UEA vislumbra novas perspectivas para o Ensino Superior no Amazonas
03/01/2012 – Na edição número 22 da revista Amazonas Faz Ciência trouxemos uma entrevista especial sobre os 10 anos da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Na entrevista o reitor da instituição, José Aldemir Oliveira, fala sobre a criação da cultura de Ensino Superior descentralizado no Estado, levando em consideração sua dimensão geográfica e as peculiaridades culturais distribuídas em 62 municípios. Nos últimos dez anos, a UEA passou de um público de 5 mil para 23 mil alunos; atuou em áreas prioritárias como educação, saúde e tecnologia; mais de 15 mil professores já foram formados pela instituição e estão atuando em praticamente todo o Amazonas. Para os próximos anos, são muitos os planos de consolidação por meio da efetivação de um quadro de professores e da capacitação destes para promover a pós-graduação dentro do Estado. A criação da Cidade Universitária na margem direita do Rio Negro – meta do governo Omar Aziz, vai trazer nova infraestrutura e perspectivas para a comunidade acadêmica realizar suas atividades com qualidade e os primeiros passos na criação de uma cultura de pesquisa com o apoio de empresas privadas, como já vem acontecendo nos países de primeiro mundo. José Aldemir destaca que nesses últimos dez anos, a UEA promoveu a realização de sonhos, especialmente do homem do interior, que agora pode ter acesso a um Ensino Superior de qualidade, o que ele julga imensurável.
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Amazonas Faz Ciência >> A UEA foi criada para suprir uma demanda do Estado. Era preciso criar uma instituição para corresponder às expectativas do Amazonas, levando em consideração as suas peculiaridades. Como o senhor avalia a atuação da instituição nesses dez anos?
José Aldemir >> A finalidade de uma universidade é a formação de recursos humanos especialmente no nível do Ensino Superior e da Pós-Graduação, de forma a completar o ensino de boa qualidade, a execução de pesquisa e extensão. Eu diria que nesses dez anos a UEA prestou um importante serviço à sociedade amazonense, especialmente na formação de pessoas. Eu destaco três áreas que são fundamentais para o desenvolvimento de uma nação, nas quais atuamos com primor:
a) Educação – neste período nós tivemos um rigoroso programa de formação de professores por meio do Proformar, que já certificou cerca de 15 mil professores, desde a criação da UEA. Os nossos quatro centros e mais 11 núcleos instalados em cidades estratégicas têm o forte objetivo de incentivar a formação de professores, especialmente no interior.
b) Saúde – Temos um relevante papel para a formação de recursos humanos na saúde nas áreas de moiedicina, odontologia e enfermagem. Nós reservamos 50% das vagas exclusivamente para pessoas oriundas do interior. Nosso objetivo é formar profissionais, para que retornem aos seus lugares de origem que estejam sempre ligados à realidade amazônica, do ponto de vista cultural e de conhecimento.
c) Tecnologia – Após a aquisição da antiga Utam, transformada em Escola Superior de Tecnologia (EST), formamos mão de obra para as engenharias voltadas ao Polo Industrial de Manaus (PIM). Aos poucos ampliamos para outras diversidades, para dar conta das especificidades tecnológicas locais, como as áreas de Biotecnologia e Engenharia Naval.
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AFC>> A característica marcante da UEA é a interiorização. Nesses 10 anos, a Instituição de Ensino Superior (IES) priorizou o desenvolvimento do interior do Amazonas por meio do investimento em tecnologias voltadas às peculiaridades da Região Amazônica, de acordo com as potencialidades dos 62 municípios. O que o senhor tem a dizer sobre essa estratégia de avanço do Ensino Superior em nosso Estado?
JA>> Num processo de reestruturação administrativa, nós criamos a Pró-Reitoria Adjunta de interiorização, que tem a missão de expandir as nossas ações para o interior do Estado, com vistas a atender a nossa realidade, de acordo com as especificidades de cada um dos municípios. Nós podemos dividir a história da UEA em três momentos: implantação, expansão e consolidação. Depois de termos passado de um universo de 5 mil para 23 mil alunos, estamos vivendo o momento da consolidação, e é importante respeitar as especificidades, afinal estamos tratando de um Estado que é a maior unidade territorial do Brasil, com cerca de um 1,5 milhão de quilômetros quadrados. Nessa fase de consolidação, precisamos oferecer verticalmente cursos de acordo com as especificidades, manteremos também os cursos de licenciatura. Nessa perspectiva, estamos oferecendo pela primeira vez um curso de bacharelado em saúde coletiva. O diferencial é que vamos gerar as aulas de Manaus para turmas de 20 municípios, por meio de teleaulas, com uma tecnologia de vídeo via internet que permitirá que as aulas sejam transmitidas em tempo real. Dependendo do sucesso desse curso, já estamos pensando em expandir para outras áreas de saúde direcionadas, também, ao interior do Amazonas. Pretendemos, ainda, criar outros cursos, para oferecer à distância visando suprir uma demanda que ainda existe no nosso Estado.
AFC>> A UEA faz parte do Sistema Estadual de C&T, implantado no início dos anos 2000. Como tem sido a participação da universidade dentro desse processo de desenvolvimento científico no Amazonas?
JA>> Muito sabiamente o Governo do Estado vinculou a UEA à Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect) em 2003, e, na mesma época, criou a Fapeam. Nós podemos dividir a história da Ciência, da Tecnologia e do Ensino Superior do Amazonas, antes e depois da Fapeam. Hoje os nossos projetos de iniciação científica e os grupos de pesquisa são majoritariamente financiados pela FAP. Portanto, a Fapeam e a Sect são fundamentais nesse processo de expansão e de consolidação da UEA. Quanto às pesquisas realizadas na UEA, como impulso de geração de políticas públicas de C&T para o Amazonas, eu destacaria, dentre os projetos estruturantes que têm o apoio da Sect e da Fapeam, o INCT Centro de Energia, Ambiente e Biodiversidade, ligado ao nosso curso de Biotecnologia.
AFC>> Em relação aos investimentos que foram direcionados à UEA, o que é possível destacar nesses últimos anos e como expandir ainda mais os investimos para a educação superior no Amazonas?
JA>> Hoje, 98% dos recursos da UEA provêm do Tesouro Estadual, nós precisamos diminuir essa dependência e o caminho é nos capacitarmos para captar recursos das agências nacionais. Toda a infraestrutura da UEA é bancada por recursos próprios e nós precisamos buscar outros recursos para a pesquisa no nosso Estado. Hoje também já contamos com o financiamento de uma empresa privada, a 3M, que está financiando um laboratório de estomatologia na nossa Escola Superior de Ciências da Saúde, mas sabemos que precisamos captar mais recursos dessa ordem. É importante compreender que a UEA é um patrimônio da sociedade, então, como tal, nós precisamos que a sociedade participe ainda mais por meio da iniciativa privada e de seus investimentos que vão possibilitar pesquisas voltadas a nossa realidade, por meio da criação de laboratórios e desenvolvimento de projetos.
AFC >> Depois desses 10 anos e das conquistas obtidas no Amazonas por meio da UEA, quais são os planos da instituição para o futuro?
JA>> Primeiro pretendemos consolidar o nosso quadro de professores até o final de 2012. Após essa consolidação do quadro pessoal da instituição, pretendemos apostar numa rigorosa política interna de qualificação dos nossos professores, e com isso, ampliarmos a nossa pós-graduação. Nos próximos três anos, nós também temos que realizar uma ousada empreitada do governador Omar Aziz, que é consolidar a infraestrutura da UEA num só local, numa cidade universitária a ser levantada à margem direita do Rio Negro. Teremos também uma reestruturação das nossas unidades acadêmicas e um rigoroso processo de reestruturação interna, buscando visar o processo democrático da instituição, estendendo isso também ao interior.
AFC >> O que é possível destacar sobre essa criação de uma cultura descentralizada de Ensino Superior no Amazonas?
JA>> A nossa instituição tem muitos números que mostram as conquistas nesses últimos 10 anos, mas tem algo que não temos como mensurar que é a possibilidade que a UEA deu e dá às pessoas: a liberdade de sonhar, especialmente aos amazonenses do interior. Hoje quando chegamos no interior, as pessoas nos relatam os sonhos de estudar ou terem seus filhos estudando na UEA, isso nos dá a motivação para continuar caminhando e perseguindo um ensino de qualidade, trabalhando para que nossos cursos sejam referência. Na última pesquisa realizada pelo Guia do Estudante Brasileiro, o curso de Odontologia da UEA obteve a nota máxima e isso é muito importante para uma universidade que tem apenas 10 anos, isso torna a universidade mais conhecida. Portanto, destaco nesses últimos dez anos essa possibilidade, principalmente para as pessoas do interior, de sonhar em ter acesso a um Ensino Superior de qualidade.
Edilene Mafra – Agência FAPEAM