A vida na Amazônia como fonte da pesquisa científica


Os pesquisadores da região amazônica devem desenvolver métodos de pesquisa que contemplem a complexidade da região, dotando de sistematização essa capacidade de campos de estudo na região baseada na convivência entre homem e natureza e por amor à Amazônia.

Quem afirma é o pesquisador João de Jesus Paes Loureiro, doutor em Sociologia da Cultura, que ministrou a aula inaugural dos programas de pós-graduação do Instituto de Ciência Humanas e Letras (ICHL) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no início da semana.

João Jesus Paes Loureiro falou sobre o tema “Amazônia: Identidade/Idenficações”. Para ele, os pesquisadores da região podem contribuir para o desenvolvimento científico da e para a região, construindo métodos de pesquisa baseados na vivência pessoal.

“A comprovação científica não é olhar para fora, mas olhar para dentro, aplicando os conhecimentos adquiridos. É necessário universalizar o pensamento para aplicar no seu lugar”, disse Paes Loureiro, referindo-se ao lugar onde vive o pesquisador.

Entretanto, afirma Paes Loureiro, o número de pesquisadores ainda é baixo para desenvolver estudos suficientemente abrangentes à Amazônia, resultado de anos de defasagem na oferta de programas de pós-graduação na região. “Ainda não temos intérpretes na dimensão e profundidade de que a Amazônia precisa”.

Os pesquisadores que vivem na Amazônia teriam, então, como um dos principais desafios da atualidade compreender as transformações sociais provocadas a partir do desenvolvimento e do acesso às novas tecnologias.

“Vivemos uma época de construções e desconstruções da identidade, quando o imaginário tem uma força singular, possibilitando que se viva mais de uma vida possível por meio da tecnologia”, explica, referindo-se ao denominado mundo virtual.

Esse espaço – universo virtual – está baseado em sistemas de comunicação que forçam a interlocução entre criações “translocais” e locais – como as comunidades virtuais, os perfis publicados na internet e blogs – permitindo a recriação da relação entre os modos de comunicação, deslocamento e imaginário. “A quebra de barreiras de expressão é uma característica do nosso tempo”, afirma.

Outro aspecto importante desse processo de compreensão e desenvolvimento da pesquisa, de acordo com Paes Loureiro, é considerar o aspecto mitológico originais à região. Esses mitos explicam a utopia social, diz o pesquisador.

“A mitologia amazônica cumpre papel tão importante quanto a grega. A diferença é que aquela veio filtrada por autores, como Homero, enquanto nós recebemos diretamente da fonte (pescadores, agricultores da várzea, por exemplo). Por isso, antes de tudo, a fantasia é uma prática social”, explica.

ICHL oferece cinco novos mestrados

A aula inaugural dos programas de pós-graduação do ICHL marcou o início das aulas da primeira turma de cinco novos cursos de mestrado – História, Antropologia, Serviço Social, Sociologia e Geografia.

O semestre também começou para os mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura, o mais antigo do ICHL, aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 1998. Neste ano, o programa comemora a aprovação do doutorado em Sociedade e Cultura, no último mês de julho.

Todos os programas de pós-graduação do ICHL têm apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

Sobre o palestrante

João de Jesus Paes Loureiro é paraense de Abaetuba. É escritor, poeta e professor no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Tornou-se doutor em Sociologia da Cultura pela Universidade de Sorbone, em Paris, na França, em 1990.

 

Michelle Portela – Agência Fapeam

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