Pesquisa científica subsidia gestão de Unidades de Conservação


Gerar informações que possam subsidiar os gestores das Unidades de Conservação (UC’s) e, ao mesmo tempo, aprimorar o Sistema de Monitoramento da Biodiversidade (SIMBIO). Estes são alguns dos objetivos do projeto de “Monitoramento de biodiversidade em unidades de conservação: uma experiência piloto no Parque Nacional do Jaú”, o qual está sendo desenvolvido pela Organização Não-Governamental Fundação Vitória Amazônica (FVA) em parceria com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O SIMBIO é um sistema baseado na idéia de que as atividades humanas exercem pressões sobre o meio ambiente que afetam a qualidade e a quantidade de recursos naturais, de forma a produzir respostas da sociedade às alterações e preocupações ambientais.

A meta é que o sistema seja executado continuamente no Parque Nacional do Jaú (PNJ), com revisões periódicas. Isso porque o parque é uma Unidade de Conservação de proteção integral, onde o assentamento de populações humanas não é permitido. Pela atual legislação ambiental, todos os moradores do PNJ têm direito ao reassentamento e à indenização pelas suas benfeitorias. Entretanto, até hoje, os recursos necessários para a ação e indenização dos moradores não estão disponíveis.

“A FVA e o IBAMA estão estabelecendo, em conjunto com os moradores, normas e ações específicas que conciliem a presença das pessoas à conservação da biodiversidade do Parque, o qual possa ser agregado ao SIMBIO”, explica o coordenador do projeto pela FVA, Sérgio Henrique Borges.

O pesquisador informa que o sistema ainda não está consolidado como outros projetos de monitoramento da biodiversidade da Amazônia, por exemplo, o Programa de Pesquisas em Biodiversidade (PPBio), o qual já possui grades de monitoramento. Ele diz que um pouco da experiência do PPBio está sendo incorporado ao sistema. Segundo Borges, a pesquisa irá trabalhar com quatro grupos taxonômicos: aves; mamíferos; palmeiras; e borboletas.

“A idéia do projeto é fornecer o máximo de informações possíveis sobre os quatro grupos taxonômicos e como as populações humanas, que vivem no parque, interagem com eles. Isso é fundamental porque a UC demanda um tipo de conhecimento para ser gerenciada e o pesquisador pode contribuir para essa finalidade”, ressalta Borges.

Hoje, de acordo com o pesquisador, a equipe conseguiu recursos por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) para montar uma base de pesquisa e comprar equipamentos. Além disso, 70% das trilhas utilizadas para o acompanhamento da biodiversidade já foram instaladas. As áreas que serão estudadas foram definidas conforme a geologia, diversidade de vegetação, paisagem e presença humana.

Parcerias com os moradores

Segundo Borges, o PNJ fica distante de Manaus 280 km, o que dificulta o deslocamento dos pesquisadores e acompanhamento do trabalho. Por isso, a idéia é capacitar os moradores para que eles possam ajudar no monitoramento da biodiversidade. Ele disse que os comunitários podem ajudar no levantamento do processo de produção de frutos e folhas das palmeiras, coleta de borboletas, manejo de armadilhas etc. Apesar da parceria ainda não ter sido oficializada, o pesquisador ressaltou que eles já estão ajudando nos estudos de campo.

Pesquisa subsidia gestão de UCs

Hoje, existem linhas de pesquisa que podem migrar a informação científica diretamente para os gestores das UC’s. Borges citou como exemplo o caso dos quelônios e das ariranhas do PNJ. Os quelônios estão sendo pressionados e a caça tem sido intensa. Por isso, se há um sistema de monitoramento, por exemplo, o SIMBIO, que ajude a entender o comportamento e os possíveis impactos é possível elaborar um plano de manejo. Em relação às ariranhas, elas são procuradas pelos turistas como atração. Então, é fundamental monitorar as populações de ariranha e avaliar se as mesmas estão sendo afetadas de alguma forma.

Um dos usos dos Parques Nacionais é para visitação pública. Contudo, esse tipo de atividade no PNJ é muito baixo, mas a pesquisa científica pode contribuir para o aumento do número de visitantes. “Quando bem orientado a visitação não prejudica o meio”, orienta e acrescenta que as UC’s também ajudam a diminuir as queimadas na Amazônia, conseguem barrar o desmatamento. Mas Borges destaca que não se pode criar UC’s sem serem pensadas.

“O processo de gestão das UC’s envolve planejamento, fiscalização, implementação, visitação, pesquisa científica e educação. Cada um tem sua importância! Isso porque, teoricamente, as UC’s teriam que se auto-sustentar, mas para isso é preciso uma estrutura mínima”, informa.

Luís Mansuêto – Agência Fapeam

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