Serviços de saúde bucal precisam de reforço


Dificilmente pessoas que moram às margens dos rios na Amazônia têm acesso aos serviços odontológicos. Isso ocorre devido à carência de implantação de medidas amplas de serviços de saúde.

O assunto foi tema da pesquisa “Condição de Saúde Bucal em Populações ribeirinhas no Estado do Amazonas”, cujos resultados foram apresentados na manhã de segunda-feira (31/08) no Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD), unidade da Fiocruz na Amazônia, para alunos do curso de mestrado em odontologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), pela pesquisadora Flávia Cohen Carneiro Pontes.

De acordo com a pesquisadora, a escolha do município de Coari, localizado às margens do rio Solimões, a 363 km de Manaus, se deu pela oportunidade de financiamento por meio do Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas (PPOPE), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), em edital para o diagnóstico das condições de vida e saúde de populações expostas ao impacto da construção do gasoduto Coari-Manaus.

“Foram escolhidas duas comunidades: Divino Espírito Santo do Isidoro e Lauro Sodré, por necessitarem de planejamento diferenciado para a oferta de serviços de saúde, em virtude das características próprias de acesso fluvial”, relata.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas em grupos distintos. O trabalho de campo foi desenvolvido de 14 a 24 de março de 2006, e o estudo piloto de 24 a 27 de janeiro do mesmo ano.

Resultados

Ao todo foram entrevistados 126 indivíduos, sendo 52 em Isidoro e 74 em Lauro Sodré, sendo a maioria mulheres. Os entrevistados em Lauro Sodré apresentaram média de idade mais elevada. A análise indicou que os indivíduos de Divino Espírito Santo do Isidoro possuem mais tempo de escolaridade do que os de Lauro Sodré, sem diferença estatística significante.

Em relação à utilização de serviços de saúde bucal, a pesquisa constatou que, embora as diferenças não tenham sido estatisticamente significantes, em Lauro Sodré um número maior de indivíduos já foi ao dentista pelo menos uma vez na vida. Houve ainda uma menor proporção dos indivíduos que relataram atendimento recebido em postos de serviço público e em barcos de saúde. Não houve divergências em relação à ausência de serviços odontológicos permanente em ambas as comunidades.

Nas comunidades ribeirinhas estudadas, o serviço odontológico tem caráter esporádico e é executado principalmente em barcos equipados com consultório odontológico. Além da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), outras instituições aparecem como prestadoras deste tipo de serviço, em caráter também eventual, como igrejas, o Exército Brasileiro e mais recentemente a Petrobras, como conseqüência da construção do gasoduto Coari-Manaus.

Conforme foi verificado, um posto de saúde instalado em uma zona rural é tido como um elefante branco, porque não terá uma equipe disposta a se deslocar até lá.

“Para o gestor municipal de saúde isso ocorre devido a falta de mão de obra qualificada para viabilizar a implantação de um serviço permanente nas comunidades. A necessidade de se trabalhar a educação permanente e a capacitação técnica para promoção de saúde bucal, dentro das comunidades, aparece apenas como possibilidade futura”, explicou Flávia.

Para a pesquisadora, a solução seria a presença de um agente comunitário de nível técnico em saúde nas comunidades e, principalmente, tratamento da água, pois apesar dessas comunidades viverem às margens do rio, elas não possuem água potável. É comum utilizar a mesma água em que os degetos são despejados para beber, tomar banho, lavar roupas e escovar os dentes, aumentando o risco de contaminação.

“A solução que encontramos foi a presença desse agente nas comunidades, a melhoria na água, o acesso ao flúor para a população e visitas mais frequentes dos barcos comunitários com data certa para estarem lá. Não só para minimizar a dor de dente, mas para ensinar essas pessoas a cuidarem de sua saúde bucal, por meio de acompanhamento presencial”, destacou.

 

Sobre o programa

O Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Políticas Públicas em Áreas Estratégicas (PPOPE) tem como principal meta apoiar financeiramente atividades de pesquisa induzida que possam beneficiar a formulação e a implementação de produtos, processos e inovações tecnológicas vinculados às políticas públicas do Governo do Estado do Amazonas. Os projetos são coordenados por pesquisadores vinculados a Instituições de Pesquisa e Ensino Superior (IPES) gratuitas sediadas no Estado Amazonas.

 

Cher Lima – Agência Fapeam

 

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