Subespécies de plantas mantêm equilíbrio do ecossistema da floresta amazônica


Fapeam e CNPq analisam o papel de algumas espécies da flora amazônica na manutenção da floresta amazônica

Além de contribuir para o clima e a temperatura do planeta, a floresta amazônica é conhecida internacionalmente por ser a maior cobertura vegetal do planeta e pela imensa diversidade de espécies que compõem este ecossistema. Muito já foi pesquisado e descoberto sobre as espécies de árvores que, por conta do interesse comercial, acabam gerando desmatamento e sérios prejuízos ao longo dos anos. Agora as espécies menores (subespécies) também chamam a atenção de cientistas que buscam conhecer o papel delas para a manutenção de todo o ecossistema.

O estudo intitulado “Diversidade Beta das Comunidades de Plantas do Sub-Bosque da Amazônia Central como Subsídio para o Planejamento da Conservação”, iniciado em 2006, pela pesquisadora, Dra. Flávia Regina Capellotto Costa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), por meio do Programa Primeiros Projetos (PPP) com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) teve os resultados preliminares divulgados durante o seminário de avaliação realizado em este mês em Manaus.

O trabalho está gerando, em sua primeira fase, uma base de dados integrada sobre a distribuição de espécies herbáceas amazônicas e, num segundo momento, a condução de experimentos para entender a estruturação das comunidades de plantas na Amazônia Central. Para isso, já foram realizados 163 levantamentos (mapeamentos, coletas de dados e experimentos) em seis localidades diferentes nos Estados do Amazonas, Pará e Roraima visando à coleta de material para identificação e análise em laboratório, além de registro fotográfico, entre os anos de 2007 e 2008.

Na prática, a pesquisadora e seu grupo pretendem integrar os dados, analisando as relações entre a composição das espécies e os fatores ambientais e geográficos. “A partir daí teremos condições de descobrir os fatores que levam determinadas espécies a se fixarem em locais distintos da floresta, como o clima, solo, características da planta etc. Além disso, vamos instrumentar uma área modelo para avaliar as relações hídricas do solo na Reserva Adolpho Ducke, localizada em Manaus, durante um ano levando em conta as estações do ano na região e a topografia e o solo”, explica Flávia, destacando que já existem cerca de seis meses de dados sobre a flutuação do lençol freático da Reserva Ducke. “A partir dessa avaliação hídrica na reserva, por exemplo, que é um experimento a longo prazo, será possível determinar os efeitos da disponibilidade hídrica sobre a germinação, recrutamento e crescimento dessas subespécies”, conclui.

Com estas informações, será possível, mais adiante, pensar sobre a conservação das espécies, uma vez que, quando acontece a extração de árvores de grande porte da floresta, muitas espécies menores acabam sendo atingidas e deixam de existir por conta do impacto causado pelo desmatamento. Numa escala menor, dentro da Reserva Ducke, o estudo vai permitir, por meio de experimentos, descobrir como as espécies se agrupam, quais fatores afetam essa estruturação e o que pode ser feito para corrigir possíveis impactos.

A pesquisadora destaca que, apesar dos inúmeros estudos em andamento, ainda hoje, é difícil descrever o papel das subespécies para o ecossistema amazônico, mas já se sabe que estas pequenas plantas servem de abrigo e alimento para várias espécies animais e que, se elas deixarem de existir mudam completamente o ecossistema original. “Se você tirar essas espécies menores de determinada área ou reflorestar somente com as grandes espécies de árvores este local pode até ter cara de floresta, mas na verdade um estudo detalhado vai revelar que nessa área não existem os mesmos pássaros, insetos ou microorganismos do solo, como na floresta original, ou seja, tudo o que depende desse outro grupo de plantas menores, que não está mais presentes, tende a desaparecer”, esclarece.

Os avaliadores que acompanharam a apresentação consideraram os resultados parciais da pesquisa relevantes, mas destacaram que, no futuro, será necessário um levantamento mais abrangente em outras áreas da Amazônia Central, para que os dados sejam mais completos e possam responder a perguntas como o que determina o estabelecimento das espécies florestais na Amazônia ou como as mudanças climáticas vão afetar este ecossistema.

Outros resultados
Além dos resultados relacionados ao objeto de estudo, a pesquisa também revelou dados positivos como o envolvimento na formação de três alunos de mestrado e dois alunos no doutorado, o que já justifica o financiamento do projeto. O trabalho concluído em 2008 do Mestre Fernando Oliveira Gouvêa de Figueiredo, pelo Inpa, com o título “Variação florística e diversidade de Zingiberales em florestas da Amazônia Central e Setentrional” e o doutorado em andamento de Carlos Eduardo Barbosa sobre “O papel da limitação de recrutamento na estruturação da comunidade vegetal de uma floresta de terra-firme na Amazônia brasileira”, também do Inpa, são exemplos desses resultados.

Outra iniciativa da pesquisadora programada para acontecer assim que os resultados estiverem prontos será pedir mais financiamento da Fapeam para outras pesquisas nessa área; ela depende disso, para dar continuidade aos trabalhos. A publicação de material relevante para dar suporte a outros estudos também é considerado fundamental. “Entendo que a disponibilização de publicações com informações que vão subsidiar futuras pesquisas na mesma área são importantíssimas, pois além de auxiliar futuras pesquisas economizam tempo e investimentos em etapas mais avançadas dos estudos”, revela a pesquisadora que já atua na região há 12 anos.

Sobre o PPP
O PPP visa apoiar a aquisição, instalação, modernização, ampliação ou recuperação da infraestrutura de pesquisa científica e tecnológica nas instituições públicas e particulares de ensino superior e/ou de pesquisa sediadas ou com unidades permanentes no Estado de Amazonas, visando dar suporte à fixação de jovens pesquisadores e nucleação de novos grupos, em quaisquer áreas do conhecimento.
Valor do Projeto: R$ 25.843,50.

Ulysses Varela – Agência Fapeam

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