Tratamento da leishmaniose será personalizado e mais eficaz
""" A Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT-AM) está desenvolvendo um processo de diagnóstico de leishmaniose que promete mudar os métodos de tratamento da doença no Estado. A tecnologia permitirá identificar o tipo de leishmaniose a partir do exame de DNA de material retirado da ferida provocada pela doença, permitindo um tratamento personalizado e mais eficaz do que o atual, a exemplo do que já ocorre no tratamento do HIV/AIDS em todo o mundo.
A experiência foi apresentada no primeiro dia do II Workshop Internacional of Cutaneous Leishmaniasis (Workshop Internacional de Leishmaniose Cutânea), que começou às 8h desta terça-feira, 19, no auditório da instituição, na avenida Pedro Teixeira, bairro Dom Pedro I, zona Centro-oeste. O evento conta com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Os pesquisadores estimam que, até o final deste ano, o exame de leishmaniose na FMT-AM seja realizado com base na detecção do DNA do mosquito vetor da doença, por meio da técnica do diagnóstico PCR, ou seja, da reação em cadeia pela polinerase (PCR é a sigla em inglês para Polinerase Chain Reaction). Atualmente, só é possível identificar a espécie do mosquito vetor quando o exame é feito até três meses após a contaminação, o que nem sempre acontece.
De acordo com Sinésio Talhari, médico pesquisador do FMT-AM, com base no DNA, os médicos poderão saber qual espécie de mosquito vetor infectou determinado paciente e o nível de infecção pela doença, permitindo um tratamento personalizado, mais rápido e eficaz. “Ao saber qual o vetor e o nível de infecção, o médico pode fazer melhor uso dos medicamentos no combate aos sintomas da doença, acelerando o processo de tratamento”, explica.
A leishmaniose é originalmente uma doença da floresta, com baixa incidência nas zonas urbanas. Porém, segundo Talhari, a expansão desordenada da cidade de Manaus está provocando aumento de casos na periferia, especialmente nas invasões. Nessas áreas, há registros de infecções por quatro diferentes espécies de vetores, daí porque a identificação do tipo de leishmaniose será fundamental para evitar maior incidência na cidade.
A técnica de PCR já é aplicada em países de primeiro mundo, como Alemanha e Holanda, que assinaram acordos de cooperação técnico-científica cuja aplicação vai permitir a inovação do tratamento na FMT-AM. “Estamos fazendo a pesquisa com 75 pacientes e acreditamos que, até o final do ano, vamos implantar esse procedimento na fundação”, diz Talhari.
As pesquisas sobre leishmaniose estão sendo desenvolvidas na própria FMT-AM em cooperação técnico-científica com institutos de países membros da Comunidade Européia. “Esses países ampliaram seus interesses no estudo da leishmaniose devido à participação militar de nações européias nas guerras no Oriente Médio, onde há alta incidência da doença”, explica Sinésio Talhari.
Pesquisadores de instituições parceiras participam do workshop, que encerra-se na sexta-feira, 22. Estão presentes pesquisadores da Alemanha, Holanda, Suriname (Guiana Holandesa) e dos estados da Bahia e Espírito Santo. O evento possibilita a troca de informações sobre as pesquisas ligadas ao tema. “Exatamente por essa razão, o workshop é de extrema relevância para o Amazonas”, afirma Elisabete Brocki, dretora técnico-científica da Fapeam.
De acordo com o patologista Luís Ferreira, coordenador do evento, a expectativa é que novos acordos técnico-científicos sejam firmados no decorrer do workshop. “Nosso propósito é fazer projetos de pesquisa compartilhadas com essas instituições desses países, com apoio da Comunidade Européia”, afirma.
Na abertura, a direção da FMT-AM também anunciou acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS) no valor de R$9,7 milhões, que serão investidos em infra-estrutura, compra de insumos para pesquisa e recursos humanos.
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