes de ciência e tecnologia muito fortes como saúde, educação, segurança, desenvolvimento rural, meio ambiente entre outras. Todos s os setores da administração precisam da Ciência e de equipamentos tecnológicos. O Estado não só ganha com a execução dessa política como também fortalece nessa área setorial.

4) – Portal Amazônia: Como a Secretaria age no sentido de fortalecer as instituições de pesquisa?

Marilene Corrêa: Eu diria que estamos fortalecendo as instituições pelo suporte que demos a elas neste período. A Universidade Federal do Amazonas (UFAM), nossa maior cliente, aumentou o seu orçamento em mais de 17 milhões e podemos dizer que ela jamais recebeu isso do governo federal em todos os tempos, salvo para pagamento de pessoal. O INPA recebeu mais de 15 milhões, o Centro de Biotecnologia recebeu quatro milhões, o Instituto Tropical do Amazonas mais de R$ 2 milhões e meio. A Fundação de Amparo e Pesquisa do Amazonas (Fapeam) é hoje a 3º maior financiadora do Brasil, conseguiu financiar inúmeras instituições para saúde e educação, não só para formação de recursos humanos, como também incentivando a criatividade, em varias áreas do conhecimento. A Fapeam conseguiu ser reconhecida e criar um sistema de credibilidade entre os pesquisadores da região. Isso configura uma situação exemplar, é muito difícil em apenas três anos e meio montar um sistema, aplicá-lo e ainda incluir no marco regulatório.

5) Portal Amazônia: Em entrevista recente ao Portal Amazônia, o diretor do INPA queixou-se das verbas que o Instituto recebe. O que a senhora tem a dizer a respeito?

Marilene Corrêa: Eu diria que a situação do INPA e das demais instituições federais no Amazonas são extremamente confortáveis do ponto de vista comparativo entre as outras instituições do mesmo porte como, por exemplo, o Museu Goeldi, no Pará, como a Embrapa em Rondônia e Roraima. O INPA, de todas as instituições que participam do financiamento público do Estado, é um dos mais beneficiados. Mesmo na época da estruturação da Secretaria de Ciência e Tecnologia e seis meses depois da Fapeam, entre 2003 a 2004, o INPA já recebia cerca de quatro milhões de reais de financiamento. Eu diria que esse conforto pode ser medido pela estimativa que nós temos até 2009, porque tem programas nossos que ultrapassam o período de 2004 a 2007. Portanto o INPA terá até lá financiamento do Estado na ordem de R$ 15 milhões de reais, o que é extremamente significativo se nós considerarmos que em 2003 o orçamento inteiro do INPA era esse, para custeio, pagamento de pessoal e vigilância.

6)- Portal Amazônia: A que a senhora atribui às preocupações do Dr. Adalberto Val?

Marilena Corrêa: Eu acredito que o sentido que devemos atribuir às preocupações do Dr. Adalberto Val, que são legítimas, é a defasagem histórica entre aquilo que o governo federal financiava para o INPA até determinado tempo e, depois disso, o aporte que o governo do estado passou a dar por mérito ao instituto. Para se ter uma idéia, nós produzimos 28 programas e o INPA concorreu em 27, o que ilustra a participação do instituto na agenda científica financiada pelo governo do Amazonas. O INPA obteve concretamente esses valores e vai obter até 2008 essa condição de R$ 15 milhões. A questão levantada pela direção do INPA é pertinente sim. Historicamente, os institutos e museus remanescentes do século 19 e início do século 20 foram extremamente prejudicados com a montagem dos critérios dos cursos de Doutorado e Mestrado no Brasil. Mas, ainda assim, acredito que o INPA seja imbatível no que diz respeito à captação de recursos de pesquisa, tanto em termos internacionais como nas esferas estadual e federal. Se compararmos o orçamento do INPA e o aporte de recursos que recebe, dá para dizer que recebe quase quatro vezes mais do que o Museu Goeldi, que é uma instituição centenária. Do mesmo modo, acredito que encontramos no INPA um parceiro fiel do governo do Estado, estando conosco em várias frentes inovadoras. Não comungamos da opinião de outros secretários de Ciência e Tecnologia que achavam que o dinheiro do estado só deveria financiar pesquisa de interesse da agenda governamental. É de interesse da agenda governamental do governo de Eduardo Braga fortalecer as instituições de pesquisa instaladas na região. Nesse sentido, o INPA merece todo o nosso apoio e consideração. Só esperamos que um dia os pesquisadores do INPA também reconheçam a importância desse aporte e da concepção desse trabalho.

7)- Portal Amazônia: Como a senhora analisa a situação da Ciência e Tecnologia na Amazônia?

Marilene Corrêa: Eu diria que estamos passando por uma situação particular na Amazônia com o fortalecimento dos sistemas estaduais de Ciência e Tecnologia e das fundações de amparo à pesquisa. O governo do Pará acaba de criar uma Secretaria de Ciência e Tecnologia. A Fapeam já exportou o seu Know-how em duas ou três ocasiões para o estabelecimento de uma FAP no Pará, de uma FAP em Rondônia e outra no Acre. Eu acompanhei o professor Odenildo, presidente da Fapeam, em uma dessas missões. Há unanimidade em dizer que este é o caminho mais adequado para tirarmos à região de seu atraso histórico.

8)- Portal Amazônia: Uma das preocupações no momento é com o aquecimento global. Como a Secretaria tem trabalhado para inserir o Amazonas nesse debate?

Marilene Corrêa: Quando nós assumimos a Secretaria tivemos a notícia que o projeto LBA (Experimento de Larga Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia) seria transferido para o INPA. Para que isso deixasse de ser um enclave, ou seja, ser simplesmente retirado do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) ou da Universidade de São Paulo (USP) e ser trazido para o Amazonas, compusemos uma portaria onde convidamos participantes do INPA, UEA, UFAM, SIVAM, do Ministério da Agricultura para fazer parte da comissão que iria estudar a Rede Norte de Metereologia e criação do curso de graduação de Metereologia e fizemos aporte de recursos para o fortalecimento do LBA. Tivemos uma seca fortíssima na Amazônia e naquela época só tínhamos um metereologista no Estado. Precisávamos dar à feição local a modelagem do clima que era feita no INPE e muitas vezes não dava certo para a região Norte. Esses esforços trouxeram resultados. O Curso de Meterologia da UEA já é uma realidade com 50 alunos. O Mestrado em Clima e Ambiente foi aprovado recentemente pela CAPES . Finalmente já temos a recomposição da rede de Metereologia da região Norte com intensa participação do SIVAM. O que vejo de mais favorável é a legitimação do LBA em nosso estado, um projeto que não nasceu aqui. Éramos apenas o lugar do experimento e servíamos como fonte de informação. Todas essas iniciativas vão possibilitar uma compreensão melhor do manejo de nossas florestas e dos impactos ambientais, da análise de processos predatórios, além de contribuir para inclusão do Amazonas no mercado de seqüestro de carbono.

9)Portal Amazônia: A Fapeam, Fundação de Amparo à Pesquisa, ligada a sua Secretaria, tem recebido reconhecimento nacional. Como a senhora analisa esse reconhecimento?

Marilene Corrêa: Eu diria que os gestores da FAPEAM, o professor José Aldemir e sua equipe, na primeira gestão, e o Professor Odenildo Sena nesse segundo momento são pessoas altamente capacitadas. E é bom dizer que todo esse sistema foi produzido pela inteligência local. Foi efetivado pelos quadros que a Fapeam aglutinou e pelas competências de nossas instituições. E algo importante que ocorreu foi o enraizamento da FAPEAM no INPA, na UEA, na UFAM, ou seja, dentro das 28 instituições de pesquisa estaduais e federais. Eu acho que a razão do sucesso é a capacitação e escolha de pessoas adequadas na equipe. Todas elas retiradas do mesmo ambiente onde fomos educados e trabalhamos. A segunda foi o aporte de recursos que o governo estadual concedeu. E em terceiro houve uma articulação intensa. A formação de muitos de nós em São Paulo, nos permitiu sermos contemporâneos de pessoas que hoje estão na esfera de decisão. Atualmente, podemos dizer que todas as instituições que fomentam pesquisa com Ciência e Tecnologia possuem convênio com a Fapeam e se não têm com a Fapeam têm com a Secretaria de Ciência e Tecnologia.

10)- Portal Amazônia: Como a Fapeam seleciona os projetos de pesquisa a serem financiados?

Marilene Corrêa: É uma seleção extremamente rigorosa. Se recebermos um projeto e constatamos que ele não tem condições mínimas de ser operacionalizado, nós não aprovamos porque não podemos jogar dinheiro fora. Tanto é que nestes quase quatro anos temos pouquíssimos projetos que não foram concluídos.

11)- Portal Amazônia: Que ações estão sendo tomadas pela Secretaria de Ciência e Tecnologia com relação ao desenvolvimento do interior do Estado?

Marilene Corrêa: Temos ações de pesquisa em todos os 62 municípios do Amazonas. Sejam elas feitas pelo pesquisador financiado diretamente ou pelo pesquisador do Projeto Jovem Cientista. Dou um exemplo concreto. O Programa Amazonas de Interiorização ao Conhecimento Cientifico e Tecnológico é um programa que a Fapeam tem em parceria com a UEA. Por meio deste programa, todos os bolsistas da área de saúde da UEA são obrigados a terem projetos de pesquisas nos municípios de onde vieram. Desta forma, um doutor do INPA orienta um mestre em Parintins. Esse, por sua vez, orienta um professor indígena que vai orientar um grupo de alunos. Assim formamos uma cadeia de conhecimento. Também temos projeto com a Secretaria de Produção Rural para incentivo da agricultura e melhoria de nossos rebanhos. Por iniciativa própria apresentamos projetos de agricultura familiar para a FINEP e incubamos dentro da própria Embrapa.

12)- Portal Amazônia: Com relação aos novos laboratórios que serão inaugurados, como ocorreu a participação da Secretaria de Ciência e Tecnologia?

Marilene Corrêa: Teremos a inauguração do Laboratório de Criminologia, com a linguagem da Biologia Molecular para exame de DNA avançado. Essa iniciativa aconteceu depois de um acidente de avião ocorrido em Manaus onde houve mistura de material genético das vítimas. Naquela época nosso estado não tinha um laboratório preparado para responder à demanda de pesquisa. O Ministério da Justiça, por meio do Banco Mundial, realizou um convênio com a Secretaria de Ciência e Tecnologia e nós aplicamos a verba na Secretaria de Segurança. Também contribuímos para a construção do Laboratório de Alta Referência em Doenças Epidemiológicas do Hospital Tropical e demos suporte para a construção do Laboratório de Biologia Molecular que vai permitir ao Hemoam fazer o adensamento de qualidade de patologias no ramo da Oncologia.

13)- Portal Amazônia: E qual seria a maior demanda da Secretaria no Amazonas?

Marilene Corrêa: Seria pela pesquisa aplicada Basta analisar os exemplares da revista Amazônia, que mostra esse grande indicador. Temos apoiados a pesquisas dos mais variados gêneros. Se você analisar a matéria sobre a modelagem de prótese em madeira para os seqüelados de hanseníase ou de acidentes com perdas de membros, vai observar o quanto a Ciência avançou no Estado.

14)- Portal Amazônia: O que deve mudar com a Lei de Inovação Tecnológica?

Marilene Corrêa: A Lei vai permitir dar densidade ao fortalecimento das empresas de base tecnológica. O Estado, academia e iniciativas privadas poderão trabalhar em conjunto visando à ampliação da ciência e da tecnologia no Amazonas. Desta forma são esperados reflexos econômicos e sociais em médio prazo. Muitas iniciativas no sentido de unir a pesquisa e o setor produtivo já estão germinando e receberão grande impulso com a Lei de Inovação. Espera-se também que o Amazonas possa atrair mais investimentos internacionais e gerar mais produtos de alta tecnologia.

15)- Portal Amazônia: A senhora disse que a maior demanda é pela pesquisa aplicada. Há uma preocupação da Secretaria em analisar como os projetos trabalham o meio ambiente?

Marilene Corrêa: Todas as pesquisas que nós financiamos tiveram a preocupação com a localização do Amazonas no Trópico úmido, sem nunca deixar de lado a variável ambiental.

16)- Portal Amazônia: A Secretaria está trabalhando num projeto para produção de biodiesel. Como será realizado?

Marilene Corrêa: Tivemos uma reunião com a Petrobras, Banco do Brasil, Basa, Federação das Indústrias, Ministério dos Transportes e representantes da Prefeitura de Manaus. Discutimos iniciar a incubação de um projeto de produção de biodiesel a partir dos dados de dois programas estaduais que a Fapeam financiou. O primeiro foi de pesquisa de energia e o outro pesquisa do uso de dendê, em parceria com a Embrapa.

17)- Portal Amazônia: A Amazônia tem doenças peculiares que exigem políticas diferenciadas. Como a Secretaria atende a essas demandas?

Marilene Corrêa: Contribuindo para a construção de laboratórios, como já citamos anteriormente. E mais do que isso, estamos pautando pesquisas e recursos para atendimento a doenças que sempre foram socialmente negligenciadas. Geralmente doenças que acometem pessoas de baixo poder aquisitivo. Para isso estamos trabalhando em um projeto com o SUS. Terá o objetivo de atender doenças com variáveis étnicas de negros, índios, tratamento das verminoses, epidemias do trópico úmido. São anomalias que também envolvem a necessidade do saneamento. A Fapeam conseguiu aumentar em 100% o aporte do governo federal para esse programa.

18)- Portal Amazônia: Como a Secretaria atua no Projeto Zona Franca Verde?

Marilene Corrêa: Nós realizamos todas as pesquisas necessárias para efetivação do Projeto Zona Franca Verde. Os resultados foram dirigidos para a Secretaria de Produção Rural e para Secretaria de Desenvolvimento Sustentável. Por trás de cada iniciativa dessa bem sucedida, houve aporte de recursos da Fapeam e da engenharia institucional da Secretaria de Ciência e Tecnologia.

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