Unicamp registra 500ª patente no Inpi


A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) atingiu a marca de 500 patentes vigentes registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). A Unicamp é a maior patenteadora do Brasil entre empresas, universidades e institutos de pesquisa.

A 500ª patente, depositada no dia 10 de dezembro, refere-se a um creme à base de insulina para tratar lesões ulceradas principalmente em portadores de diabetes. O produto foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) pelo médico Mário Saad e pela enfermeira Maria Helena Melo Lima.

Segundo o diretor executivo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), Roberto Lotufo, o depósito histórico comprova que a Unicamp é uma universidade moderna que acompanha uma tendência mundial. O sucesso se concentra principalmente na área de química.

“O diferencial é uma política de propriedade intelectual que vem desde o fim da década de 1980. Diversas unidades, sobretudo o Instituto de Química – responsável por mais de 40% das patentes da Unicamp –, concentram pesquisadores de primeira linha com visão muito sinérgica do relacionamento universidade-empresa. Trata-se de um quadro bastante alinhado com o cenário internacional”, disse à Agência FAPESP.

Apesar da liderança, Lotufo considera o número ainda pequeno. “Se compararmos com o MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos], veremos que temos um longo caminho a percorrer. Eles depositaram 314 patentes apenas em 2007 e fecharam 85 licenciamentos, enquanto nós depositamos cerca de 50 com oito licenciamentos fechados”, comparou.

Para se aproximar do padrão dos países mais desenvolvidos, a Inova trabalha não apenas com o aumento quantitativo, mas com a melhoria na qualidade dos depósitos. “Somente assim conseguiremos aumentar o número de licenciamentos e alcançar nosso maior objetivo, que é colocar os resultados da pesquisa a serviço da sociedade”, afirmou.

De acordo com Lotufo, também professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp, o retorno financeiro das patentes para a universidade é um aspecto secundário em relação a seu significado na transferência de conhecimento da universidade para a sociedade.

“O que buscamos no licenciamento são parceiros que venham a desenvolver a tecnologia que se encontra em estágio embrionário. Em cada licenciamento fechado, comemoramos a chance de ter mais um produto ou processo que será disponibilizado para a sociedade. Mas esse sistema é custoso e demorado. A empresa precisa investir por vários anos até que a inovação seja concretizada”, disse.

A arrecadação anual da Unicamp com royalties de patentes licenciadas gira entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. Muito pouco comparado com o orçamento da instituição, que em 2007 superou o R$ 1 bilhão.

Embora seja positivo para a Unicamp, o fato de uma universidade ser a campeã brasileira de patentes pode ser considerado um problema, de acordo com Lotufo. Nos países desenvolvidos as patentes se concentram no setor industrial privado.

“É um problema que demonstra a menor capacidade industrial do país em acompanhar o desenvolvimento tecnológico que ocorre no exterior. Se, quando nos comparamos com o MIT, vemos que existe um longo caminho a percorrer, imagine como devem se sentir as empresas no Brasil, que estão muito mais longe ainda”, afirmou.

Como exemplo, Lotufo cita a sul-coreana Samsung, que em 2006 depositou cerca de 6,5 mil patentes apenas no Escritório de Patentes e Marcas dos Estados Unidos. “Mas é importante deixar claro que as razões de patentear na universidade são totalmente diversas das razões nas empresas. No nosso caso, um dos objetivos é a difusão da tecnologia”, destacou.

Com a patente, segundo o professor, a tecnologia embrionária fica mais atraente para uma empresa investir em seu desenvolvimento. “Temos casos concretos na Unicamp em que o investimento somente ocorreu pela existência da patente.”

Outro objetivo, de acordo com Lotufo, é estimular a disseminação da cultura de patentes, fazendo com que mais pesquisadores consultem os bancos de patentes como complementação de suas pesquisas.

Tratamento de lesões

O trabalho de desenvolvimento do creme de insulina para tratar lesões ulceradas em diabéticos, que deu origem à 500ª patente da Unicamp, contou com recursos da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O trabalho de Saad e Maria Helena começou com uma pesquisa sobre como a insulina – hormônio natural do corpo humano, mas deficiente nos diabéticos – poderia agir na pele para acelerar a cicatrização. Como estudos mostraram que na ferida do diabético faltava a ação da insulina, os cientistas procuraram restaurar essa ação com um creme local.

Durante a fase experimental, foram induzidas feridas de tamanho padrão em ratos saudáveis e em diabéticos. As lesões dos animais saudáveis levaram em média nove dias para cicatrizar completamente; nos diabéticos, o prazo foi de 15 dias. Quando os animais doentes foram tratados com o creme de insulina, o tempo de cicatrização caiu para nove dias, como nos saudáveis.

O creme também restaurou nos ratos diabéticos a atividade das proteínas usadas pela insulina para mandar sua mensagem às células. Outra descoberta importante foi a de que o organismo dos ratos não absorveu a insulina contida no creme, fato que elimina o risco de efeitos colaterais como a hipoglicemia nos pacientes diabéticos.

O tratamento desse tipo de lesão pode ser feito hoje com fatores de crescimento importados de alto custo. Segundo os pesquisadores, os resultados do primeiro teste clínico, que vem sendo feito com 15 pacientes, são animadores. O próximo passo é conduzir um teste maior, envolvendo cerca de cem pessoas.

Agência Fapesp

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