Sucesso não depende apenas de resultados positivos, diz pesquisador


Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e atual membro da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Niro Higuchi é um cientista renomado no campo das Ciências da Terra no Amazonas. Coordenador de projetos sobre Manejo Florestal, Dinâmica de Carbono do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologia de Madeiras da Amazônia (INCT- Madeiras da Amazônia), ele ajudou na elaboração de vários relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC); e foi um dos ganhadores do Prêmio Nobel da Paz de 2007.

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Niro disse que o sucesso na área de pesquisa não depende apenas de resultados positivos; às vezes, resultados negativos são mais impactantes do que os positivos.

Com um currículo exemplar, Niro diz que acredita que pode servir de exemplo para muita gente. “As pessoas poderiam ver em mim que se o Niro pôde, qualquer um pode também. É tudo uma questão de dedicação e persistência”. Com essas palavras, o pesquisador incentiva os jovens a ingressar no campo das Ciências. A seguir, confira a entrevista concedida à Agência Fapeam.

Agência Fapeam (A.F)O que despertou seu interesse pela pesquisa?

Niro Higuchi (N.H) – O interesse veio da curiosidade natural. Depois veio a pós-graduação (mestrado e doutorado) que me ajudou a sistematizar a minha curiosidade natural. Por último, o ambiente de trabalho, no Inpa em Manaus, no meio da floresta amazônica. Trabalhar no meio de “feras” da ciência foi determinante para a consolidação do meu interesse pela pesquisa.

A.F – O senhor é reconhecido por seu trabalho de pesquisa. Quais as dificuldades encontradas?

N.H – A carreira de pesquisador, como qualquer outra, não é construída somente com flores no caminho. A diferença, talvez, esteja no fato que os fracassos podem resultar em achados importantes para o avanço do conhecimento. Para citar uma dificuldade, eu diria que a falta de avaliações de nossas pesquisas é algo que me incomoda muito.

A.F – Como o senhor avalia a sua atividade e a evolução da mesma na ABC ao longo dos anos?

N.H – Fui eleito para a área de Ciências da Terra por trabalhar com o carbono da floresta. Desde que derrubamos e pesamos a primeira árvore, em 1987, para obter a sua massa e o carbono, a evolução foi extraordinária. Este trabalho de biomassa foi uma importante credencial para participar do esforço mundial para melhor entender as questões climáticas da Terra. Como consequência desses esforços, podemos citar os vários relatórios de avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), Convenção do Clima em 1992 e o Protocolo de Quioto em 1997. Em 2007, o quarto relatório do IPCC acabou ganhando o Prêmio Nobel da Paz. O mundo ainda não conseguiu controlar o aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, mas quase tudo está equacionado para que isto aconteça.

A.F – O senhor acredita que a pesquisa científica cresceu no Amazonas? Qual a parcela de envolvimento do governo e das empresas privadas?

N.H – A pesquisa científica do Amazonas sempre foi bem reconhecida, desde os primeiros trabalhos resultantes das excursões científicas de naturalistas pela região há mais de 150 anos. Em meados do século passado, o Governo Federal começou a sistematizar os investimentos na área de pesquisa no Amazonas com a criação do Inpa (década de 1950), revitalização da Universidade Federal do Amazonas (Ufam – década de 1960) e instalação da Embrapa em Manaus (década de 1980). Mais recentemente, o Governo do Amazonas investiu maciçamente na pesquisa científica com a criação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Assim, a tendência é melhorar ainda mais e, quem sabe, o Amazonas possa ter, na mesma proporção dos investimentos, mais bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e mais membros da ABC. Infelizmente, a iniciativa privada ainda tem uma participação bem pequena no processo de produção científica.

A.F – Qual a importância da ciência na vida das pessoas?

N.H – Ciência é tudo na vida das pessoas. A ciência tem proporcionado benefícios diretos às pessoas, como: aumento da expectativa de vida humana; a produtividade da agricultura; o desempenho de atletas de esportes de alto rendimento; a mobilidade local, nacional e internacional e comunicações etc..

A.F – Hoje, o que o senhor diria às pessoas que querem seguir a área da pesquisa no Amazonas. 

N.H – O sucesso na área de pesquisa não depende apenas de resultados positivos; às vezes, resultados negativos são mais impactantes do que os positivos. O pesquisador só precisa ter a mente aberta para quaisquer resultados e estar sempre preparado para surpresas. É bom demais ser remunerado para pensar e poder operacionalizar os seus pensamentos.

 

Adriana Pimentel – Agência FAPEAM

Foto: Thalles Ataíde

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