Sistema ajudará na identificação da tuberculose


O Amazonas é o segundo maior em números de casos de tuberculose – TB, do país. Há, aproximadamente, 2 mil casos novos por ano. Na população infanto-juvenil a incidência também é alta, sendo três vezes maior que a média nacional. Na tentativa de ajudar a diminuir os números de casos, os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Mauricio Morishi Ogusku e Julia Ignez Salem, coordenaram um estudo que resultou no desenvolvimento de um sistema de triagem para identificação de crianças e adolescentes suspeitos de TB, o qual poderá ser aplicado na rede básica de saúde.

Orçada em cerca de R$ 72 mil, a pesquisa: “Verificação de métodos e sistemas para o diagnóstico da Tuberculose visando utilização pela rede básica de saúde” foi financiada pelo Ministério da Saúde – MS, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas – Fapeam e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

O pesquisador explica que o sistema desenvolvido utiliza o critério de pontos semelhante ao do MS, o qual foi elaborado para a conclusão diagnóstica da TB, principalmente em pacientes já hospitalizados devido ao grave estado em que se encontram. Entretanto, o sistema proposto difere do MS por possuir critérios clínicos e radiológicos mais simples passíveis de pontuação, os quais facilitam a triagem de crianças e adolescentes suspeitos de TB em nível ambulatorial. Segundo Ogusku, o sistema se mostrou eficaz na identificação de suspeitos de TB, já que quase 60% das crianças e adolescentes receberam tratamento específico para a doença após encaminhamento para reavaliações e realização de exames complementares.

“O sistema foi elaborado pelo pediatra Gastão Dias Junior e pela pesquisadora Julia Salem (Inpa). A simples presença do formulário de triagem nos consultórios médicos, como instrumento orientador na conduta médica, levou à identificação de suspeitos de TB em muitos casos”, destaca o pesquisador.

No mesmo projeto foi possível estabelecer critérios objetivos para se avaliar a proficiência do profissional responsável (microscopista) pela baciloscopia da TB. Por isso, durante o projeto o bioquímico Francisco Duarte Vieira definiu o nível de concordância, em 90%, de um leitor para com ele mesmo, bem como o número mínimo de lâminas, em 75, que deve compor o painel para que a proficiência seja avaliada. Com os critérios definidos é possível a elaboração de treinamentos ou cursos de reciclagem a fim de capacitar os profissionais das unidades de saúde para o diagnóstico laboratorial da TB pela baciloscopia.

Durante a pesquisa, Ogusku também avaliou a utilização da técnica de Reação em Cadeia Polimerase (PCR, sigla em inglês) como método rápido de diagnóstico da tuberculose. A PCR consiste na duplicação do ácido desoxirribonucléico (DNA) a partir de quantidades mínimas do material genético, de modo exponencial, a fim de torná-lo detectável. A técnica é utilizada em estudos moleculares, como: seqüenciamento genético; diagnóstico de doenças hereditárias; criação de microrganismos transgênicos; medicina forense; testes de paternidade e diagnóstico de doenças infecciosas.

           
Ao aplicar a técnica PCR, o pesquisador afirma que é possível identificar o Mycobacterium tuberculosis, o bacilo causador da TB, em até 72 horas. Contudo, é preciso ter uma equipe técnica capacitada, infra-estrutura laboratorial e suporte econômico para o fornecimento de insumos específicos. “Apesar da técnica ser utilizada há mais de 20 anos, o uso para o diagnóstico da TB, a partir de amostras clínicas, deve ser cauteloso, pois não apresenta sensibilidade e especificidade equivalentes ao cultivo, principalmente nos indivíduos que liberam poucos bacilos em suas amostras clínicas”, alerta.

           
De acordo com Ogusku, a PCR deve ser utilizada, paralelamente, aos métodos bacteriológicos convencionais (baciloscopia e cultivo). Mas, por outro lado, o seu uso na identificação molecular de espécies de micobactérias, pela técnica como o PCR-RFLP, a partir das colônias isoladas em meio de cultivo, tem se difundido amplamente. Isso se deve ao resultado rápido e ao melhor custo benefício.

Transmissão – O bacilo da tuberculose é transmitido da pessoa doente para outras ao tossir, espirrar ou falar, ou seja, pelo sistema respiratório. Primeiramente, os bacilos se alojam nos pulmões (tuberculose pulmonar). Contudo, eles podem se espalhar para qualquer outro órgão. “Casos como a TB renal, cutânea, óssea, urinária são observados. Entretanto, não se sabe a real incidência de cada forma clínica, pois o Ministério da Saúde (MS) exige apenas a notificação como TB extrapulmonar”, lamenta.

           
Como a transmissão acontece pelo sistema respiratório é difícil alguém não entrar em contato com o bacilo de Koch, mas o próprio sistema imunológico combate esta infecção inicial. Porém, aproximadamente 5% dos indivíduos que entram em contato com o bacilo desenvolvem a doença. Dessa forma, quanto mais rápido um indivíduo for diagnosticado, o tratamento também será iniciado mais rápido e o período de disseminação de bacilos a partir do mesmo será menor.

Sintomas – os principais sintomas da TB são: tosse por mais de duas semanas, produção de catarro, febre, sudorese, cansaço, dor no peito, falta de apetite e emagrecimento. Em casos mais avançados pode surgir sangue no catarro. As pessoas com um ou mais sintomas devem procurar um Posto de Saúde o mais rápido possível. O tratamento é gratuito e deve ser iniciado imediatamente.

Tratamento – Outro ponto que merece destaque é que os indivíduos sob tratamento devem estar cientes da necessidade de tomar os medicamentos (isoniazida, rifampicina e pirazinamida) até o final do período estipulado (seis meses), mesmo que os sintomas já tenham desaparecido. A interrupção do tratamento é um grande risco à saúde, pois os indivíduos podem sofrer uma recaída e os medicamentos não fazerem mais efeito pelo surgimento de uma TB resistente ou multidroga resistente.

Luis Mansueto / Ascom – Inpa

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