Tartarugas são capazes de se comunicar por meio de sons, aponta pesquisa


Como centenas de tartarugas migram juntas, sobem para desovar e saem da água ao mesmo tempo? Cientistas do mundo todo acreditavam, supostamente, que elas se comunicavam através de odores expelidos na água.

No entanto, uma recente pesquisa realizada com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) pelo cientista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Richard Carl Vogt, provou que as tartarugas são capazes de se comunicar por meio de sons entre elas.

vspace=10Em dois anos de estudos, durante o projeto “Comunicação subaquática em tartarugas da Amazônia”, coordenado por Vogt, a equipe de trabalho identificou sete tipos de sons emitidos pelas tartarugas, mostrando que esses animais não só são capazes de estabelecer a comunicação por sons, como também são sensitivos ao som embaixo d’água.  

“Fizemos testes em laboratório, com animais em cativeiro e na natureza. Colocamos gravadores subaquáticos em piscinas onde só há tartarugas e registramos sons que depois foram comparados aos das tartarugas em ambiente natural”, explicou o pesquisador.

As pesquisas são realizadas com financiamento de aproximadamente R$45 mil da FAPEAM por meio do Programa Integrado de Pesquisa Científica e Tecnológica (Pipt) e apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Descoberta

Segundo Vogt, com a descoberta o comportamento desses répteis passou a ser analisado de outra maneira. “Nenhum outro país faz 10% do que o Brasil faz no Programa de Conservação e Manejo de Tartarugas na Amazônia, executado pelo Ibama, mas é primordial que essa conservação seja atrelada a pesquisas”, salientou.

Os sons gravados são de tartarugas que residem em cativeiros no município de Manacapuru (distante 68 km em linha reta de Manaus) e em piscinas do Bosque da Ciência, no Inpa.

Ele contou que os répteis não são como as araras ou papagaios que “falam” alto e repetitivamente. “O som é audível dentro e fora d’água, mas as tartarugas são pouco vocais”, comentou. O estudo está na fase final de organização dos resultados para publicação em uma revista científica internacional.

Início

vspace=10Desde os 12 anos, Vogt se mostrava uma criança interessada por anfíbios e répteis. A atenção foi voltada exclusivamente para as tartarugas no início de sua graduação.

Hoje pós-doutor em Ciências Biológicas, ele contou que o interesse em conhecer o organismo das tartarugas se deu a partir da década de 70, quando, em uma pesquisa referente aos tipos de cortejo, percebeu que o macho se aproximava da fêmea abrindo e fechando a boca, mas sem a nítida intenção de mordê-la.

“Nesse período, somente o exército possuía equipamentos subaquáticos, então foi impossível pesquisar algo in loco”, explicou o cientista que realizou pesquisas bibliográficas e não encontrou resultados que mostrassem a oralidade nesses animais.

Em 2005, durante um congresso no continente africano, Vogt conversou com outros pesquisadores a respeito do tema e conseguiu equipamentos australianos para testar suas convicções em águas amazônicas. Com os resultados preliminares, ele iniciou as pesquisas que resultaram na descoberta inédita. “O pesquisador deve ser incansável”, finalizou.

Foto 1:Testes foram feitos em cativeiro em Manacapuru (Foto: Camila Ferrara) 

Foto 2: Filhotes de tartaruga no ambiente natural (Foto: Camila Ferrara)

Camila Carvalho e Cristiane Barbosa – Agência Fapeam

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