Semana de C&T em São Gabriel consolida parceria entre Escola Agrotécnica e Fapeam


O município de São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus, possui 22 etnias indígenas diferentes em sua área urbana e comunidades no entorno, co-existindo, na cidade, além do português, mais três línguas oficiais: nheengatu, tukano e baniwa. Questões como educação indígena, afirmação cultural e resgate de línguas indígenas são alguns dos temas que atraem pesquisadores do mundo inteiro para o município e que começam a ser introduzidos no ensino regular local, como forma de valorizar as diferenças socioculturais da região.

Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), a Escola Agrotécnica de São Gabriel da Cachoeira (EAF-SGC) tem incentivado a pesquisa e o conhecimento da cultura indígena com a elaboração dos estudos realizados pelos próprios indígenas. “Nós temos tido a preocupação de deslocar a escola para as comunidades, facilitando o processo de aprendizagem a partir da prática da pesquisa. É uma nova linha de atuação do ensino técnico no município”, declarou Rinaldo Sena, diretor da EAF.

Em seu último ano de gestão, ele organizou nos dias 15, 16 e 17 a “3ª Semana de Ciência e Tecnologia da Escola Agrotécnica Federal de São Gabriel da Cachoeira”. Mesas-redondas, palestras, mini-cursos e apresentação e avaliação de projetos Pibic Jr. e Jovem Cientista Amazônida (JCA) na região do alto Rio Negro foram algumas das atividades, que ocorreram ao longo da programação da 3ª Semana.

“A Escola Agrotécnica é uma grande parceira da Fapeam no interior, mostrando que a descentralização do ensino, fazendo uma conexão interior-capital, é possível e já mostra resultados positivos”, enfatizou Odenildo Sena, diretor-presidente da Fapeam, em sua conferência “Fapeam: três anos de fomento no Amazonas”, no dia 17.

Durante sua palestra, Sena fez o lançamento oficial do Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados para o interior do Amazonas – RH-Interiorização, voltado exclusivamente para professores e demais profissionais graduados residentes no interior que queiram cursar mestrado ou doutorado em Manaus ou em outra região do País.

Na oportunidade, Sena falou de outros editais que serão lançados ainda este ano, entre eles o Programa Amazonas de Integração da Ciência para os Povos Indígenas – o Paici Indígena. A notícia foi recebida “com bons olhos” pelos pesquisadores e indígenas presentes, que fizeram elogios aos programas. Alguns indígenas, que falaram das lutas por suas causas com orgulho da cultura milenar que representam, não contiveram a emoção.

“Eu sou Baniwa, mas não falo a minha língua, só falo o Nheengatu. Só agora, aos 21 anos, estou aprendendo a minha língua, graças à pesquisa que estou fazendo. Eu acho muito importante aprender como viviam os meus antepassados”, declarou Armindo Plácido Feliciano, bolsista do JCA.

Após a palestra de Odenildo Sena, a diretora técnico-científica da Fapeam, Elisabete Brocki, presidiu uma mesa-redonda, com o tema: “Saberes Tradicionais e Conhecimentos Científicos”. Ela destacou os depoimentos dos indígenas e mostrou os pontos positivos do incentivo à educação adaptada para realidade cultural de cada etnia, enfatizando o quanto a C&T pode contribuir para a qualidade de vida das populações indígenas. Brocki destacou programas de sucesso como o JCA.

Higino Tenório, da etnia Tuyuka, ratificou as palavras de Brocki, acrescentando que essa nova realidade pode contribuir para a valorização dos conhecimentos tradicionais, “historicamente desprezado” pela cultura ocidental. “Quero dar meu pai como exemplo. Ele era fabricante de canoa, o melhor certificado que ele recebia era o elogio, a honraria do povo. O povo da comunidade dizia que ele era o melhor. Hoje em dia é diferente, o certificado vem com honra, mas a titulação é mais importante”, disse.

Para ele, é preciso reconhecer a importante contribuição dos saberes tradicionais para ciência e para a sociedade em geral e inseri-los na prática pedagógica nas escolas, o que vem sendo iniciado em São Gabriel da Cachoeira. “Nós queremos a honra por nossos conhecimentos. O que é bom para nós a gente aceita, mas o que temos de bom nem sempre é aceito. E todos os conhecimentos são bons pra nós. Nossos conhecimentos não excluíam os outros, não podemos então ser excluídos”, finalizou.

                                                

Ana Paula Freire – Decon/Fapeam

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